O poder.

Está quebrado.

"NÃO!"

"Isso não vai acontecer, não novamente."

E os extintos, que como o mal, fizeram do homem querer fugir dele próprio se tornaram as motivações que me fizeram mais forte. Assim sinto o vazio escorrendo pelas minhas artérias e nos tornando apenas um, somos mais que a noite, somos o tudo e o nada. Então, ele me dá sua vasta magnitude e eu dou a ele minha visão; tudo fica turvo e todas as cores aos poucos se tornam apenas ele.  — Nada.

Minha cabeça está girando, estou tonto. Sinto algo quente escorrendo pela minha cara... Isso são lágrimas? Não... O nada me ensinou que isso não existe e sim a dor, aquela tão intragável que por uma boca sufocada o único meio possível de escarrá-la se dá pelos olhos.

"Chega! Não pense em nada". Eu digo para mim mesmo, mas como não pensar em nada quando ele é tudo? Não saber a resposta é pior que uma estaca no peito, pois eu sinto no espírito que estou falhando e isso tortura o meu ser; por fim sendo moldado às mãos do pecado acabo me deixando ser carregado pela euforia da insanidade.

Ouço as vozes gritando ao fundo da música mortal que é a vida, mas isso me tranquiliza. Sorvendo a doçura da sua amargura vejo suas cores escuras, tão claras quanto o reflexo do sol. Tocando na sua textura, tão suave que gruda nos dedos, vamos a passos largos nessa dança lenta que só nós entendemos o ritmo frenético quando toca os nossos pensamentos.

Do mais profundo sono tudo há um fim e enfim eu acordo.

Algo quebrou.

O mundo quebrou e esse é o problema.

Dos sonhos ao pesadelo, dos pesadelos ao sonho, eu sonho... Sonho... Sonho tanto que parece real.  — Ou será que eu vivo o real que parece um sonho?

Desta vez estou preparado, sairei das fantasias em busca da realidade. A caminho da porta pego as minhas coisas; então saio ao rumo da caça noturna. Como a carne é fraca, gosto daqueles mais desenvolvidos, pseudoempáticos, falsos moralistas, de caráter pútrido, ébrios pela corrupção do sistema... Criado por nós mesmos. Esses são aqueles que sentem medo dos justos, do conhecimento, da verdade desmascarada, da realidade.  — Esses são os meus favoritos.

De longe eles eram manchados pelo sangue de inocentes, pobres, minorias, sem voz e sem lugar neste mundo sórdido. De perto as marcas da tentativa de apagar o crime eram perceptíveis, uma transgressão que acabara de ser descoberta; proibidos de fianças e defesas, havia apenas um habeas corpus possível nesta instância. E somente eu sou capaz de ser o justo, trazendo à tona a suas vidas a única verdade que jamais conheceram e fazê-los senti-la quando se esgotou o deleite da sua devassa vitalidade: a morte.

O reconhecimento bastou em suas existências, pois no momento que as minhas ferramentas perfuraram; rasgaram e dilaceraram os seus corpos, as almas se esvaíram e presas à integridade que um dia eles acreditaram ter, escorreram misturadas ao sangue carmesim de suas veias e artérias. Um show horrendo que tornava inviável discernir o que poucos minutos antes fora seus rostos sujos, não por mim, mas pelo mundo tirano que criaram em suas cabeças frágeis, miseráveis, ignóbeis.

Chegava a ser ridículo ver eles pedindo piedade, expondo os seus amores pela família e falando em palavras humildes o quão comedidas suas vidas eram.  — Sendo que nunca foram.

Hipócritas! Isso que sempre foram e continuarão sendo. Pois, como na metade dominante de um gene doente esse morbo irá se perpetuar, passando de geração e como qualquer vírus sua única solução se torna apenas a extinção.

Do Outro LadoWhere stories live. Discover now