Mas, então, ele escutou os grunhidos de choro de Im Changkyun.

Sofridos, desesperados, não havia barreiras em seu pranto alto e doloroso, todas as suas emoções de desespero, culpa e angustia sendo colocadas para fora. Ele estava vivo, sofrendo como nunca, mas indiscutivelmente vivo. Tudo o que Kihyun pensou com aquela constatação foi que precisava chegar até ele, precisava protegê-lo do seu próprio caos e - causando-lhe tremores de medo e desespero - ele precisava saber o que havia acontecido naquele beco para Im Changkyun estar daquela forma. Suas primeiras teorias a respeito daquele choro angustiado voltaram-se para Wonho. Não conseguia ouvi-lo, nenhum grito de dor, nenhuma súplica, absolutamente nada. Assim como precisava chegar até Im e ajudá-lo, Kihyun precisava constatar desesperadamente que o enfermeiro estava bem, que aquele silêncio tinha outra explicação óbvia e ele apenas não conseguia enxergá-la em meio ao seu pânico.

Todos aqueles pensamentos não ocuparam seu tempo, Kihyun em nenhum momento parou de visualizar meios de chegar até os dois o mais rapidamente possível. Ele podia apoiar-se na parede de um dos prédios comerciais – infelizmente fechado e vazio durante aquele dia –, usar o concreto firme como um apoio para guiar-se até o interior do corredor e alcançar os dois homens. Ainda assim, Kihyun tinha, aproximadamente, dez passos complicados e longos para dar entre o carro e o prédio. Dez passos que não teriam sido nada há quatro anos atrás, mas que agora pareciam uma caminhada eterna no deserto, que doeriam como caminhar sobre o fogo. Ele, no entanto, decidiu que não seria aquele curto trajeto que o pararia. Seu pé direito arrastou-se para frente, firme, a força ainda estava em seus músculos. Quando finalmente moveu o esquerdo, perdendo o apoio do carro, Kihyun arregalou seus olhos, assustado com a súbita sensação de estar sozinho.

Ele imediatamente constatou que precisava ser rápido, a cada novo segundo os músculos de suas coxas doíam mais e suas canelas tremulavam. Com aquela decisão, Kihyun passou a mover seus pés rapidamente, praticamente tropeçando em cada novo passo, a respiração difícil enquanto ele precisava lidar com a falta de equilíbrio, o medo e a fraqueza de seu corpo. Suas mãos foram para frente, quase que de maneira instintiva. Ele estava preparado para cair a qualquer momento. No entanto, enquanto não sentia o chão engolindo-o, Kihyun continuava em frente, sua visão focada em uma única coisa: na parede de concreto vermelha cada vez mais preto. Mais dois passos e ele estaria lá, mais dois passos e ele finalmente poderia ajudá-los... Quase gritou de dor e alívio ao mesmo tempo quando suas mãos se chocaram contra o muro e seus joelhos finalmente cederam, o impacto de sua pele desnuda das panturrilhas e joelhos em contato com o chão frio ardia e machucava. O desespero, entretanto, fazia com que aquela dor fosse insignificante, um mero contratempo, Kihyun não se deteve nela. Estava agora ao lado daquele beco e absolutamente nada ou ninguém o pararia.

Precisou usar muito a força nos membros superiores para arrastar-se para frente, os braços finos buscando apoio no chão e puxando seu corpo para dentro daquele lugar escuro e fétido. As palmas delicadas de suas mãos sendo perfuradas por pequenas pedrinhas, o cheiro do sangue que sentia podia vir das feridas dos seus recente machucados ou, ainda, de Wonho ou Changkyun. Aquela ideia o fez querer vomitar, chorar incessantemente, mas ele continuou em frente. Quando finalmente passou pelo prédio industrial e estava de frente à escuridão – literal e metafórica – que aquele lugar estava, Kihyun arregalou seus olhos e, em uma fração de segundos, sentiu as lágrimas em seus olhos inundarem seu rosto. Seu desespero anterior não parecia nada quando comparado ao pânico que sentiu ao colocar seus olhos em Im e Hoseok.

Posicionou-se ao lado de ambos o mais rápido que conseguiu, suas pernas recuperando as forças para que ele se colocasse de joelhos e engatinhasse em direção aos dois. Enquanto se aproximava, seus olhos molhados tentavam encontrar alguma resposta minimamente positiva e esperançosa no meio do caos daquela situação. Changkyun estava ao lado do corpo de Wonho, encolhido em posição fetal, chorando tanto que seu corpo dava solavancos gritantes, espasmos de medo e dor que percorriam todos os seus músculos e o faziam ter dificuldade para respirar. Seu rosto estava visivelmente machucado, os hematomas podiam ser vistos mesmo a meia luz, seus braços envolviam seu corpo em uma vã tentativa de estabilizar e sangue escorria por suas mãos trêmulas. O que provava que ele havia tocado no corpo cada vez mais ensanguentado e pálido de Shin Hoseok.

Flores de Inverno ♡ changkiWhere stories live. Discover now