Capítulo 30

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Lucas

Observei o rosto calmo da garota ao meu lado, estávamos deitados na sua cama há uns 2 minutos em silêncio. Seus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro fazendo com que alguns fios chegassem até próximo ao meu pescoço me causando um arrepio.

– Na verdade, eu nunca conversei sobre as minhas insônias com ninguém. O motivo delas. – ela falou baixinho chamando minha atenção.

– Tudo bem se não quiser falar, eu vou entender. – levei minha mão até seu rosto fazendo um carinho na sua bochecha, o que fez a loira fechar os olhos aproveitando do meu toque.

– Começou no meu último ano do ensino médio, eu me sentia meio pressionada por não ter ideia do que faria de faculdade. – ela entrelaçou nossos dedos sem me olhar, os apertei de leve para que ela continuasse – Mas, até então, era só isso. Eu perdia noites e finais de semanas para ficar estudando, mesmo sem saber o que eu faria no final do ano.

Ela ficou em silêncio e eu entendi que não era só aquilo. Puxei-a para mais perto de mim a abraçando, tentando demonstrar que ela podia confiar e que estava tudo bem naquele momento.

– Depois das férias da metade do ano eu continuei perdida. – ela voltou a falar bem baixo e com a voz embarcada, como quem segurava o choro – Mas, foi em agosto que tudo desandou mesmo. Eu sempre fui muito apegada na minha madrinha, ela era minha segunda mãe. Foi ela quem me cuidou quando eu era criança e que dava os conselhos na minha adolescência. No final do mês de agosto, ela sofreu um acidente de carro, dois garotos bêbados bateram nela. Ela não resistiu.

Abracei ela com força quando senti meu braço molhar e ela fungar, acariciei os cabelos dela devagar passando os dedos entre os fios claros, dando um beijo neles antes dela respirar fundo e voltar a falar.

– Eu não sei por que, mas fui eu que recebi a ligação com a noticia. Assim que cheguei ao local, o corpo ainda estava no carro preso às ferrugens. – ela se remexeu inquieta ao meu lado me fazendo afrouxar o abraço para que ela pudesse me olhar – Quando me ligaram, eu não acreditei, não podia ser verdade, não com ela. Quando eu vi aquela imagem eu fiquei em choque, eu gritei, chorei e tentei ligar para ela na esperança de ser só mais um sonho ruim.

– Eu sinto muito! – falei baixinho dando um beijo na testa dela que tentava limpar as lágrimas que insistiam em cair.

– Desde esse dia eu tenho pesadelos com a morte dela. Antes eu não dormia por causa da insônia, depois sempre que eu fechava os olhos eu via aquela imagem ou alguma lembrança de nós juntas. Passei a tomar remédio pra dormir, o que me ajudou muito.

Ela fez uma pausa passando a palma da mão no rosto vermelho, arrumei seu cabelo atrás da orelha. Eu não sabia o que falar ou o que fazer. Eu não fazia ideia do que ela já tinha passado.

– Me desculpa por te fazer lembrar disso. Eu sinto muito mesmo. – ela concordou com a cabeça e se aproximou de mim novamente me abraçando pela cintura e fechando os olhos.

– Sabe por que eu escolhi fazer Direito? – ela sussurrou depois que ouvimos a porta do apartamento ser aberta indicando que a Maria Eduarda havia chegado. Neguei com a cabeça sem cessar os movimentos circulares que eu fazia nas suas costas com as pontas dos dedos – Os dois garotos do acidente foram julgados e inocentados. Eles estavam bêbados e não tinham carteira de motorista, mas mesmo assim, não levaram a culpa pela morte dela. Eles eram ricos e, possivelmente compraram a justiça. Eu não quero que isso aconteça com outras famílias.

– Aposto que a sua madrinha está orgulhosa de quem você se tornou.

– Eu sei que está.

A Julia aproximou o rosto do meu pescoço e me abraçou com mais força na medida em que sua respiração voltava ao normal. Já passava da 1hr da manhã quando ela dormiu, continuei ali deitado e fazendo um cafuné. Mesmo sabendo que eu teria que acordar mais cedo no outro dia por causa da faculdade, não tive coragem para ir embora, eu não podia a deixar sozinha.

Broken HeartsWhere stories live. Discover now