Lágrimas Tingidas

Afogando-se

 Não sei se é porque o que estou procurando é algo fantasiado ou se sou eu que não sou fantasiosa, portanto, o que será de mim se eu não achar sabedoria na loucura? Somente uma sobriedade incômoda, que preenche cada detalhe do meu corpo entalhado em madeira e torná-lo liso. Lixa-o e torna-o comum, prevísivel, se não é o que já me tornei.

 A minha diferença, quer dizer, se eu ainda tiver uma, não é marcada por cicatrizes, tendo em vista que nunca senti o sabor doce e salgado deste sentimento distante, mas sim, marcado pela ansiedade que reside em mim.

 Meu coração palpitante não mantém um gráfico linear, e formado por exatas ele se difere. Não de momentos em momentos. A cada segundo, a cada batida, ele se torna mais fraco e sucumbe ao seu desaparecimento.

 "Não desista"  uma pequena voz surge em meus pensamentos. Choro em pensar ser você, iludo-me a ver que é só a minha perspectiva, meu ponto de fuga, de continuar respirando. E então, afogo-me em lágrimas tingidas de Alice. Tentando nadar para a superfície torna tudo mais claro que estou sozinha. Nesse tribunal, um "cortem-lhe a cabeça" não parece ser tão maldoso, e sim, uma benção.

 E este sentimento arde, é  incrível que até os seres que procuram o silêncio, ou que se mantém nele sem se incomodar, são queimados quando aparece no momento errado. Eu tenho que respirar, hoje está mais pesado que geralmente, a fadiga que carrego em meus ombros certamente não facilita. Estou me sentindo tão perdida que somente um sábio poderia me ajudar. Uma pena então, reflito, não ter um à sua disposição quando precisa, quero dizer, sempre.

 E me afogando em minhas próprias lágrimas que tingiram de vermelho, cor de sangue, me pergunto, se realmente irá aparecer alguém para me salvar.