Flores de Inverno ♡ changki

Extraordinário

Encarou o lugar onde estava, percebendo o quanto tudo ali parecia metodicamente igual. As escadas que o levavam para cima idênticas àquelas que seguiam para baixo, as paredes e teto com o mesmo tom de branco sem graça, o chão frio revestido por um piso igualmente branco. Jooheon imaginou que não deveria estar acrescentando nenhum toque de vida e cor naquele ambiente, com seus olhos sonolentos e desanimados, o corpo estendido pelos degraus preguiçosamente e a mente longe demais. Havia permanecido tanto tempo daquela forma, completamente estático, que as luzes do andar apagaram e, se antes o lugar parecia tedioso e morto, agora ele parecia não existir mais. Ainda que sem humor, Jooheon riu consigo mesmo, lembrando-se de quando era pequeno e tinha medo do escuro. Não era raro correr para o quarto dos seus pais, chorando, temendo que pudesse desaparecer junto com todos os seus cômodos e bonecos quando a escuridão tomava conta e parecia desaparecer com tudo. Naquele momento, ela lhe parecia indiferente, mas Jooheon quis voltar a ser o garotinho que era, em que sua maior preocupação era apenas ficar sozinho em seu quarto de noite.

Quando as luzes acenderam automaticamente, por meio do captor de movimentos, Jooheon sentiu a vista arder levemente e buscou arrumar levemente a postura, com medo de estar atrapalhando o caminho de algum morador. Contudo, sem precisar virar-se para descobrir quem havia o encontrado, Jooheon percebeu que não era nenhum morador completamente insano indo descer dezenas de lances da escada pela manhã. O cheiro do perfume de Wonho era absolutamente reconhecível, principalmente quando acompanhado pelo shampoo que o enfermeiro sempre parecia usar. Era agradável, como o próprio Hoseok. E, talvez por esse motivo, Jooheon não se incomodou quando Wonho acabou com seus planos de ficar sozinho e sentou-se ao seu lado em um dos degraus estreitos.

— Kihyun está preocupado com você — "E eu também", era o que Wonho queria dizer, mas conteve-se, temendo que aquelas palavras pudessem causar alguma reação exagera ou ideia errada em Jooheon. Sabia o quão emocionado poderia parecer dizendo aquilo depois de ter feito sexo com Lee e, ainda que quisesse se aproximar do mais novo, ele sabia que ainda eram apenas conhecidos. — Você sumiu e achamos que tinha ido embora, mas o porteiro disse que você não havia passado por lá.

— Acho que perdi um pouco a noção do tempo aqui — admitiu o mais novo, o tom de voz era neutro, mas havia algo em seus olhos que deixava claro que seus sentimentos nada tinham de vazios e indiferentes. Havia algo na forma como suas mãos apertavam-se de maneira angustiada, no modo em ele mordia seu lábio inferior com força e no fato dele não conseguir manter o olhar em um único lugar por muito tempo que revelavam ao mais velho a verdade: que Lee Jooheon estava uma bagunça. Hoseok podia não conhecê-lo bem o suficiente, mas pela conversa em que tiveram no carro, em que Jooheon abriu seu coração a respeito de seus sentimentos por Minhyuk, o enfermeiro podia imaginar o motivo do mais novo estar parecendo tão aflito e perdido.

— Deve ser difícil — Hosoek não conseguiu conter suas palavras, as mesmas escapando por sua boca após alguns longos minutos de silêncio. Sua intenção inicial, assim que percebeu que o mais novo obviamente queria silêncio e um tempo para pensar, era respeitar aquele momento, calando-se e esperando que o próprio Jooheon se voltasse para si. Mas sua ansiedade para ajudá-lo de alguma forma, seus pensamentos a respeito de tudo o que estava acontecendo com aquelas pessoas que pouco conhecia – com exceção, é claro, de Kihyun e Changkyun –, fez com que as palavras simplesmente jorrassem de dentro de si. — Digo, eu percebi que você não estava muito confortável lá.

— Não, não estava — Jooheon respondeu sem humor, movendo seu corpo de forma que pudesse encarar o mais velho pela primeira vez desde que o mesmo havia aparecido. Como o lugar era pequeno, eles ficaram ainda mais próximos com aquela movimentação, a coxa direita de Jooheon esmagada contra a de Wonho, seu braço pressionado agora contra o peitoral largo e firme do mais velho e seu rosto próximo o bastante para, em qualquer outro momento, ele sentir-se quente e tímido. Mas não estava em seus melhores dias e nem mesmo toda aquela aproximação conseguiu fazer com que ele esquecesse os sentimentos ruins que o preenchiam para, só assim, focar-se no homem bonito ao seu lado. Na verdade, seus pensamentos ainda estavam presos naquela sala, apenas alguns andares acima. — Estava muito óbvio? Você acha que eles perceberam?