CAPÍTULO 1 - ROTINA

288 68 129
                                    


Que o mundo está podre não há dúvidas, vivemos em tempos sombrios, pessoas matando umas às outras por motivos banais, olhos sem brilho, mentes vazias, corações sem esperança, desastres naturais, tragédias. Os humanos são os próprios culpados, destroem tudo, só pensando no próprio bem. Dinheiro, fama, luxúria, isso é bom? Sim, ou não, dependendo do ponto de vista, mas no momento do último suspiro nada disso importa mais. E isso nos trás a um dos maiores medos do ser humano, o que nos espera após a morte? Alguns dizem que simplesmente deixamos de existir, outros dizem que nos tornamos almas sem corpo que ficam vagando, há quem diga que ficamos presos dentro do próprio corpo imóveis, e tem aqueles que acreditam em céu e inferno. O desconhecido e o sobrenatural sempre causaram medo nas pessoas, existem hipócritas que praticam boas ações, mas não pelo amor ao próximo, e sim por medo de ir para o inferno por serem pecadores, pobres pessoas... Todos somos pecadores, todos os dias matamos alguém e nos matamos aos poucos, por que se preocupar tanto com o que acontecerá após nossa morte? Siga sua vida, pois sua morte pode acontecer a qualquer momento.

São Paulo - 2019

Pessoas conectadas, o amor ao próximo respira por aparelhos, tempos em que um jovem prefere conversar com estranhos no celular ao invés de falar com a própria família, mas toda moeda tem seus dois lados, tempos onde as famílias estão cada vez mais afastadas, os adultos, intencionalmente ou não, são seres tóxicos que exterminam e frustram sonhos dos jovens, pais abusam das filhas, ex-maridos não sabem ouvir um não e matam suas ex-parceiras, alunos querendo ser mais que os professores, a música já não é algo que possamos sentir orgulho, parece que não tem como piorar, não é? Mas tem... E muito, mas ninguém sabe disso ainda.

E esse pensamento pessimista toma conta de todos, sorrisos falsos não mudam a realidade, e Felipe não é diferente, um jovem de 19 anos que não vê motivos para se animar. Todos os dias ele levanta, escova os dentes, toma seu café da manhã, troca de roupa e sai para trabalhar, mas não sem antes escutar seu pai o dizendo para tomar um rumo pois trabalhar como estoquista em supermercado não é uma vida digna. Mas o garoto trabalha e se sustenta, vivendo em uma das maiores metrópoles do mundo, o garoto foi corrompido pelo pensamento da sociedade, mas ao menos ele não mata inocentes para conseguir as coisas mais fácil, tipos de lixo que ainda são defendidos por certos especialistas no assunto, entendidos que falam asneira enquanto estão protegidos em suas casas.

Todos os dias Felipe vê as mesmas pessoas, sempre falam a mesma coisa, muito raramente vê seus poucos amigos que lhe sobraram após o fim do ensino médio, todos haviam prometido manter a amizade após o fim da jornada letiva, idiota é quem acredita nisso. Porém, nesse dia Felipe estava com um mal pressentimento, e no caminho para o trabalho, que geralmente era tranquilo, dessa vez ele percebeu coisas estranhas, um homem que sempre caminhava tranquilamente até o ponto de ônibus, dessa vez estava vindo em caminho oposto com um olhar apreensivo, Felipe estranhou esse comportamento, mas ignorou, o homem podia simplesmente ter esquecido algo, ou rolou algum imprevisto. No ônibus não haviam cadeiras disponíveis, portanto o garoto foi a viagem em pé, ele percebeu um senhor lendo um jornal, Felipe não conseguiu ler, o balançado do ônibus o impediu de entender o que estava escrito, mas uma coisa ficou clara, não era uma notícia boa, a imagem ilustrativa da notícia mostrava, com tarjas, um homem morto e esquartejado, o garoto se lembrou que todo dia o senhor seguia sua viagem fazendo palavras cruzadas, o que será que aconteceu de tão grave para o homem mudar sua rotina, já que o próprio vivia reclamando das notícias desinteressantes que eram publicadas?

Felipe pegou seu celular e pesquisou sobre esse corpo esquartejado, e o que parecia ser um dia comum como todos os outros já dava sinais que não seria bem assim. Um homem foi brutalmente assassinado por dois animais não identificados, os bichos o morderam com tanta violência que seus membros foram arrancados. Que animais são esses? Que força descomunal é essa? Logo apareceram viaturas com alto falantes e policiais anunciando para as pessoas tomarem cuidado, pois um homem foi brutalmente morto por dois animais e que eles podem estar pela cidade. Felipe ficou preocupado, ao descer do ônibus ligou para Lucas, seu amigo e colega de trabalho.

- E aí Lucas, tudo tranquilo por aí?

- Cara, o mercado tá vazio, geralmente é bem movimentado à essa hora. Será que tem a ver com o tal assassinato?

- Pode ser, as pessoas parecem estar com muito medo.

- De qualquer jeito a gente tem que trabalhar,

- Eu sei, já desci do ônibus, em cinco minutos chego aí.

- Beleza. – Lucas desliga o celular.

Felipe anda bem atento pela rua e vê que o movimento está fraco, eis que ele para em frente a uma banca de jornal, fica apreensivo, começa a suar frio. O título que ele lê da manchete da primeira página já faz ele ligar os pontos e supor o que está acontecendo. Pode ser coisa da cabeça dele, ele é cético, não acredita em coisas que a ciência não explica, mas ele também não acredita em coincidências tão absurdas. Felipe se vê em um início de um pesadelo...

No Way OutOnde as histórias ganham vida. Descobre agora