O Fazendeiro

II

Naquele momento, não consegui dizer nada. Suas palavras deveriam me acalmar mas eu estava sentindo mil sentimentos ao mesmo tempo  naquela hora, então eu só chorava ali baixinho enquanto ele dirigia. Seguimos rumo ao nosso destino. Ele não falou mais nada, me deixou ali chorando para que eu pudesse botar pra fora a minha raiva. Já estava tarde o sol já estava se pondo, estávamos na estrada a quase duas horas, eu imaginava pra mim mesma que ele morava no fim do mundo porque essa fazenda não chegava nunca... De longe avistei uma pequena pousada na beira da estrada... Então ele olhou pra mim e logo falou;
- Vamos parar para descansarmos , ainda temos um longo caminho pela frente... Assim você pode tomar banho e dormir.
   Então ele desceu, foi até a recepcionista e pediu dois quartos... Nesse momento me senti aliviada, por hora achei que ele fosse querer que dormissemos no mesmo quarto já que meu pai me tinha entregue a ele de corpo e alma, eu estava muito cansada, já estava mais tranquila. Chorar bastante me fez me acalmar e aceitar, afinal o que poderia ser pior do que eu passei toda a minha vida?...
Ele se aproximou da caminhonete e estendeu uma chave do quarto...
- toma, espero que esteja mais tranquila. Se precisar de algo estarei no quarto ao lado. Amanhã voltaremos cedo para a estrada. (Então peguei a chave e desci com minha bolsa e fui em direção ao quarto.)

   Era um quarto simples, afinal estávamos numa pousada no fim do mundo na beira da estrada, não era de se esperar muito. Mas para mim tudo era perfeito pois minha cama era dura meu pai fazia questão de que eu não tivesse nenhum conforto.
   Fui pro banheiro, fiquei quase 2 horas debaixo do chuveiro, eu nunca tinha feito isso. Meu pai não me deixava gastar muita água muito menos me comprava shampoo, eu lavei meus cabelos com um shampoo que tinha para os clientes. Após sair do banho eu me senti leve, parecia que tinha tirado um peso enorme das costas. Enquanto penteava os cabelos pude ouvir um som de um violão olhei por uma pequena janela que tinha do quarto. Era ele sentado em um banquinho debaixo de uma árvore que tinha logo ao lado da pousada. Ele tocava e cantava. Fiquei ali admirando sem que ele visse. Mas como estava muito cansada fui me deitar e logo apaguei...
       Assim como de costume acordei às 4 da manhã, ainda estava escuro... Após tomar um leve banho e escovar meus dentes. Saí pra fora caminhei um pouco ao redor da pousada. Estava um silêncio só o barulho do vento e das árvores. Me sentei no banco onde ele estava na noite anterior e fiquei ali admirando, o sol já estava surgindo a  paisagem era linda... De repente sinto alguém perto de mim olhei pro lado era ele que logo sentou ao meu lado...
- Bom dia, é uma paisagem muito linda não é mesmo? (Perguntou ele, enquanto sentava) então respondi com um leve sorriso em meu rosto...
- Bom dia, sim eu sempre gostei de ver o sol nascer, é a melhor parte do meu dia... (Ele olha pra mim, admirado pois achava que eu não iria responder, já que tinha o ignorado desde o primeiro momento.)
- olha, ela fala... (Falou ele, com um tom meio irônico e sorrindo).
    Após uns minutinhos olhando ali o nascer do sol ele logo levantou e me chamou para comermos algo antes de sairmos.
   Sentamos em uma mesa numa pequena área de alimentação ali na pousada. Enquanto comiamos ele me olhava com aqueles lindos olhos azuis. Eu já estava constrangida pelo jeito que ele me olhava. Afinal nenhum homem nunca olhou pra mim, muito menos tinham chegado perto de mim. Tinham medo do meu pai.
Eu sou uma mulher bonita . Tenho cabelos claros, olhos castanhos e apesar de ter sido tão maltratada minha beleza sempre foi radiante.
   Então terminamos e fomos novamente para a estrada.
  - Espera só para ver o nascer do sol da minha varanda. Você vai gostar. (Falou ele, assim que entramos na caminhonete).
Eu só sorri, e fiquei admiradando a estrada enquanto o vento balançava meus cabelos.