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Era um péssimo dia, um péssimo dia com péssimas escolhas.

Para Boris, havia sido uma péssima escolha levantar-se da cama, calçar tênis desconfortáveis, tomar um café morno e tragar dois cigarros logo pela manhã. Havia sido uma péssima escolha não olhar o balcão, e perceber que seu livro de álgebra estava ali. Havia sido uma péssima escolha sair de casa, e havia sido uma escolha pior ainda chegar na escola. Tudo ali parecia como o início de um filme de terror muito mal contado. A maneira como adolescentes o encaravam com desdém, e com nojo; a forma como outros jovens se amassavam uns nos outros, seus corpos grudados e suados roçando-se. Cada cena trazia a Boris uma vontade imensa de vomitar. Vomitar desde o seu café morno, até expelir a fumaça dos seus maços. Trazia também a vontade de dar meia volta e voltar para a Rússia; lugar de onde nunca deveria sequer ter saído.

Talvez também tenha sido uma péssima escolha esbarrar em dos garotos do terceiro ano. Não foi a melhor das opções usar com ele o sarcasmo, muito menos a ironia. Não demorou muito para que um empurrão evoluísse para chutes, socos, gritos e uma plateia imensa desejando o pior para qualquer um dois dois. E quando os nós de seus dedos chocavam-se contra o rosto retinto do garoto, Boris sentia seu sangue esquentar cada vez mais. E quando conseguia levantar seu corpo esguio do gramado recém cortado do pátio, fechava os olhos pressionando-os e depositava inúmeros chutes no corpo alheio.

— Senhor Pavlikovsky, venha comigo — uma voz embargada preencheu o local, e assim um silêncio pairou ali. Boris virou-se, e encarou a diretora. Respirou profundamente, limpou o sangue que escorria de seu nariz com a manga de sua blusa laranja e a seguiu.

O sermão não durou muito, mas para Pavlikovsky parecia ter levado décadas. E depois de ouvir sobre as regras da escola, sobre como os alunos deveriam se comportar, e sobre como as punições funcionavam, Boris fora liberado. Saíra dali direto para o refeitório, onde passara cabisbaixo pela plateia que antes o assistia dar uma surra no capitão do time de lacrosse, e agora o encarava com uma expressão cheia de repúdio e desprezo.

Boris andou até uma das mesas vazias, sentou-se num canto e abaixou a cabeça. Seus cachos negros caíram sobre seu rosto pálido, repleto de hematomas, deixando-o com uma aparência ainda mais melancólica e problemática. Seu olho esquerdo continha uma escoriação arroxeada por todo ele, e era dolorido como o corte em seu lábio inferior. Sua bochecha ainda era avermelhada por um soco que havia lhe acertado, deixando as sardas por debaixo da vermelhidão assemelharem-se ainda mais a pequenas sujeiras espalhadas por ali.

— Ei, você tá bem?

Boris levantou seu olhar, e encarou o garoto que havia sentado em sua mesa. Eddie Kaspbrak o encarava com uma expressão de dúvida. Suas sobrancelhas eram franzidas, e os lábios entreabertos. Pavlikovsky, por sua vez, suspirou profundamente e revirou os olhos.

— Não foi uma pergunta tão difícil — Eddie continuou. — Você não parece bem.

— Acredite, estou melhor do que o outro imbecil — soltou.

Eddie sentiu seu estômago revirar ao ouvir o sotaque russo do garoto deslizar de seus lábios e espalhar-se tão rudemente contra ele. Umedeceu os lábios por mania e soltou um pequeno suspiro.

— Eu vi a briga, mas você não entrou semana passada na escola?

— Quer saber? É a minha vez de perguntar — forçou um sorriso. — Eu conheço você?

Eddie sentiu seu corpo afundar-se em uma sensação imensa de desconforto. Repreendeu-se mentalmente por estar se submetendo a tal situação desgostosa e ridícula, mas ele só queria saber como aquele estranho estava se sentindo.

Por algum motivo, para Eddie, ver aquele garoto tão sozinho, cabisbaixo e cantarolando alguma canção tão triste e dolorosa lhe dava a sensação de que ele precisava de ajuda, ou de alguém que se importasse. Aparentemente Eddie não tinha a melhor das intuições, porque agora o olhar de descaso e as frases soltas e rudes presas em um sotaque russo marcado fazia com que Kaspbrak se sentisse extremamente incomodado e Boris, por sua vez, ainda apertava seus olhos numa expressão de raiva e suspirava fundo sempre que precisava mostrar para o garoto a sua frente que sua companhia era irritante e desnecessária. Assim que movia-se no banco, mudando sua postura, seus cachos escuros dançavam também sobre o seu rosto machucado dando a sensação de que aquilo ardia mais do que qualquer outra coisa.

— E então? — Boris continuou. — Eu conheço você?

— Não — tossiu rapidamente. — Não conhece.

— E o que está fazendo aqui, então?

Colocou a palma de sua mão sobre a mesa e continuou encarando o garoto baixinho.

— Eu... Eu queria ver se você estava bem.

— Bom, então... — riu e umedeceu os lábios. Respirou fundo e desviou o olhar.

— Então?

— Essa é a hora que você vai embora.

Sorriu docemente e Eddie revirou os olhos.

Kaspbrak moveu seus lábios tentando dizer algo, mas não saía nada. E, bem, precisava dizer algo? Então, apenas assentiu e jogou sua mochila sobre seus ombros. Apertou com força a alça da mesma e saiu rapidamente dali. Nem sequer olhou para trás. O cacheado assistiu Eddie ir embora com uma certa dúvida, mas ao mesmo tempo com bastante descaso e indiferença.

De fato, Boris merecia ficar sozinho, do mesmo jeito que estava agora.

Mas se ele merecia tanto ficar sozinho, então por que diabos Eddie não sentiu vontade alguma de deixá-lo ali?


Ok, eu sei que isso tá péssimo, desculpa. mas do mesmo jeito, eu espero que vocês gostem. eu prometo que a ideia pra essa estória é bem legal, eu só preciso de força pra desenvolver isso. aproveitem a leitura, beijos.

O Amor é uma Vadia | Boris PavlikovskyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora