Um pequeno infinito;

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O toque áspero da areia sob a sola de seus pés descalços traziam-no a sensação aterradora de paz. Um alívio tão grande e sem explicação que inspirar aquele ar levemente salgado da maresia acalmava seu coração batendo rápido no peito, como as asas de um beija flor.
Antes Meliodas não amava o mar, nunca sequer cogitou a chance de gostar dele. Aquela água salgada empapava sua pele pálida e sob o sol castigante do litoral, seu corpo todo ficava vermelho e ardia até por um simples resvalar de roupa, a areia colava em sua pele e assava-o além de que tinha memórias desastrosas envolvendo praias.
Entretanto, naquele momento, tudo conspirava para deixá-lo a vontade naquele ambiente. De pé aproveitando o vento morno que sobrava seus cabelos em várias direções o acalma, de olhos fechados ele tomba a cabeça para trás e põe as mãos nos bolsos da bermuda de tecido bege que está usando, sua camisa branca transparente adere no torso suado e ele mexe os dedos dos pés sentindo-os coçar pela aderência dos pequenos grãos, mas sua mente está longe. Trazendo a tona momentos vividos que apertavam seu peito dolorosamente e trazia lágrimas aos olhos.
" Sorrindo amavelmente Elizabeth agarrou a cesta de palha com alguns lanches cuidadosamente embrulhados e correu em direção a orla da praia, mais atrás de si Meliodas caminhava tranquilo. Ver a paixão de sua noiva pelo mar sempre o deixava com uma sensação engraçada no peito.
Aquilo que ele mais odiava era o que Elizabeth mais amava.
- Me espere, amor. - Pediu num riso quando aos tropeços, a prateada correu pela areia até encontrar um b lugar, sob a sombra de um coqueiro envergado.
- Aqui é um bom lugar. - Elizabeth sorriu estendendo uma toalha vermelho bordô para ambos se sentarem. - A sombra é fresca.
Enquanto Meliodas tirou da cesta as duas garrafas de água mineral gelada, Elizabeth mais que depressa pegou de sua bolsa de tecido, o frasco de protetor solar fator oitenta e o chacoalhou na direção do loiro que riu.
- Vamos, tire a camisa para eu passar em você.
- Eu sei que na verdade você não vê a hora de tirar minha roupa. - Brincou e com uma careta fingida Elizabeth atirou-se contra seu peito, levando ambos de encontro a toalha.
- Claro, sabe que eu me derreto toda vez que vejo você sem camisa.
Sorrindo ladino Meliodas desabotoou a camisa de tecido fino e a descartou ao lado da cesta de alimentos, expondo para ela seu torso tonificado e pálido que prontamente foi protegido pelo protetor solar. Cada movimento de suas mãos sobre seu corpo hipnotizando-lhe e arrancando risos suaves da mesma.
- Pronto! - Notificou o loiro deixando em seus lábios um beijo rápido e singelo, antes de escorregar do seu colo deixou sobre seus fios rebeldes o chapéu de palha trançado que usava.
- Minha vez. - Ele sorriu beijando sua bochecha. - Vire-se.
Horas depois, ambos assistiam o sol abaixar-se em silêncio. Meliodas afagando as costas nuas de Elizabeth que permanecia olhando o horizonte pelos olhos protegidos pelos óculos de sol. Os raios alaranjados quentes que não os atingia mais, agora esfriava a pele dos dois e refletia-se na água azul como seus olhos, criando assim a ilusão que dois sóis se punham.
Um suspiro pesado por sua parte aconteceu e Elizabeth virou a cabeça para olhar o noivo despojado na toalha, os pés deitados na areia fina.
- As vezes eu me pego pensando que na vida somos como rios em direção ao oceano. O oceano nessa lógica é a morte que um dia nos espera, e o rio somos nós percorrendo dia após dia os obstáculos que temos que passar. - Ela continuou. - Sempre penso que eu deveria ter amado mais, me arriscado mais, vivido mais.
Meliodas sorriu torto permanecendo as carícias em círculos nas omoplatas da mulher, trilhando caminhos imaginários pela linha de sua coluna e passando perigosamente perto do no frouxo do sutiã de seu biquíni.
- Ainda temos uma vida inteira pela frente, amor. - Murmurou. - Vamos nos casar, ter dois ou três pestinhas e então envelheceremos juntos.
Elizabeth sorriu triste movendo a cabeça para os lados e deitou-se ao lado do noivo, seu corpo colado no dele e a cabeça descansando sobre seu peito.
- Recentemente... - Com um nó se formando na garganta, ela fechou os olhos e engoliu em seco tomando coragem de contar o que descobriu. - Eu passei mal e fui no médico, fizemos exames e d-descobrimos... - Engasgou com um soluço e abraçou o torso do loiro com força. - Eu tenho uma leucemia em fase terminal, Meliodas. Não tenho três meses de expectativa de vida.
- O quê? - Abraçou a lateral da noiva protetoramente, seu coração acelerado e os músculos do corpo tremendo pelo nervoso da notícia. - Ellie...
- Por isso quis adiar o casamento. - Ela respondeu finalmente criando coragem para olhá-lo, os azuis de suas íris destacado pelas escleras vermelhas do choro. - Eu não quero que você passe pela dor de se tornar viúvo tão cedo. E-eu não queria ter que te dizer isso.
- Elizabeth, ter a oportunidade de ter você como minha noiva e esposa será e é a melhor coisa que pode acontecer na minha vida.
As pálpebras fecharam-se derramando lágrimas grossas e os lábios foram comprimidos em uma linha reta.
- M-me perdoe, Meliodas. Por favor.
- Ellie, não tenho o que te perdoar. Não tenha medo de nada, Estaremos juntos por toda a eternidade.
- Quando penso que sou um rio prestes a encontrar o oceano, eu não tenho medo. - Afirmou olhando nos olhos do loiro. - Porque sei que nesse momento eu serei parte de toda imensidão e que deixarei marcas minha na vida de todos que já amei ou já relacionei.
- Você fará parte da parte mais bela do mundo.
- Eu me tornarei parte do oceano."
De olhos abertos encarando o céu alaranjado, Meliodas voltou a postura ereta e caminhou em passos lentos pela areia, tropeçando e espalhando aquelas partículas pequenas para todos os lados. Quando a água salgada atinge seus pés, ele suspira e sem parar anda até estar com a água até a altura do umbigo.
- Eu prometi que voltaria aqui, amor. - Meliodas olhou para o sol poente e emergiu a mão da água, onde na palma uma aliança de ouro descansa.
A notícia aterradora que recebeu no mês anterior havia se concretizado tragicamente após duas semanas, o amor mais profundo de sua existência partira deste mundo e em sua filosofia agora se tornara parte do vasto oceano onde ele está agora.
- Você não teve medo, minha corajosa esposa. - Sorriu trêmulo quando as primeiras lágrimas escorreram e assistiu a onda levar a aliança para longe se sua mão, a sensação de paz agora trazia um toque de solidão amarga. - Meu oceano.
De olhos fechados, Meliodas pode sentir pela maresia o beijo suave de Elizabeth em sua face e sorriu.
Ela tinha o amado o suficiente para uma eternidade, que por causa de uma doença encurtara esse infinito a tão pouco.

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