— O quê? — respondeu o pai, impressionado.

— O velório, você foi até lá, mas parou no meio do caminho ele está dizendo, devia ter continuado — Júlia insistiu.

O pai sentiu-se desconfortável. "Como ela sabia aquilo? Não é possível" pensou.

— Você me seguiu? — ele perguntou para a filha.

— Não, eu estava aqui — ela respondeu, solicitando, com a cabeça, confirmação da mãe.

— Sim, amor, ela ficou comigo o tempo todo.

O pai seguia confuso e desconfiado, mas a senhora chamou de sua sala:

— A menina Júlia já pode entrar.

O pai ainda mais sem entender:

— Você já falou com ela sobre nossa filha?

— Talvez, faz uns dois anos que eu vim pela última vez. Bem provável que eu tenha falando o nome dela, sim — respondeu sua mulher.

"Dois anos, e ainda se lembra?" ele se perguntava, insistindo em manter a sua não-fé.

— Senta, minha querida — disse-lhe a vidente, gentilmente, ignorando os pais, embora houvesse cadeiras suficientes. Ela respirou profundamente e continuou: — Seus pais acham que você tem algum problema mental. Verificaram com vários médicos. Não encontraram nada. Então, quase sem esperanças, trouxeram você aqui. Não é mesmo?

— É — respondeu Júlia, com certa timidez.

— E você sabe o que tem, não sabe?

— Sei — respondeu, ainda insegura.

— Pois diga, minha filha.

— Meus pais não acreditam em mim — Júlia respondeu, com mais convicção.

— Não importa, diga o que você vê — insistiu a senhora.

— Não são amigos imaginários. São fantasmas que falam comigo.

— Muito bem, muito bem. Você tem um dom muito forte. Eu consigo sentir isso. Normalmente, nós, os médiuns, só conseguimos falar com um ou dois espíritos. Mas você consegue conversar com muitos e muitos, não é mesmo?

— É, sim. Eles falam comigo o tempo todo em todo lugar — confirmou Júlia.

— E você tem medo deles?

— Não, eles são muito legais comigo.

— Muito bem, então não há nada a temer. Vocês têm muita sorte de ter uma filha com esse dom — disse aos pais. — Pelo jeito, vocês não precisam da minha sessão, né? A pequena Júlia aqui pode lhes contar tudo — disse, rindo, causando um riso carinhoso na mãe e um ainda desconfiado no pai.

Antes de Júlia levantar-se, a vidente pegou-lhe a mão e disse:

— Lembra, minha querida, o que lhe é dado não deverá ser cobrado.

A menina deu um sorrisinho tímido de resposta e concordou com a cabeça.

No caminho de volta, a mãe estava muito aliviada de saber que sua filha era normal, além disso, sentia um certo orgulho pelo dom dela. O pai, por outro lado, ainda não tinha aceitado muito essa suposta mediunidade da filha, contudo essa explicação lhe era mais fácil de acolher do que ter de continuar indo a médicos toda hora.

Dessa forma, os pais foram acostumando-se com o dom da menina, enquanto ela o achava cada vez mais interessante.

Um dia, ainda no ensino médio, ela e mais três amigas resolveram jogar verdade ou desafio. Começaram a girar a garrafa e a fazer perguntinhas bobas. Depois de umas 4 ou 5 perguntas, giraram novamente a garrafa, que apontou para Mariana e Júlia.

A videnteWhere stories live. Discover now