3. Estátuas num Jardim

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A capital do reino ficava no meio de um grande lago no centro de Tomi-Sulim, conhecido como o Lago Mediastino

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A capital do reino ficava no meio de um grande lago no centro de Tomi-Sulim, conhecido como o Lago Mediastino. Num formato que lembrava vagamente um coração humano, a ilha era fortificada em impressionantes muradas de pedra vermelha que partiam da água e subiam a vinte metros de altura, guardando o interior da cidade; eram penetradas exclusivamente através das três entradas a norte, sul e oeste. Do lado leste, ficava o Costão da Quimera, um morro colossal de pedra dourada que agia como um muro natural para o castelo da família real. Este era como uma coroa de luz acima de toda a paisagem, reinando com suas cinco torres brancas perfurando o céu. No centro, observando o leste com olhos arregalados e sobrancelhas acirradas, a temível escultura em granito do rosto do rei Doreado, o primeiro pós Pacto Lendário.

Olhando para cima, do Jardim de Tomi no centro do castelo, o príncipe Danúvio podia ver o antepassado o ignorar lá de cima.

O dia sem nuvens permitia com que o sol chegasse à frondosa ambarília, árvore de tronco e folhas alaranjados, a mais antiga da ilha de Nova Quimera. Sete esculturas menores que a da cabeça de Doreado circundavam-na em gestos de adoração.

A sombra do garoto empalidecia frente às exuberantes construções. Mordendo o lábio, ele se perguntava, deixando a mente vagar para cada vez mais distante, se um dia o sangue que corria em suas veias o traria mais próximo àqueles rostos tão misteriosos e cheios de poder.

— Preste atenção, rapaz! — exigiu o velho Cipriano, dando com a bengala no cocuruto do rapaz, que se chacoalhou com o susto. — Não está prestando atenção ao que estou falando?

Danúvio engoliu em seco, virando-se para o professor mais uma vez.

Cipriano era um baixinho de olhos claros, cabelo longo escorrido e um nariz pontudo com uma enorme verruga. Além dos robes longos quase chegando aos pés, nunca estava longe de sua bendita bengala de madeira, cujas marcas na ponta sugeriam a quantidade de vezes que ele a devia ter martelado na cabeça de um pupilo.

— Estou sim, senhor — respondeu o menino, levantando do banquinho. — É só que essa coisa toda de leis regenciais, tratados de condado e não-sei-mais-o-quê é toda muito chata. Tem algum assunto mais divertido aí não? Ser príncipe tem que ser mais legal do que isso...

O sujeitinho fez uma careta, projetando os lábios. Parecia um cachorrinho rancoroso.

— Não foi vossa alteza que pediu para que eu o ensinasse as atribuições reais? — Cipriano pôs a mão na cintura. — Ora, estas são elas! Não posso fazer mais nada!

Os ombros do menino caíram.

— Ah, mas é que eu pensei que teria muito mais, sei lá, nobreza nessas coisas — ele tentou se justificar. Cruzou os braços sobre o peito, balançando a cabeça. — Mas, pelo jeito, os deveres de um rei são só burocracia chata e idiota.

Cipriano ergueu uma sobrancelha, se colocando de pé também. Era tão baixinho que batia pouco mais alto que a cintura do garoto.

— O que vossa alteza acha que sua mãe faz o dia inteiro, hein?

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoWhere stories live. Discover now