Capítulo 02

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Dias depois, Flor de Liz desceu do ônibus apressadamente e seguiu para a escola onde lecionava há quase seis meses. Como era Localizada em um bairro de difícil acesso, ela preferia vir trabalhar todos os dias de transporte público apesar dos veementes protestos de seu noivo. Diego desaprovava o desejo dela em trabalhar em um ambiente tão hostil e perigoso, no entanto Flor de Liz acreditava que ali era um campo onde existiam muitas oportunidades de devolver a boa sorte que tivera em sua vida, algo que muitas daquelas famílias não possuíam ao longo de toda a vida. Em meio a pedras poderia haver valorosas relíquias a serem descobertas e ela tinha esperanças de encontrar muitas e oferecer melhores oportunidades de vida através do conhecimento.

-Está atrasada. Repreendeu a rígida diretora assim que Flor de Liz entrou na sala para depositar o material que carregava. Flor engoliu em seco e baixou os olhos tentando não demonstrar nervosismo, pois aquela mulher lhe dava calafrios e literalmente segurava seu sonho de trabalhar naquela escola nas mãos.

-Desculpa dona Soledade. Pediu com humildade. Deu um sorriso sem graça para o professor Marcos que a observava sentado atrás de uma pilha de papéis. Ele piscou solidário e voltou sua atenção para o que fazia. -O ônibus quebrou no meio do percurso e tivemos de esperar por outro para fazer a transferência.

-Essa desculpa está ficando velha, professora Flor. Dona Soledade a encarou com altivez.

-Mas é a verdade. Retrucou Flor se arrependendo de ter mais uma vez recusado a carona oferecida por seu noivo. Teria evitado o transtorno de ser repreendida mais uma vez por aquele atraso, afinal a culpa fora dele também por ter invadido o banheiro para uma rapidinha no chuveiro fazendo-a correr com o atraso. Tentou esconder um sorrisinho involuntário que surgiu em seus lábios com a lembrança. Estremeceu involuntariamente quando percebeu o olhar afiado da mulher mais velha.

-Tudo bem, você é uma boa profissional. Falou a diretora em toda a sua pose rígida e altiva. -Porém evite que aconteça novamente, senão serei obrigada a devolvê-la ao departamento. Retrucou ríspida. -Já foi na secretaria atualizar sua documentação?

-Ainda não. Murmurou pigarreando. -Hoje a tarde se for possível gostaria de sair mais cedo para resolver isso.

-Sem problemas. Disse com indiferença. -A professora Bianca também irá hoje. Talvez possam seguir juntas.

-É claro! Anuiu sem muita certeza, pois a dita professora era um pouco retraída para seu gosto e Flor não tinha intimidade com ela. -Dá licença, pois preciso seguir para a sala de aula.

-À vontade.

Flor de Liz seguiu pelo corredor da escola naquele momento com poucos alunos por causa do horário de aulas, já que a maioria estava em sala. Ao virar a esquina encontrou a professora Bianca toda atrapalhada com o material que carregava.

-Oi professora? Indagou solícita. -Parece que tem que carregar muitas coisas. Sorriu pegando algumas folhas que escaparam para o chão. -Trabalho para casa?

-Nem me fale. Respondeu com um muxoxo. -Semana de prova me deixa sobrecarregada e me sinto tão cansada.

-O segredo é não deixar para amanhã. Brincou Flor.

-Meu namorado diz que não tenho mais tempo para ele e minha mãe me diz que sou uma imprestável. Desandou a falar quase em lágrimas. -Não consigo agradar a ninguém e estou me sentindo um lixo. Contou em desespero sem se dar conta do que falava.

-Nossa que barra! Flor a encarou compadecida. -Olha Bianca, é complicado mesmo. Procure não se preocupar tanto, pois é impossível agradar a todos ao mesmo tempo.

-Desculpa, eu não deveria estar falando sobre mim assim com você.

-Sem problemas. Sorriu compreensiva.

Esperança RoubadaWhere stories live. Discover now