Capítulo 8 - Resistência

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Já amanhecia quando Dulce teve o primeiro espasmo da tentativa falha que inspirar o ar, despertando assustada após mais um sonho esquisito. Nessa noite, pôde descansar um pouco mais que nos últimos dias enquanto ainda estava na Casa 14, por um lado sabia que não estava sozinha e que ela não era responsável por atentar à segurança do grupo. Os novatos do grupo da resistência não eram obrigados a ajudar com a vigília. Por outro lado, sentia o estresse da fuga e do perigo constante a atormentá-la, quando só o que precisava era dormir.

O sonho teve um enredo que Dulce não sabia bem como interpretar: não entendia se era parte do que estava passando, se era um pressentimento ou pura ansiedade. Tudo começou com uma menininha, em um canto de uma sala muito escura enquanto ao fundo podia-se escutar um som rítmico alto, que parecia ruídos de vários tambores batendo ao mesmo tempo. A criança avançou pelo recinto, chegando a uma porta, a qual abriu lentamente, mas nada encontrou atrás. Era apenas uma parede rústica de pedras. O som se tornou cada vez mais alto, aproximando-se dela e, em meio a poucos raios de luz que entravam por uma e outra fresta misteriosa, ela conseguiu verificar que eram soldados marchando em sua direção, sussurando ordens sobre prendê-la. Não tendo para onde ir, ela aguardou e, quando a alcançaram, rapidamente a abateram com choques diretos na barriga e a garotinha já não podia se levantar.

Notando o ambiente mais seguro, ela conseguiu manter a calma por um tempo. O grupo de resistentes conversava baixo, as crianças ainda dormiam. Estava tudo bem com eles. Mas como estariam os outros trios? Já estariam onde deveriam estar, segundo o plano que tinham montado? Teriam conseguido passar pela fronteira sem problemas? Estariam a salvo na mata? Algo dizia a Dulce que não. Não sabia reconhecer se a conversa com os resistentes a deixara sensibilizada, ou se era o medo da fuga que não a deixava raciocinar direito. Os pensamentos de fracasso do plano começaram a voltar, mas dessa vez não conseguiu bloqueá-los.

Nova falta de ar marcou o momento em que Poncho apareceu a seu lado. Ela não pretendia que o amigo se preocupasse todas as vezes que ela ficasse nervosa. Dulce precisava se acalmar, mas quanto mais ela pensava nessa situação, mas lhe faltava o ar, mais desesperada ficava e mais pensava nos amigos, principalmente em Christopher, que tinha o jeitinho perfeito de fazê-la sentir bem.

Ela queria se levantar, ir para onde não houvesse ninguém. Queria sair dali, tomar ar, tentar respirar melhor, porém ao levantar-se, sentiu tontura. Estava sendo bem recorrente nos últimos dias, mas isso não era um incômodo tão grande. O pior era pensar que precisaria sim que Poncho a ajudasse, como já estava fazendo, segurando-a pela cintura e ajudando-a a sentar-se novamente.

ㅡ Vamos lá, Dul, você não pode se levantar, nem consegue parar de pé! ㅡ ele tentava convencê-la. ㅡ O que está acontecendo?

ㅡ Eu tive um sonho estranho... ㅡ ela respondeu, já sentada e de olhos fechados ㅡ Eu não quero falar sobre isso...

ㅡ Não precisa falar sobre isso ㅡ ele retrucou. ㅡ Mas precisa acreditar que vamos ficar bem. Ou então cada vez mais vai ficar insegura e ter crises.

ㅡ Não escolho ter crises...

Notando que a amiga estava ficando cada vez mais nervosa, ele tentou mudar de assunto.

ㅡ Tudo bem... Sabe o que eu acho? ㅡ ele perguntou, capturando sua atenção. ㅡ Acho que agora ainda é muito cedo e podemos aproveitar que estamos em segurança e rodeados de gente que quer nos ajudar para descansar um pouquinho mais.

Ela não podia discordar. Deitou-se, observando o local, ouvindo o incentivo do amigo. Minutos se passaram até que ela se sentiu mais calma e prestes a cair no sono novamente.

***

Dulce ouviu alguém chamar baixinho seu nome e abriu os olhos para buscar de onde vinha a voz. Mais descansada e menos estressada, ela notou que Poncho a acordava gentilmente.

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