Capítulo 4 - Revolução

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A rotina era a mesma de sempre: despertador, checar o quadro de tarefas, se arrumar, tomar café, depois que o período de punição já houvesse acabado, e trabalho. Cada dia começava igual, exceto por um detalhe: todos pareciam melhor dispostos para enfrentar as imposições do Controle e esse era o resultado das caixas criadas por Christopher.

Os dias seguintes ao evento que deu origem às novas políticas de saúde mental da Casa 14 foram no mínimo esquisitos. De um lado, Dulce tentava evitar os olhos de Christopher, o contato, as conversas, ao mesmo tempo em que percebia que ele também a evitava. De outro lado, evitar os olhares causava ações furtivas, rápidos olhares com significados cada vez mais profundos, visitas breves após os noticiários em que beijos rápidos aconteciam e novas promessas de interromper essa relação eram feitas.

Outra evidência da estranheza da semana estava em que a casa estivera passando por outros momentos importantes e tudo tinham a ver com algumas conversas em particular. A primeira delas foi logo depois do primeiro noticiário após o evento. Dulce se recolheu depois de ver que Christopher e Christian conversavam em um dos quartos sozinhos. Logo depois, ela recebeu uma visita, que entrou em seu quarto após algumas batidas.

- Dul?

Christopher fechou a porta atrás de si, enquanto Dulce baixava os olhos e também o tom de voz. Ela não queria que ninguém os escutasse.

- Dul, precisamos conversar.

- Shh! - Christopher olhou para ela, confuso - Não podemos conversar agora - ela sussurrava - precisamos esperar, Chris.

- Calma, precisamos falar de outra coisa - Ele se aproximou quando Dulce fechou os olhos, impaciente. - Não precisamos falar sobre isso agora, se não quiser. Mas tem outra coisa que estou conversando com todos, um por vez.

Ela voltou a abrir os olhos e sentou-se na cama. Dulce o olhou atenta, porém desejava que ele saísse e a deixasse longe desses sentimentos que não podia controlar. Não podiam estar tão perto e não podiam estar sozinhos, pois perderiam o controle e alguém os descobriria. Apesar disso, tentou forçar-se a escutar o que Christopher queria dizer.

- Dul, é sobre a caixinha verde, eu não falei sobre ela antes, não queria que o Controle escutasse sobre ela lá na sala. - Ele se sentou na cama, próximo a Dulce. - Você vai me ouvir?

- Tudo bem - ela respondeu contrariada. - Mas depois, me prometa que não vamos voltar a estar sozinhos num lugar privado, por favor. - Dulce notou a resistência no olhar de Christopher. - Por favor, Chris.

- Tudo bem. Quando tivermos oportunidade, vamos conversar melhor sobre isso. Mas agora, sobre a caixa. - Dulce assentiu - Você se lembra o que eu disse das outras duas caixas?

- Sim, uma para guardar o que temos e outra o que tivemos.

- Isso! Uma caixa para o presente e uma para o passado - Christopher completou.

- A terceira caixa então é a do futuro - ela deduziu. - Devemos colocar o que queremos ter?

- Mais ou menos. Nessa caixa está a nossa chance de revolução.

Dulce ergueu as sobrancelhas, confusa.

- Dul, acompanhe meu pensamento: o que queremos ter, como você disse, é o mesmo para todos, não precisamos escrever porque é conhecido. - Christopher explicou - Todos queremos ter liberdade, todos queremos voltar para o México, todos queremos nossas vidas de volta. O que falta é o como vamos fazer isso.

Dulce concluiu, dizendo lentamente:

- Na caixa verde vamos colocar ideias de como sair desse lugar.

ExílioWhere stories live. Discover now