Na lata de breja
que você beija,
ele acende uma pedra,
o que ele mais deseja
É de lata em lata
Amassada na mão
Na sola do pé
Somada a sucata
Que com sorte vier
Que no fim do dia
A Maria, o José
garante o pão
A folia
O grão
É de lata em lata
Que o José, a Maria
sonhando com a prata
Na ponta da linha
enchem o sacola
O carrinho, a esperança
de um dia, com sobra
consertar o barraco
O estrago inato
dessa herança
de ser ponta de lança
que não rompe a barreira
pra sair da beira
e ser o fiel
de sua própria balança
o ponto na ferida que estanca
a miséria amarga, cruel
É de lata em lata
que a mãe, o pai, o filho
mais um nó que se ata
que desde cedo aprende
a apertar o gatilho
a fechar o ciclo
No duro batente
debaixo de chuva
Ou sol ardente
aprende que a perspectiva
de escapar das amarras
dessa vida fodida
infelizmente
acaba na próxima brisa
porque muitas vezes
a lata que ele vende
só paga a pedra que ele acende
na lata de breja
que você beija
e joga na sarjeta