Mentira

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Querida Mentira,

Houve um momento da minha vida que as circustância nas quais eu me metia já não faziam mais sentido.

Primeiro: apaixonar-se por você.

Por que eu me submeteria a tal deformidade? Eu sabia que você não era uma boa pessoa para se envolver. Mas o meu coração, cansado de escutar a mente, entrelaçou-se contigo. A racionalidade deveria permanecer para me ajudar, mas ela se escondeu com medo das consequências. E você, órgão vital inútil, levou-me ao abismo profundo.

Eu não acredito que o amor e o ódio andam juntos, mas talvez os antigos tenham razão ao dizer que tal afeição se tratava de uma doença. Eu perdi corpo, alma, cabeça, membros, sangue... A lista continua e continua e continua. Eu já não sei a quantidade de coisa que perdi estando ao seu lado. E, ao passo que minha essência se esvaziava, você nunca me retribuiu com nada.

Prometeu-me dar uma galáxia inteira, mas eu não li nas entrelinhas; eu teria de perder a minha própria para entrar na sua. Deixei-me levar, porque, novamente, minhas faculdades mentais não estavam funcionando adequadamente. Eu podia me sentir bem ao seu lado naquele momento, mas eu não estava reparando em tudo que deslizava pelos meus dedos e acabava indo embora.

Muitos danos e muitas perdas.

Assim como uma droga, que vicia e destrói, você não permitia que eu tivesse um momento de sanidade para me desintoxicar. Eu queria uma crise de abstinência! E, cada vez que me aproximava do precipício, percebia que minhas horas estavam se esgotando. Você, sanguessuga maldito, arruinou boa parte da minha trajetória.

Você nunca me amou de verdade, mas não queria que eu fizesse isso por mim. Se me permitisse, você sabia que eu acabaria desistindo da nossa relação. Eu perceberia minha importância — acima de qualquer outra — e não aceitaria menos. Você não queria que fôssemos diferente, não é? Eu me amaria, enquanto você se perdia nos próprios monstros internos.

Eu poderia dizer que superei, porque de fato o que pensava que sentia já não existe mais. Todavia, prefiro manifestar minha indignação para que eu nunca me permita levar dessa forma por alguém mais uma vez. Amar-se a si mesmo antes de tentar amar alguém. E é exatamente disso que você precisa. Se você se amasse antes, talvez não houvesse me deixado com tantas cicatrizes.

Até algum dia,

mais outra Mentira.

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⏰ Last updated: Jun 30, 2019 ⏰

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Cartas de amor nunca entreguesWhere stories live. Discover now