Não consigo ― digo.

Voltou a se cortar?

Não, Boby. Toda hora vem a imagem dos pulsos dela cortados em minha mente. Eu estou para ficar louca.


Deixa te ajudarmos? ― Ele ficou esperando uma resposta. Mas nada vindo de minha parte. ― Te pego as nove. ― desligou e eu só ouço minha respiração. Olho a minha volta, o quarto escuro e sombrio. Com vários livros espalhados que faziam meus dias menos horríveis, e as cartas, as duas cartas que mudaram a minha vida. O jeito que eu via a vida.

Meu pai queria que eu ficasse feliz e a Anne também ... mas será que eles se perguntaram como vou ser feliz sem eles? Será que se perguntaram o que seria de mim? E simplesmente me pedem para seguir a vida, como se fosse fácil, como se eu não lembrasse deles a cada segundo. Meu pai... autoritário e protetor. Anne... amiga e meiga. Dois pedaços de mim se foram e não aprendi a viver só com as metades que sobraram.
As lágrimas caiam... e eu queria sair daquilo tudo, daquilo que me transformei.

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Ja são sete horas da noite, as horas passaram tão lentamente e tão torturadoras. Me levanto tomo um banho, coloco uma roupa, passo uma maquiagem leve. E sim, vou voltar a minha "vida normal", não que seja igual, e não que eu esteja preparada para isso, coisa que não estou... mas, eu vou tentar.

Destranquei meu quarto e perguntava a mim mesmo se eu tinha certeza, sem dar tempo de me arrepender saio do quarto e vou descendo as escadas lentamente, indo em direção a cozinha. Will, minha mãe e Megan estão na mesa. Me sento junto com eles e eles me olham com um olhar de surpresa. Megan dá um lindo sorriso e volta a jantar. Todo dia conversamos e todos os dias ela tentava uma maneira de me tirar de lá. Termino de jantar e fico olhando minha mãe, ela estava tão linda, eu sei que não devia a ter ignorado esses dois meses, mas a raiva dela não ter me dito sobre meu pai passou e o que eu mais queria era abraça- lá, uma lagrima escorreu de meus olhos, mas disfarcei ao ver que Will olhou.

― Me desculpe ― peço.

― Te entendemos ― disse Will calmo como sempre.

― Mãe. ― Chamo a atenção dela, que estava evitando em olhar pra mim. Vou até ela e a abraço. ― Me desculpe ― sussurrei.

― Te amo tanto, Mand. ― Ela me abraça forte. ― Eu não devia ter escondido aquela carta de você, eu achei que você ficaria melhor sem saber...

― Mãe ― a interrompi. ― Também te amo. ― Olho para ela que já está chorando.

― Um recomeço? ― perguntou sorrindo.

― Sim. Um recomeço ― respondi.

Saio da mesa e me sento para assistir, logo Megan chega e me abraça do nada.

― Senti falta da minha dramática ― ela disse sorrindo.

― E eu da minha chata. Há, há.

Megan joga seu corpo pra cima do sofá e me encara. Eu estava feliz por estar de volta, por poder sorrir, mas lembrar da Anne erra inevitável, e sofrer por isso é mais inevitável ainda.

― Não sou chata. Sua leza!

Sorri e fiquei olhando para a Megan, eu a via quase sempre nesses últimos dois meses, mas quase nunca falávamos nada, ela se deitava ao meu lado e as vezes chorava comigo, e em outras vezes apenas me consolava. Eu não cheguei a perguntar como ela estava, se algo a estava deixando triste, eu nem se quer olhava para ela direito.

[Pulsos]Where stories live. Discover now