Parte 2

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Observei o corpo pequeno dela se mover pela sala, analisando cada detalhe como se fosse uma designer de interiores.

— Gostou?

Se a resposta fosse sim, eu me gabaria pela decoração. Se fosse não, a culpa ia toda para a Hope. Afinal, foi ela quem escolheu a maioria das coisas ali, eu apenas paguei ou construí.

— Sua casa é... adorável — respondeu com um sorriso tenso.

— Adorável? — Repeti, testando o som da palavra. Aquilo era bom ou ruim? Nunca me dei bem com essas coisas de contexto. Principalmente com mulheres.

— Sim. É bem diferente de morar em um trailer. — Agora ela olhava fixamente para a estante de livros. Cobria uma parede inteira. — Nossa, você tem tantos livros!

Entusiasmada, olhava cada edição bem de perto. Pude ver seus olhos brilhando e as mãos se contorcendo para tocá-los. Eu deixaria até, depois que suas mãos fossem bem limpas. Hope mataria qualquer um que sujasse os livros.

— É só uma estante — sorri, dando de ombros.

Mas ela não parecia ligar muito para mim, estava hipnotizada pelos títulos. Meu Deus, mais uma viciada em ler nessa casa! Eu acordaria amanhã soterrado por livros? Ou teria que deixar minha cama para as edições da saga Percy Jackson?

— É linda.

Era mesmo. Suja e um pouco descabelada, tinha sua beleza escondida. Com aquelas pernas expostas e seios saltando do decote, não vinham à minha mente outras palavras além de linda e seus sinônimos.

Afastei aquela merda incoerente dos meus pensamentos antes de cometer alguma loucura.

— Você quer tomar um banho agora? Vou fazer algo para comer e você pode descansar um pouco antes da Hope acordar, ela vai querer te conhecer.

Lentamente, ela se virou para mim.

— Eu adoraria, por favor. Se não for te incomodar, claro.

Incomodaria. Seria terrível lhe dar alguma camisa minha para vestir antes que a vizinha acordasse e eu pudesse pedir alguma roupa emprestada para Nayara. Só de imaginar me dava arrepios pelo corpo.

— Vou te mostrar o banheiro.

Levei-a até o meu quarto, lhe dei uma toalha limpa, uma camisa branca e uma calça de moletom. Saí o mais rápido que pude, deixando-a à vontade.

Nós saímos do parque queimado até o quartel no meu caminhão. Nenhum dos meus homens questionou quando eu fui embora com a mulher no banco passageiro da minha picape — uma decisão muito inteligente —, mas eu pude ver a interrogação nos olhos de Lena. Eu lidaria com ela depois.

Eu também precisava de um banho, então me limpei no banheiro do corredor.

No desconforto do banheiro social pequeno, eu me toquei que tinha uma mulher estranha na minha casa pela primeira vez depois de tantos anos. Eu a estava ajudando de bom grado, mas ela precisava sair logo daqui. Não por medo de fazer qualquer besteira, mas por Hope.

Uma morena bonita como Nayara nunca passaria despercebida por mim, embora eu não pudesse me gabar de muitas conquistas. Depois da mãe da Hope, tenho evitado relacionamentos de qualquer tipo.

Eu estava na mesa, terminando meu café, quando ela abriu lentamente a porta do quarto. Conseguia ver bem o corredor daqui. Olhou para os lados, até me perceber, e veio até mim.

Minha camisa era um belo vestido batendo no meio das suas coxas e a calça de moletom era um monte enrolado na cintura e nas pernas. Os cabelos estavam molhados, ainda pingando. Sem toda aquela fuligem — ou tão longe, voando no ar —, Nayara era uma mulher impressionante. Tinha uma beleza opressora, de um modo exótico e delicado ao mesmo tempo.

Deixa Queimar (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora