Eu não teria acordado. Nos olhos, morreria a lua e as estrelas, como um assassinato brutal. De fato é. Porque eu prometo, com toda a dor que há no meu peito, que estou vendo o vento apagar as futuras pegadas e marcas que nossos filhos não nascidos cravariam na casca do mundo.
Se terminássemos amanhã, aquela estação de rádio, tocaria as mesmas músicas enquanto você dirige. Os casais de idosos que costumam correr pela estrada durante o nascer do sol, continuariam em seus passos rápidos até que os prédios os engolissem. Sem você, a cama continuaria bagunçada, com os lençóis fora do encaixe. Eu fora do encaixe. Tudo igual do lado de fora, mas aqui dentro, tão áspero que se encostasse as palmas de suas mãos, acabaria ferido.
Se amanhã eu soubesse que você não volta, eu provavelmente me culparia, por não ter interrompido o desastre. Eu conversaria com os ratos e perguntaria o porquê dos buracos nas calças, nas paredes e, inclusive, na minha pele. Talvez isso deva ser um problema: eu não sentir aquelas patinhas minúsculas cavarem a minha carne enquanto durmo. Simplesmente não me incomodo, não os ouço rir ou gargalhar.
Eu nunca teria as respostas, porque nunca aceitaria o final. Você é o meu futuro e eu não construo casas resistentes sozinho. Então sim, eu escreveria várias cartas e entregaria todas a você, mas não, nunca as entregaria em suas mãos, para que não seja capaz de mirar seus olhos julgadores sobre a minha cabeça. Mas sabendo, tortuosamente, que nunca teria a bênção de receber a sua atenção outra vez.
Amanhã. Só Deus me convenceria de levantar. E eu não estou nada convencido de que ele exista. Então, meu querido amor, eu não vou aprender tão cedo a amar alguém, e disso, você está cansado de saber. De tropeçar. De desculpar. De chorar. As verdades sempre estiveram se alimentando das minhas inseguranças. Dê um fim, ao que se pode chamar de sacrifício e diga por fim, que está finalmente consumado.
