Capítulo 2 - Efêmero Eterno

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    "Café, sem açúcar. Ela elevou tudo, estava muito alta, mesmo de manhã. O amargo chegava na sua garganta então secava. Nem mesmo o calor da xícara quente aquecia aquela menina, gélida e sem rumo... Havia rumores pelas ruas sujas que a estremeciam, e aposto que deixaria qualquer um de cabelo em pé ao escutar. Depressiva e determinada, ela é como sal e açúcar, muito amarga pra você, porém muito doce e ingenua pro mundo. Suas experiências a faziam como as manhãs no café, tocando um cavaquinho e sino de neblina, mas também, solta como uma noite muito longa numa balada com som muito alto, chapada e depressiva, tirando os saltos e pisando no asfalto molhado enquanto as luzes passam como flashes no seu olhar turvo, indecisa se era da bebida ou do choro. Um lindo monstro que ela se tornou.

    Seus ombros sempre pesavam quando olhava a cidade de sua varanda, se questionando, deixando de viver. Uma moça tão jovem e bonita como ela deveria estar sorrindo e se divertindo com muitos amigos, entre tanto, ela é tão incomum que ninguém se interessaria. Tão jovem, uma perda terrível! Seus grandes olhos de jabuticaba já brilharam um dia, era uma questão. Perdida na poesia das músicas ela dançava e ria como a última noitada, sem bebida, sem nada.    Só ela e as luzes, as luzes e ela, um efêmero eterno de sua vida. " - Juninho lia atentamente o seu livro predileto durante a viagem.

- O que está lendo Juninho? Não parece ser muito bom. - Disse Liana virando o volante junto com seu rosto.

- Não julgue o livro pela capa maninha, esse livro é de arrepiar! Um dos meus favoritos.

- Quem diria que você sabe ler, nossa te conheço tão pouco! - Ria e debochava de Júnior, mas ele apenas riu junto e tomou um gole de café da sua garrafa, então continuou sua leitura: "A moça já não tinha mais o que procurar, tudo que sabia tinha em suas mã-

- Não seja egoísta, diga o nome do livro! Vamos leia para mim. - Interrompeu-o novamente. 

- Você não se interessaria por gêneros como esse, mas vou ler antes que eu te dê um tapa por me interromper mais uma vez.

   Então Juninho ergueu sua cabeça, respirou fundo e leu em voz alta de onde parou:

 " Tudo que sabia tinha em suas mãos. Ela não sabia o que construir com suas falhas e sucessos, ela apenas os jogou de volta na pista junto a seu corpo. "

- Credo mano, a mulher vai se matar por que? - Liana continuava a debochar, mas agora do livro.

- Você não entende, deve ler o livro inteiro para descobrir! Esse livro foi lançado semana passada! Está em todas as livrarias.

- Leia do início o capitulo por favor, pelo ao menos o contexto de onde ela está quero entender! 

   Sem demora, ele leu-o novamente e continuou de onde estava:

   "Acaso? Destino? Sina? Poderia chamar como quiser, mas a verdade ainda aterrorizava seus corações. Onde havia gotas de chuva, agora misturava-se com sangue como aquarela. As lágrimas, suas últimas, escorriam como óleo brilhante, ardente em chamas pelo seu rosto juvenil. A moça não parecia nada calma após a morte, assim que caíram, outro carro desfigurou sua face. Enfim seu corpo estava morto, apodrecendo, juntando-se a alma que jaz falecida por muito tempo."

   Assim que ele terminou sua leitura, Liana sentiu uma pontada no coração, como uma faca. Tirou suas mãos do volante e sua visão ficou embasada. Na sua memória veio os flashes dos carros em seu sonho, e o grito agudo e sem fim de uma menina perdida no tempo. Tudo demorou segundos, Juninho pegou o volante para que o carro não batesse e em meio ao desespero, gritava por sua irmã várias e várias vezes. Liana parou o carro assim que saiu de sua transe, confusa.

- O que foi isso Liana? Está tudo bem contigo?!

- E-eu não sei... - Outra pontada e flash-back em seu corpo. - Qual o nome do livro?

- Do que importa esse livro?! Isso é absolutamente irrelevante agora!! - Ele ainda esperava a resposta do que havia acontecido.

- Nada de mais, eu senti uma pontada no coração, tenho que ir ao médico. - Ela sorriu e ligou o carro pra voltar a estrada.

- Parece ser muito sério, vamos hoje mesmo! - A resposta não aliviou sua consciência, porém respirou e tentou se acalmar. - Quase que ficamos igual a Sofia.

- Quem é Sofia? - Indagou Liana.

- É a personagem do livro que estava lendo para você.

- Diga-me o nome desse livro estranho ou eu mesma irei toma-lo! - Ficou séria e arqueou suas sobrancelhas.

- Estressada... O nome é Book Life.

Book LifeWhere stories live. Discover now