Capítulo 1 - Caída

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   A rua estava fria, com gotas de água e sangue escorrendo em seu rosto e lá estava ela. Seus olhos arregalaram diante da incerteza do momento, um significado, um por quê. Era o que aqueles olhos tanto procuravam, mas logo se fechariam e a deixaria inconsciente.

                                                   
*                    *                   *

   * Manhã do mesmo dia.*

~ Corre Alan! Não se preocupe comigo, apenas vá!!

~ Liana venha comigo, não temos tempo para ... - Algo o pegou da linha temporal antes que pudesse terminar.

   Um motivo, um por quê. Era disso que Liana corria, as luzes dos carros se misturaram como se Liana fosse a pessoa mais rápida do universo, porém do universo dela. Levantou da cama suando como se estivesse mesmo correndo, no entanto era apenas mais um de seus sonhos problemáticos. Eu tenho mesmo que ir ao médico - Pensou e logo seguiu até abrir a porta de seu quarto, deparando-se com seus irmãos correndo pelo corredor já de manhã. Um mais velho empurrando o mais novo em um carrinho até a sala de estar, a mesma foi junto.

 - Bom dia mãe... - Disse Liana enquanto colocava café em sua caneca branca favorita.

- Bom dia filha. Junior eu disse para você não correr com o Juca pelos corredores já milhares de vezes!!! Venha e sente-se como um ser normal e tome seu café quieto. - Estourava a Sra.Helena durante sua organização perfeita de uma mesa recheada de doces e bolos como de costume. 

   A casa de Sra. Helena é muito chique atualmente, graças à sua filha que  pôde tira-la daquela pequena casa de madeira caindo aos pedaços à beira mar. Era exatamente em como Liana queria ajudar sua mãe que passava na cabeça dela.

- Mãe, você poderia tirar umas férias. - Sugeriu Liana olhando para seu prato com pudim sendo cutucado por Juca.

- Férias de que Liana? Pelo amor de Deus, eu nem sequer trabalho. Juca pare com isso e vá guardar seu carrinho. - O menino foi meio tristonho.

- Cuidar da casa é um trabalho muito cansativo mãe, inclusive de criança pequena.

- Justamente por ter uma criança pequena que não viajo, não tenho ninguém com quem deixar... - Sra. Helena estara apenas tentando achar uma desculpa para não deixar seu precioso apartamento.

- Juca e Juninho podem ficar comigo... 

- Eu sou mais velho que você Liana! Não fale como se Juca e eu tivéssemos a mesma idade! - Interrompeu sua irmã tirando a colher da caneca que misturava leite e achocolatado.

   Liana o olhou incrédula, o lembrou que ele não tinha onde morar além da casa de sua mãe. Ele calou-se mas logo agradeceu pela gentileza.

- Mesmo que mamãe não viaje, você poderia ficar no meu apartamento por algum tempo para se estabilizar Juninho. Poderia ter mais privacidade lá que aqui, lá é mais espaçoso para um jovem da sua idade. - Na verdade Liana tentava livrar sua mãe de Juninho a muitos anos.

- Juninho, escute sua irmã, você precisa arrumar sua vida filho. - Entrou na conversa Sra. Helena.

    Alguns segundos se passaram com ele fazendo uma cara estranha de pensativo como se não houvesse outras opções. Ficou relutante, mas concordou com a ideia no final das contas.

- Estou dizendo irmão, é a melhor escolha. - Liana estava convencida de que iria animar as coisas naquele momento.

- Que outras opções eu tenho?! - Disse sem jeito e envergonhado por sua inutilidade na família.

- Não se preocupe, não fico muito no apartamento. Durante o dia cuido dos negócios, e de noite costumo sair, volto sempre tarde. 

- Quer dizer que você é baladeira maninha? Dessa eu não sabia! - Começou a implicar e olhar para Sra. Helena procurando uma reação.

- Eu vou à lugares mais tranquilos durante as noites que saio. - Antecedeu sua mãe, que logo calou-se. - Apenas agradeça. - Liana fechou a cara e bebeu seu café.

- Maninho tá aqui mamãe! - Gritou Juca da porta de entrada. Todos arregalaram os olhos e Liana quase cuspiu seu café.

- Christopher está aqui? Essa hora? - Sra. Helena correu até a porta e se deparou com seu primogênito de terno vindo para abraços.

   Após cumprimentar todos (até mesmo Liana que se recusou a abraça-lo), sua mãe o convidou para sentar-se com os outros e comer, que cordialmente aceitou.

- E qual seria o motivo dessa visita Chris? - Murmurou Liana.

- Vim trazer Alice da escola. Estava passando perto de sua escola quando a vi. Tive que vender uma casa perto daqui, então pensei em visita-la mamãe. - Pegou sua xícara não muito antes que sua mãe a enchesse de café.

- Muito bem você lembrar que estou viva, deveria visitar-me mais vezes. Eu e seus irmãos estávamos conversando sobre Juninho morar no apartamento da Liana. - Ela cortou uma torrada bem estressada.

- Quer dizer que você vai começar a abrigar mendigos agora maninha? - Inclinou-se para mais perto dela com um tom de deboche.

   Liana levantou-se rapidamente sem responder, e disse a Juninho para arrumar suas coisas pois irão hoje mesmo e foi em direção ao quarto em que dormiu arrumar suas coisas.

- Fugindo de discussões novamente Liana? É mais perdedora do que imaginei. - Voltou a misturar açúcar ao seu café.

- Christopher, eu apenas ajudo meus familiares, Juninho não é mendigo, ele tem emprego e uma vida, apenas precisa se estabilizar. Eu não ficaria me chamando de perdedora diante do nosso passado. - Voltou à sala irritada mas o disse com calma e clareza.

   Ele estava preparado para retrucar, porém Alice apareceu em meio a conversa com sua mochila nas mãos.

- O que fazia lá em baixo todo esse tempo Alice? - Disse Sra. Helena preparada pra dar-lhe uma boa bronca.

- Eu encontrei com o Juliano na porta do elevador e perdi a hora na conversa. Desculpe mãe. - Logo correu para seu quarto sem cumprimentar ninguém e chorando.

- Esses pré-adolescentes e suas novelas amorosas... - Chistopher começou a implicar e enfrentou o olhar assustador de Liana. 

   A mesma foi ao quarto de Juninho avisar que já sairia. Chris foi consolar sua pequena irmã que tinha apenas 12 anos. Alice achava muito estranho escutar conselhos de um homem de 35 anos, ou pelo menos os conselhos de seu irmão mais velho que parecia ter uma mentalidade de um garoto de 17.

   Liana e Juninho despediram-se de sua família e desceram o prédio. Ela abriu o porta-mala, colocou suas bagagens juntas as de Juninho que encarou o prédio com certa tristeza, era a primeira vez que iria morar longe de sua mãe.

- Não se preocupe Juninho, pode piorar, mas também pode melhorar. - Falou Liana dando tapinhas em suas costas. - Vamos? 

   Ele a olhou e assentiu, enxugou suas lágrimas e entrou no carro com sua irmã, então os dois foram para o centro da cidade, onde Liana morava.

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