Vittaris

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Caroline nunca se sentiu especial, nunca foi a mais bonita ou a mais inteligente da sua classe, nem mesmo era a mais baixa mesmo tendo uma estrutura pequena. Caroline não se destacava em uma multidão e sentia um pouco de ciúmes das pessoas que se destacavam.

Perdeu as contas do quanto desejara ter o os cabelos ruivos de Enilorak, não porquê sentia inveja dela, mas porquê achava as madeixas cor de cobre tão lindas, e como o rosto de Enilorak era idêntico ao seu sabia que ficaria muito bonita e chamativa com os cabelos ruivos.

Por sua vez, Enilorak perdeu as contas de quantas vezes desejou ter os cabelos castanhos escuros da amiga. Ela passava horas imaginando como seria ser normal e poder sair na rua sem que as pessoas a olhassem espantadas.

"— Se somos iguais, por que ela tem os cabelos cor de casco das árvores e eu não? Vitter nos dividiu e nos mandou para o lugar errado, talvez eu é quem devesse viver na terra e ela em Lorac." Pensava Enilorak sempre que via a menina correr com os cabelos soltos.

É claro, Caroline nunca soube antes das coisas que Enilorak teve de passar por conta da cor dos seus cabelos, e agora que sabia não os achava tão bonitos assim.

Deitada em sua cama, Caroline refletiu pela primeira vez sobre a similaridade entre os humanos e loracianos.
Para ela, antes de tudo o que ocorreu, sempre pareceu que os seres altos de orelhas pontudas eram criaturas totalmente distintas, embora nunca tivesse visto outro loraciano se não Enilorak.
Entretanto, via que existiam traços humanos no que ela julgou serem elfos perfeitos, e assim como os humanos os loracianos eram inconsequentes e temiam, ou tinham aversão a tudo que era diferente.

Caroline sentiu-se triste.
Por causa da cor do cabelo de sua amiga, pretendiam matá-la assim como algumas pessoas eram mortas ali na terra por ter um tom de pele mais escuro que as de mais.
Agora os loracianos não pareciam tão encantadores como antes, eram apenas humanos em sua concepção, e como humanos, estavam sujeitos a ignorância e aos erros.

Era engraçado, passaram-se apenas cinco meses, mas para menina era como se tivessem se passado dez anos ou mais. Tudo parecia tão distante do que um dia foi, não sentia-se mais com doze anos apenas, estaria pronta para governar um reino naquele momento.

Foi com esse pensamento que Caroline colocou uma música em seu celular, e ao som dos engenheiros do hawaii deixou as lembranças flutuantes ao seu redor.

A música dizia algo parecido com o que a menina sentia no momento.

"Eu que não fumo, queria um cigarro
Eu que não amo você, envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Eu não bebo pedi um conhaque pra enfrentar o inverno que entra pela porta que você deixou aberta ao sair

Senti saudade, vontade de voltar
Fazer a coisa certa, aqui é o meu lugar
Mas sabe como é difícil encontrar
A palavra certa, a hora certa de voltar
A porta aberta, a hora certa de chegar."

Flashback on:

Epilef sabia em alguma parte de sua consciência que o que fizera era contra todos os princípios de Lorac. Ele havia violado a menina, e pior, a menina deveria continuar pura para voltar ao Deus Vitter.

Depois do seu ápice de prazer veio a vergonha ao ver as lágrimas e a dor da criatura mais pura que deveria existir na face de Lorac. As coxas manchadas de sangue e hematomas, o peito marcado por soluços baixos e ritmados.

"Como pudera fazer isso? Que tipo de monstro era ele? Que sentimento era aquele que sentira?
Não, a culpa não poderia ser sua, pois nunca antes desejara tanto uma mulher, a culpa era dos cabelos vermelhos."

O Reino de Lorac (Completo)Where stories live. Discover now