Capítulo 1

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Mais uma briga naquela casa. Com força, a nossa heroína bateu a porta da frente da simples propriedade dos Castiel e saiu em disparada. O céu estava nublado, dando razão ao ar gélido, bem incomum naquela época. Ao longe, ela podia ouvir os gritos de seu pai raivoso. Ana corria entre as plantas baixas, e os galhos secos feriam suas pernas como vingança por pisar neles. Sem olhar para trás, ela correu rumo a qualquer lugar longe de sua casa. As lágrimas de raiva e frustração embaçavam sua visão e voavam quando em contato com o ar frio daquele fim de tarde. Seus cabelos castanho-escuros e compridos saltavam de suas costas no ritmo de sua caminhada rápida. Seu vestido, um lindo traje branco com mangas médias, pegava o embalo e voava em diversas direções. Ela saltou quando avistou uma pequena poça de água, e o vestido subiu, mostrando muito mais do que deveria. Sua bota de cano curto suportou a queda e não permitiu que ela escorregasse.

Ana ofegava. Precisava daquilo para espairecer. Sua mente estava cheia de pensamentos. Ela não podia acreditar que seus pais fariam aquilo com ela. Fechando os olhos com força, aumentou o ritmo da corrida até ouvir o barulho de cavalgadas atrás de si. Olhou por cima do ombro e avistou dois homens se aproximando. Sim, aqueles homens!

Mesmo que fosse impossível ir mais longe, ela aumentou a velocidade em uma última esperança de escapar deles. O ar entrando e saindo de seus pulmões, a sua pele ardendo, o coração aos pulos, tudo fazia com que ela lembrasse que, sim, ela estava viva. A paisagem começou a mudar um pouco, transformando-se em um lindo campo com grama bem esverdeada e poucas árvores de copas robustas e altas distantes entre si. Mesmo cansada, ela ainda tinha fôlego e teria ido mais longe se aqueles homens não a tivessem alcançado.

— Ei! — gritou um deles. Ana não deu ouvidos e continuou correndo. — Pare!

— Como assim "pare"? — resmungou ela arfante, sem diminuir o ritmo. Eles estavam a cavalo! Poderiam alcançá-la quando bem entendessem. Ela sorriu. Sentia-se bem melhor. Quase não lembrava da briga com seu pai.

— Ana! — Aquela voz rouca cortou o ar e lhe deu um pequeno susto. Ele estava bem mais próximo do que ela imaginava.

— Eu não vou casar contigo! — gritou ela contra o vento e os ouviu praguejar alguma coisa quando um dos cavalos passou por ela rapidamente e parou mais à frente.

Esse era Eduardo Bragança, o rei daquele pobre e coitado reino. Eduardo desceu do cavalo e foi até ela. Ana deu meia-volta e já ia começar a correr quando dois braços fortes a agarraram. Não eram de Eduardo. O coração da moça deu um pulinho ao sentir aquele cheiro de avelã misturado com erva do campo.

Ela bufou e tentou se soltar, mas aquele homem era forte, e quanto mais ela se debatia, mais ele apertava seu corpo contra o dela. Ana o encarou com raiva. Marco Bragança, simplesmente o príncipe daquele reino miserável, a encarava com um ar de superioridade e frieza que ela não gostou. Odiava-os. Ambos! Ana o fitou com toda a coragem que tinha, sem desviar nenhuma vez, e ele fez o mesmo. Era um desafio que ela se recusava a perder, mesmo estando a meros centímetros de distância e praticamente colados pelos quadris.

— Solte-a, Marco — falou Eduardo em tom autoritário.

Finalmente ele a soltou, mas ela não parou de observá-lo com ira nos olhos. Marco era o mais odioso dos homens, sem dúvidas! Mais até do que Eduardo.

— Minha querida Ana... — Eduardo chamou sua atenção. Ela o olhou brava. — Você sabe que correr só atiça mais a nossa energia... — Aproximou-se ainda em cima do cavalo. Ela se afastou, encontrando a parede que era aquele maldito homem atrás de si. Ela parecia uma barata tonta entre aqueles idiotas.

— É... É o que veremos! — Queria ter soado mais confiante, mas tudo que saiu foi essa frase meio rasgada. — Nunca vou me casar com quem quer que seja! — rosnou fitando Marco e percebeu um sorriso se formar no canto dos lábios dele.

A FILHA ESCOLHIDAWhere stories live. Discover now