Dormindo com o inimigo

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Milena

Sun Tzu diz: Por mais crítica que seja a situação em que você se encontrar, não se desespere. Nas ocasiões em que tudo inspira temor, nada deve temer. Quando estiver cercado de todos os perigos, não deve temer nenhum. Quando estiver sem nenhum recurso, deve contar com todos. Quando for surpreendido, surpreenda o inimigo.


Como eu havia previsto, chegamos à cidade de Cotiapé. Rodamos um bom tempo por uma estrada de terra avermelhada, até pararmos em frente a um portão, onde estava pendurada uma placa, escrito "Vila Feliz". Eu percebi, mesmo na escuridão da noite, que se tratava de uma espécie de sítio ou fazenda.

O carro parou na frente de uma casa grande, onde eu fui obrigada a entrar, escoltada por meus companheiros de viagem.

— Mais uma vez, vocês erraram!

Quem gritava desse jeito era uma respeitável senhora de cabelos brancos, na frente de quem eu me encontrava sentada. Muito elegante, usava um vestido de linho escuro, cabelos brancos puxados em um coque, bengala de cabo de prata. Mas apesar dos olhos azuis da cor do céu, que acentuavam sua aparência de candidata à Mamãe Noel, todos pareciam ter por ela um respeito que beirava o medo.

— A culpa não é nossa, Dona Malvina! — protestou um dos rapazes. — Nós nunca vimos a tal da Maria pessoalmente! Só nessa foto meio desbotada...

— Eu sei, eu sei! A pior decisão que tomei nos últimos tempos foi mandar embora os idiotas que deixaram a garota fugir e contratar vocês! Pelo menos, os outros imbecis reconheceriam a verdadeira Gabriela! Vocês só conseguem dar uma mancada em cima da outra!

A moça tentou argumentar:

— M-mas a culpa não foi nossa! Foi a outra garota que disse para a gente pegar essa!

— Ela se enganou, seus imbecis!

Sem poder mais me segurar, eu me coloquei de pé:

— Que menina é essa que falou para vocês que eu era a tal da Gabriela?

Dona Malvina encarou-me de cima a baixo, surpresa com a minha ousadia de se dirigir a ela sem ter sido interpelada.

— Para começar, sente-se, e só levante-se com a minha ordem. E só me dirija a palavra quando tiver permissão para isso!

— Responda à minha pergunta!

— Sente-se.

Houve uma espécie de duelo de olhares, que eu acabei perdendo. Não conseguiria nada batendo de frente com aquela Rainha de Copas de Alice no País das Maravilhas. Sentei-me e aguardei. Dando-se por satisfeita com o meu comportamento, Dona Malvina retomou a palavra.

— Foi uma menina de São Paulo, parecida com você, que disse que deveríamos voltar ao Colégio Santa Sophia para apanhá-la.

— A Laura?!

— É como ela diz que se chama. Você a conhece?

Eu me senti queimar por dentro. Então a peste da Laura tinha dito que eu devia ser a tal da Gabriela, só para que eu fosse sequestrada também!

— Onde está a Laura?

— Aqui.

— O que vocês fizeram com ela?

— Por enquanto, nada.

— Ótimo! Porque eu pretendo fazer um monte de coisas!

— Então vocês se conhecem bem?

A Guerra da NotíciaWhere stories live. Discover now