Enquanto você dormia

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Com o passar do tempo, minha preocupação com Louis aumentava, pois sua vitalidade reduzia gradativamente e ele confirmou meus temores; sua existência estaria comprometida se não fosse abaixo a barreira invisível que se ergueu entre ele e Harry.

Eu estava tão aflito! Quanto mais conhecia Louis, mais eu via a injustiça disso tudo. Sempre compreendi o quão sério é o suicídio neste plano e no outro. Uma pessoa simplesmente desistir de tudo, perceber que não é capaz de aguentar a tormenta a qual se encontra e, sem pensar em todos que realmente se importam com ela, põe fim em sua vida. Entre todos os espíritos errantes que encontrei, nenhum deles era suicida. Acredito que exista um plano específico para onde vão essas vidas interrompidas. Confesso que nunca pensei no que acontecia com elas depois; se havia alguma força maior que os julgava, que cuidadosamente analisava tudo o que levou esse ser a uma decisão tão drástica e então definia seu destino: sofrer pela eternidade ou simplesmente desaparecer. Mas, depois de Louis, pensar a respeito disso tornou-se uma de minhas maiores ocupações. Sei que cada história é diferente da outra. Podemos ser bilhões de vivos e centenas de trilhões de espíritos já estiveram nessa Terra, mas cada um de nós é um universo particular e até a mais simples das histórias tem sua riqueza especial. Não aceito que exista uma única lei para julgar a todos de igual maneira. Quanto mais eu pensava em todos os suicidas que conheci, seja nas aulas de história ou nos anúncios da TV, mais injusto eu achava que o Louis estivesse fadado ao mesmo destino. E fiquei ainda me perguntando se era mesmo justo que até o pior dos vilões devesse sofrer para toda eternidade. Afinal, não viemos todos da mesma fonte?

Eu sei, talvez seja muita ingenuidade de minha parte (aliás, Louis disse-me certa vez que eu tinha o mesmo coração nobre de Harry, mas uma ingenuidade admirável e única), mas não gosto de aceitar que sejam apenas as más ou boas atitudes que definem as pessoas.

 Pedi para que Louis me avisasse quando sentisse que sua hora estava chegando. Eu nunca estaria pronto para dizer adeus, entretanto, ao menos parte de minha dor seria aliviada. No que dependesse de mim, passaria todos os dias vigiando aquele espírito quando ele surgia e notando o que havia de diferente nele. Sem perceber, eu estava apenas me torturando e um tanto paranoico achando que qualquer tremeluzir de seu espectro era um sinal de que ele ia desaparecer para sempre. E quando fazia uma pergunta para Louis e ele demorar a responder eu o olhava alarmado e se estivéssemos em cômodos diferentes eu corria até onde ele estava para verificar se tinha acontecido. Louis sorria nessas horas e dizia:

Acalme-se, amigo. Não vou te abandonar tão fácil assim.

Esse apego era inexplicável para mim. Louis me explicou que isso era amizade em sua essência mais profunda. O sentimento que todo ser humano experimenta no começo de qualquer relacionamento fraternal, porém muitos esquecem com o tempo. Era desesperador, mas reconfortante ao mesmo tempo. Ele se importava comigo de igual maneira. Durante o dia, quando ele não estava por perto, sentia que estava ali e como não costumo manter as perguntas comigo mesmo, perguntei a ele se isso era só uma sensação. Louis sorriu daquele jeito que me aquecia o coração, e afirmou que ficava sim me observando enquanto eu estivesse pelo cemitério e ainda disse a sorte que tinha de eu não ser uma pessoa que vive perigosamente. Ele não estava forte o bastante para me ajudar, caso eu me encrencasse. Bem, eu já era um homem de 27 anos, que encrencas poderia arranjar para mim nessa idade? Na verdade muitas, mas gosto de como as coisas estão.

Niall, você está passando tempo demais comigo. E seus amigos? Há quanto tempo você não os vê? – Louis questionou certa vez.

Algumas semanas, talvez. Mas, isso não importa. Eles estarão sempre por aí. – respondi indiferente enquanto cortava algumas batatas.

Onde almas perdidas se reencontram (GHOST!LOUIS)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora