chá e renda

armageddon

I. não tema quando eles começarem a lhe despir.

o sol tomará de ti o pudor, e lhe deixará nua de modéstia. as estrelas, crianças da noite, soltarão seus cabelos de todas as amarras que um dia os aprisionaram com mãos leves, e eles lhe cairão suavemente ao escalpo, dançando em exaltação de Nix. a grama, cobertor macio de Gaia, libertará seus pés da casa dos sapatos, antigos amigos, antigas celas. a sola exposta deve encontrar o mundo virgem gentilmente. e por fim, a brisa primaveril dançará a sua volta e lhe libertará de tudo que lhe aperta; as vestes que desgosta derreterão em nada, as roupas de baixo deixarão as curvas de teu corpo e sobre elas cairão mágicas ondas de tecido, que lhe servirão como se estivesse nu. talvez estará; isso vai depender da vontade da brisa, da sua vontade.

II. agradeça quando destruírem o mundo.

caíram por terra os tetos; e por céu caíram os chãos. roubaram-lhe as palavras, as regras e limites que com ela vinham, e sua língua pingou um mel completamente novo que adocicou seus lábios e então seu queixo e então seu peito e então a terra. furtaram suas certezas e sua fé, e sua mente tornou-se ar matinal, líquido e azul claro.

III. entenda que a cegueira se foi.

grama. pés. céu. vento. cabelo. árvores. troncos. folhas. chão. pés. mãos. rios. risos. ninfas. floresta. fundo. copas. sombras. galhos. pés. cortes. braços. arranhões. cabelos. orvalho. escuro. pés. luz. luz. lu. clareira. corrente. horizonte. azul. nuvens. margaridas. tulipas. pés. terra. pés. tornozelos. panturrilhas. coxas. nádegas. costas. pescoço. cabeça. chão. flores. o céu. banho.

IV. liberdade, freiheit, liberty, liberté

nu.