— Você disse isso, Kaan? — perguntou a mãe incrédula.

— Não foi bem assim... — respondeu, tenso.

— Não? — questionou Maria. — Então você não disse para mim e para Pinar que nós não deveríamos querer nos igualar a você e a Aslan? Que nosso único direito era obedecer?

— Como assim, Kaan? — perguntou Teo, contrariado.

— Você está distorcendo o que eu quis dizer, Maria.

— Então explique, porque agora quem quer entender sou eu — falou a mãe em tom nada amigável.

A situação tensa se instaurou a mesa e ninguém mais estava interessado na comida.

— Eu quis dizer que apesar de todo o discurso democrático, as diferenças permanecem, do contrário, Maria e Pinar fariam o mesmo que Aslan e eu — respondeu com cuidado.

— E o que é que você faz que elas não podem fazer? — questionou Teo.

— O senhor não quer que eu diga aqui na mesa, não é? — perguntou com ar de superioridade fazendo o pai franzir o cenho.

— Está falando de sexo, Kaan? — perguntou Teo. — Porque se esse for o caso, vou logo dizendo que não é uma questão para se nivelar poder. Cada um faz o que quer quando se sentir preparado. Se está menosprezando-as por causa disso, você não está sendo homem, só um babaca infantil.

A impaciência do pai era nítida e causou mais tensão no ambiente.

— Bem, como sexo não é argumento, então sugiro que você tenha outro, porque ainda não entendi o que Maria distorceu na sua fala — disse Derya.

— Claro que tenho; elas não podem sair sozinhas — argumentou novamente.

— Por uma questão de segurança — rebateu, Derya. — não vivemos em um dos países mais seguros para mulheres e é graças a pensamentos como o seu que nós precisamos de escolta para garantir que voltaremos as nossas casas sãs e salvas — respondeu a mãe furiosa.

Ele engoliu em seco e Derya continuou:

— Eu não acredito que você realmente pensa dessa forma, Kaan. E mesmo que as coisas fossem diferentes, seria sua obrigação como ser humano lutar para que esses preconceitos acabassem. É isso que o seu pai faz todos os dias ao meu lado.

— Eu não estou falando por mim, mamãe — disse ele. — mas por todas as regras da nossa família, por tudo que aprendemos. As mulheres Erdogan sempre terão que ser boas mãe e boas esposas, sempre precisam dos homens para defendê-las, sempre são superprotegidas, só podem ter alguém se esse for aprovado pela família...

— É regra para os homens também, Kaan. Acha que pode se relacionar com qualquer pessoa? Que não tem obrigação de ser um bom pai e um bom marido? — perguntou Teo. — Aslan, você também pensa dessa forma?

O tutor se obrigou a sair do torpor que se colocara ao ouvir as justificativas de Kaan.

— Claro que não e, já tentei explicar várias vezes a Kaan que nós não somos melhores e nem superiores as mulheres. Mas confesso que tive dificuldades para que ele compreendesse — revelou Aslan em tom de cansaço.

Viu o olhar do primo passar do pai para ele. Era nítida a revolta, mas já havia passado da hora de Kaan entender o seu lugar.

­— Acho que essa conversa já perdeu o sentido. Vejo que Kaan fala de assuntos que ainda não entende, tem uma visão limitada e sexista. Por isso, amanhã, quando você voltar do festival, seguirá comigo para o quartel — disse a mãe. — Vou mostrar a você o contrário de tudo que está dizendo.

Amor em Éfeso - AMAZONOnde as histórias ganham vida. Descobre agora