Capítulo 1 - Não se esqueça disso

408 17 3
                                    

O céu cinzento pode enganar. No norte, o sol quase não faz morada, mas sem nenhum traço de seu fogo, parece noite quando todos se reúnem às misteriosas frontarias do castelo de Winterfell.
Eles esperam o fogo. Não o fogo do sol, mas o verdadeiro. E a apreensão finalmente só aumenta quando, no horizonte, bastões elevados seguidos pelo ritmo da marcha surgem.
São os Imaculados. Os soldados fiéis de Daenerys Targaryen, a Nascida da Tormenta, pisando nas terras profundas do norte pela primeira vez.
De pé, quase camuflada à multidão, encarando a chegada com os olhos caçadores de um lobo jovem, Arya Stark é a síntese de tudo que o norte já viveu e viu. Arya Stark é Winterfell.
O coro da marcha continua. Direita, esquerda, direita, esquerda. Como aves, eles repentinamente são visíveis e como neve pura contra as cores da guerra que vem, os cabelos de Daenerys Targaryen se lançam para trás com o vento, trançado incólume por batalhas vencidas.
Ao seu lado, as vestes e cabelos negros daquele que regressa ao lar como um lobo perdido regressa à alcateia. Ver Jon Snow novamente faz Arya sorrir.
Metade de seu sangue é a metade do sangue de Arya, mas, para ela, ele é a certeza em forma de irmão. Jon Snow é aquilo que ela é, e o que for deles será do norte.
Ela quer chamá-lo, mas ele cavalga como um rei perante os olhos dos nortenhos. O que ela sente é o misto mais inesperado de ansiedade, apreensão e orgulho.
Ela volta os olhos aos recém-chegados. É quando vê a pele crispada de fogo que ela conhece tão bem. Sandor Clegane. A curiosidade transforma sua expressão misteriosa em uma exibição de surpresa e susto: as sobrancelhas franzidas, os lábios entreabertos como se fossem fazer alguma observação que sua mente não conseguia formular. E podia piorar. Alguns cavalos para trás, ela o viu. Gendry.
Nenhum deles a viu. Era uma vantagem que ela ainda tinha.
Dentro da carruagem que sucedia, Tyrion Lannister e seu conhecido e companheiro de longa data, Lorde Varys, recebiam a própria chegada com farpas trocadas.
— Você tem muita sorte. Pelo menos suas bolas não vão congelar. — Tyrion diz, sem tirar os olhos do exterior da carruagem, onde observa os nortenhos, que o observam de volta.
— Você se ofende com as piadas de anão, mas adora as de eunuco. Por quê? — Varys retruca.
— Porque eu tenho bolas. Você não.
A expressão no rosto de Varys é de impaciência. Lidar com Tyrion Lannister era um passeio pelas montanhas. Altos e baixos a todo momento.
Missandei de Naath segue ao lado do comandante dos Imaculados, Torgo Nudho, o Verme Cinzento, os olhos fixos na população nortenha. Ela sabe, pois pode ver, que os nortenhos os desprezam. Eles a desprezam.
Verme Cinzento também sabe. Ele também vê. E a vontade de proteger Missandei do olhar cruel daquele povo só não supera sua lealdade à Rainha que o salvou. Está ali por ela. Precisa repetir isso a si mesmo algumas vezes, como um pequeno mantra para manter-se são e não desistir. Daenerys Targaryen, a Quebradora de Correntes. Era por ela que ele e todos seus irmãos lutavam.
— Eu te avisei. — diz Jon Snow, os olhos fixos na Mãe dos Dragões, que parece insatisfeita com os olhares desconfiados que recebe da população. — Os nortenhos não confiam em estrangeiros.
Ela não diz nada. Continua correndo os olhos pelo povo nortenho. Eles estão com medo. Ela reconhece esse olhar em alguns rostos. Ela conhece esse sentimento. Já o viu estampado em diversos olhos.
Ao longe, o rugido de seus filhos a faz sorrir. Os nortenhos de repente correm em todas as direções, apavorados. "Que os deuses nos protejam!", berra alguém na multidão. Conforme Drogon e Rhaegal se tornam visíveis contra a bruma do céu, os gritos se tornam maiores, a correria se torna mais intensa.
Imóvel em meio ao tumulto, Arya Stark está boquiaberta. De todas as coisas que já viu, os dragões da Rainha Targaryen são a mais grandiosa.
Jon Snow é o primeiro rosto que Bran reconhece de verdade a atravessar os portões. Ele ostenta o perfil de mármore de um líder que já esteve em várias situações difíceis. Quando seus olhares se encontram, Jon Snow avança em sua montaria até o jovem na cadeira de rodas. Seu coração palpita. Jon desmonta com destreza, avançando-se em direção ao irmão. Com sua mão direita, a mão de guerra, ele puxa o garoto para si e o abraça. Bran Stark não é mais um garoto.
— Você já é um adulto. — Jon observa. O sorriso orgulhoso do único irmão mais velho.
— Quase. — Bran responde. Os olhos correndo até a rainha de Jon. Daenerys Targaryen.
Jon se dirige à irmã, Sansa, os cabelos cor de fogo da jovem emoldurando o rosto de quem já viveu muito.
Eles se abraçam, mas os olhos da garota Stark não abandonam a figura imóvel de Daenerys Targaryen, encarando o reencontro com apreensão.
— Onde está Arya? — Jon quer saber.
— Espiando em algum lugar. — Sansa responde.
Daenerys então se aproxima. Ela anda com a postura imponente de rainha que ostenta.
— Rainha Daenerys da Casa Targaryen. — anuncia Jon Snow. — Minha irmã, Sansa Stark, Lady de Winterfell.
A distância entre as duas é suficiente para um aperto de mão. Que não acontece.
— Obrigada por nos receber em sua casa, Lady Stark. O norte é tão bonito quanto seu irmão o descreveu. Assim como a senhora.
Os olhos de lobo de Sansa Stark inquirem.
— Winterfell é sua, Majestade. — as palavras atravessam a garganta de Sansa como adagas.
— Não temos tempo para nada disso. — diz Bran. — O Rei da Noite tem seu dragão. Ele é um deles agora. — ele encara Daenerys com seriedade. — A Muralha caiu. Os mortos marcham para o sul.
As expressões em todos os outros rostos são de apreensão e medo.

The Long Night (Fanfic de Game of Thrones)Where stories live. Discover now