Ninguém disse que seria fácil

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Pétula olhava pela janela do avião sem nada ver. A jovem estava esgotada, exausta da culpa que a consumia lentamente. A causa de tamanho sofrimento foi o terrível acidente que matou seu namorado e suas duas melhores amigas. Se ela não tivesse discutido com Henry, não teria saído feito louca com o carro e os três não teriam ido atrás dela. O carro de Pétula não teria capotado e nem o de Henry teria perdido o controle e caído no barranco. Pétula sofreu uma fratura em três pontos da perna e um pequeno corte na sobrancelha e o fato de só ter se machucado a deixava inconformada. Tudo isso um mês depois de ter perdido o pai, várias perdas tão recentes acabaram mexendo com o psicológico de uma garota de dezoito anos.

Reflexo disso foi que um dia, sua mãe, Vivian chegou do trabalho e a encontrou com os pulsos cortados. Tal atitude fez com que Vivian se mudasse com a filha para Amaroc, lugar em que nasceu e viveu até os dezoito anos de idade junto com Zigmunt, seu irmão mais velho.

Pétula queria saber em que uma viagem a faria melhorar, principalmente para Amaroc, lugar que pelo que ela sabia era uma cidade pequena, antiga, chuvosa e sombria. A parte boa era que veria seu tio, que apesar de não o ver desde pequena, todas as lembranças que tinha dele eram boas.

Vivian olhava para a filha tentando imaginar em que tanto pensava. Lamentava ela ter passado por tudo aquilo tão jovem, e faria de tudo para que sua filha voltasse a sorrir, e por isso aceitou o convite do irmão para voltar. Uma mudança drástica de ares daria a Pétula muito que pensar e apesar de pequena, Amaroc tinha infinitas maneiras de fazer com a filha melhorasse. Ela mais do que ninguém sabia disso.

Quando disse que faria tudo pela felicidade da filha, incluía retornar para a cidade que jurou nunca mais voltar. Vivian faria de tudo pela felicidade da filha, nem que isso custasse a sua própria felicidade.

As duas desembarcaram na cidade vizinha por volta das três da tarde. Vivian olhava para o relógio a todo instante, se Zigmunt demorasse para chegar, chegariam em Amaroc depois do pôr do sol, coisa que se esforçara muito para não acontecer. Pétula também estava ansiosa, queria conhecer logo sua nova casa. Como seria Amaroc?

— Zigmunt! — ouviu sua mãe falar passando por ela e se jogando em cima do homem que vinha até elas num grande abraço. Pétula espantou-se ao ver sua mãe daquele jeito, nunca a via expressar seus sentimentos em público.

A garota ficou observando as semelhanças entre sua mãe e seu tio. Apesar de Zigmunt ter seus quase cinquenta anos, seu físico era de dar inveja a muito jovem por aí: alto, ombros largos e baraços fortes. Tinha o cabelo tão rubro quanto o de Vivian, e pendia ondulado até o ombro, os olhos também eram parecidos, de um castanho claro quase chegando ao dourado. A única diferença nos olhos dos dois era que os olhos de Zigmunt eram risonhos, ao contrário dos olhos da mãe que mesmo quando estava sorrindo mostrava uma certa amargura.

— Minha nossa Vivian! — disse Zigmunt soltando-a. — Essa aqui é a Petty? A pequena Petty?

— Sim, sou eu tio. — respondeu Pétula tentando dar o seu melhor sorriso. O tio a prendeu num abraço de urso.

— Como você está parecida com sua mãe. — o que não era verdade. Pétula herdara os cabelos ruivos da mãe, mas ao invés de cachos, desciam extremamente lisos até o meio das costas e eram vários tons mais escuro. E os olhos, eram verde-esmeralda. Pétula sempre achou que se pareciam mais no modo de pensar e agir, do que fisicamente.

— Não tanto como você, tio. — respondeu a sobrinha, fazendo com que Zigmunt soltasse uma sonora gargalhada.

— Acho melhor irmos. Se chegarmos em Amaroc depois do pôr do sol, sua mãe me come vivo. — Zigmunt disse pegando as malas e pondo-as na porta- mala do carro.

AmarocWhere stories live. Discover now