CAPÍTULO I - A MOÇA

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Luigi morava em uma pequena casa bem localizada e com uma bela vista pro mar. Dezenas de pessoas iam e viam todos os dias, em uma rotina cansativa e análoga aos dias anteriores.
Mas aquele dia estava diferente, as ruas estavam tão vazias e tão silenciosas que Luigi tivera a impressão que era o único na cidade.

TOC - TOC - TOC!

- Quem é? - perguntou Luigi ao ouvir as fortes batidas na porta.
- Sinto muito, estamos fechados.
TOC - TOC - TOC!
Mais uma vez as batidas foram ouvidas, só que dessa vez mais fortes.
- Você está surdo? Estamos fechados! Repetiu Luigi começando a alterar o tom de voz.
Luigi era um homem muito paciente e compreensível, eu nunca o vi alterar o tom de voz com alguém, ele presava pela paz e tranquilidade. Mas a pessoa na porta já estava abusando de sua integridade; e juntando com o dia frustrado que Luigi estava tendo, não demorou muito para que ele fosse tirado do sério.
- Deixe-me entrar, por favor! Disse a voz que estava do outro lado em um tom de desespero.
A voz era feminina, e parecia rouca e desgastada.
- Quem é você? Perguntou Luigi.
- Eu sou apenas uma jovem moça; se não me deixar entrar eu ficarei em altos apuros - Respondeu a moça - .Deixe-me entrar, então responderei todas as suas perguntas.
Luigi dirigiu-se até a porta e abriu-a. Viu uma jovem mendiga toda despenteada que estava com um ar de desespero no rosto. A moça entrou na casa apressadamente e olhou para todos os lados como se estivesse procurando algo.
- O que está procurando? Perguntou Luigi.
- Me esconda. Respondeu a moça.
- Você não é fugitiva da lei, não é?
- Claro que não, acredite em mim.
- Está bem.
Luigi apesar de não levar muito jeito com as pessoas, ele se deteve de compaixão pela jovem que estava à sua frente; então escondeu-a dentro de um armário velho onde ficava seu material para modelagem.
De repente o padeiro (que estava bem furioso por sinal) entrou pela casa procurando a moça.
- O que queres aqui, Albert? Perguntou Luigi.
- Estou a procura de uma rata imunda que adentrou-se em minha padaria e roubou alguns pães e bolos. Respondeu Albert.
- Por acaso estás a dizer que estou escondendo ela aqui?
- Eu a vi adentrar seus aposentos.
- Como se atreves a levantar-me tamanha calúnia?
- Escuta aqui, ou você diz onde está a moça, ou eu…
- Ou o quê? Por acaso pensas que tenho medo de suas ameaças? Eu não gosto de abusar do poder de influência que eu tenho sobre esta cidade, mas se ousar voltar a fazer-me tamanha acusação, serei obrigado a ter dois dedinhos com o meu amigo, delegado Lumiere.
- Mas, eu tenho certeza que a vi entrar aqui.
- Retire-se daqui agora!
Sem resmungar o padeiro deu as costas para Luigi e retirou-se de sua casa.
Eu daria uma vida para ter visto essa cena. Luigi sempre foi tão gentil comigo e com as pessoas ao redor, nunca o vi enfrentar alguém com tanta determinação. Mas se ele disse, quem sou eu pra duvidar?
Quando o padeiro saiu, Luigi foi até o armário para avisar a moça.
- Ele já foi. Disse Luigi.
- Muito obrigada. Respondeu a moça.
- Agradeça-me depois de dizer o porquê de você ter se adentrado nos aposentos de Albert para furtar-lhe mercadoria.
- Bem, eu não tinha a intenção de prejudicar ninguém, mas, faz alguns dias que eu não como nada; as pessoas te olham diferente quando se é jovem e está pedindo esmolas na rua; nem se quer um prato de comida alguém me ofereceu. Mas, eu prometo que não farei isso novamente.
As lágrimas desceram pelo delicado rosto da moça, que dirigiu-se para fora da casa de Luigi.
- Espere! - disse Luigi - Aonde você vai?
- Me entregar a sorte novamente. Respondeu a moça de cabeça baixa sem coragem de olhar Luigi nos olhos.
- Por que não fica aqui?
- Eu? Uma garota com um jovem solteiro, não sei não…
- Me perdoe se a proposta pareceu indecente, eu quis dizer que, estou a procura de alguém para me ajudar nos afazeres domésticos. Eu não pago muito, mas posso te dar comida, e você pode ficar no quartinho de hóspedes, o que acha?
- O senhor está falando sério? Está oferecendo emprego a uma mendiga que acabou de conhecer?
- Estou feliz por ter sido sincera comigo, eu não vejo maldade em seus olhos.
A moça se encheu de alegria e deu um abraço forte em Luigi. Ele não soube reagir à forma de agradecimento sincero da garota, apenas ficou paralisado e sem reação.
- Bem, ainda não me disse seu nome. Perguntou Luigi após a moça soltar-lhe do abraço sufocante.
- Eu me chamo Isabel. Respondeu a moça.
- Prazer, Isabel, eu me chamo Luigi, já deve ter ouvido falar de mim.
- Na verdade não…
- Não tem problema, venha Isabel, vou mostrar-lhe onde fica seus aposentos.
Isabel seguiu Luigi pela casa enquanto ele lhe mostrava todos os cômodos e contava-lhe a história sobre cada um de suas esculturas.
A jovem tinha apenas dezoito anos, e assim comigo Luigi, ela passara toda sua vida em um orfanato. Quando alcançou a maior idade as freiras não permitiram mais a sua permanência no lar para meninas órfãs. Ela sempre fora bem doentinha; quando criança foi uma das poucas crianças que conseguiu se livrar da maldita gripe suína que se adentrou na França. Porém ela carrega consigo pequenas sequelas. As meninas a tratavam com indiferença, por medo de contraírem alguma doença ao menor contato que tivessem com ela. Durante toda sua estadia no orfanato ela quase nunca tivera contato com garotos. Só conheceu de verdade o mundo  (e a pior parte dele por sinal) no pouco tempo que estivera fora do orfanato.

MADELINEWhere stories live. Discover now