MUITO ALÉM DA VIDA

Capítulo da história sem título

Eu posso não saber tudo da vida, mas que aquilo foi estranho eu não tenho a menor dúvida. Você estava me olhando e eu tentei fingir que era um sonho. Até você me tocar e eu desmaiar.

Quando acordei você já não estava mais ali. Eu estava rodeada de pessoas me encarando, preocupadas em saber se eu estava bem. Daqueles rostos eu não conhecia nenhum, mas o seu, eu te garanto, eu nunca esqueci.

Fui ajudada a me levantar por uma mulher com seus 60 anos que me disse bem baixinho:
- Venha cá, meu amor. Você bateu a cabeça bem forte. Cuidado para se levantar, ok?

Eu estava um pouco confusa. Agora não estava mais me lembrando de muitas coisas que aconteceram antes da minha queda. Fiquei preocupada mas tinha certeza de que ia passar dentro de alguns instantes.

Sentei na calçada em meios às pessoas que passavam pra lá e pra cá. O dia estava quente, o sol era forte e dificultava minha visão.

- O que aconteceu? - perguntei à senhora.

- Você caiu e bateu com a cabeça. Mas vai ficar tudo bem.

- Mas o que...

Fui interrompida imediatamente pela senhora.

- Olha, Luiza, eu não tenho muito tempo agora. Preciso voltar urgente. Essa pedra é o caminho. Não largue dela jamais, por favor. E não conte a ninguém sobre isso.

Pude sentir ela passando a pedra pra minha mão. Tentei focar no rosto dela, mas não estava reconhecendo esse rosto.

- Preciso ir. Adeus.

Ela se levantou em meio à multidão e sumiu. Tentei levantar rapidamente e me senti zonza.

- Volte, por favor. Quem é você? - exclamei sem respostas.

Fiquei segurando aquela pedra sem entender nada do que tinha acontecido ali naquele momento. Me levantei no intuito de ainda poder enxergá-la, mas não consegui localizar. Examinei a pedra que ela me deu e fiquei pensando que raios de pedra é essa que eu não poderia mais largar? De onde veio isso? O que será que tem de tão especial nela?

Entrei no metrô a caminho de casa e não parei de pensar naquilo. Fiquei olhando meu celular para passar o tempo e acabei cochilando. Acordei assustada com a parada brusca na estação. Por sorte era a minha. Peguei a mochila e saí apressadamente.

Chegando em casa, encontrei meus pais na sala. Eles estavam comentando sobre uma tal viagem e tentaram me incluir no assunto. Dei um beijo neles e disse que precisava urgente de um banho, pois estava super cansada.

- Você deve estar faminta, querida. Vou fazer aquela sopa de legumes que adora.

- Obrigada, mãe. Vou tomar banho e já já desço.

Meu pai ficou me olhando e notou que tinha algo errado. Me lembrei da senhora dizendo para eu não contar a ninguém sobre aquilo e dei um sorriso falso para ele afim de não entrarmos em qualquer assunto possível. Eu só queria relaxar um pouco.

- Dia difícil, hein? - perguntou com aquele olhar desconfiado.

- Um pouco. Tive muita coisa no trabalho e tô exausta. Minha cabeça está latejan...

"Isso, Luiza. Parabéns. Não ia começar o assunto e já está entregando tudo", pensei.

- Mas vai passar com a sopinha da mamãe. Volto num instante, papai.

-Ok, disse ele. Não demore, antes que a sopa esfrie.

- Não coma minha parte - brinquei com ele.

- Prometo.

Saí em disparada para o meu quarto. Fechei a porta logo atrás de mim. Abri o chuveiro para que a água fosse esquentando. Aqui em casa demora um pouco pra água esquentar, diga-se de passagem. Meu pai sempre ficou de arrumar isso, mas não é algo que me incomode tanto.

Abri minha mochila e logo peguei a pedra para examinar mais uma vez. Ela era pequena e cabia na palma da minha mão. Lisa e azulada. Achei estranho, pois me lembrava dela ser de outra cor beeem mais escura. Um preto bem forte. Por conta da queda e do sol, acho que confundi a cor na hora, mas ela era linda e eu não tinha a mínima ideia do que fazer com ela. Guardei de volta na mochila e fui tomar um banho.

- A sopa está uma delícia, mãe. Obrigada.

- Sabia que ia gostar - disse ela. Mães sempre sabem de tudo.

Eu estava agora começando a me lembrar das coisas. Da queda, da pessoa que chegou e encostou em mim. Mas ainda não tinha me lembrado por completo do rosto dele. Quem seria e o que queria de mim?