❤ Capítulo 8

5.3K 1.3K 303
                                    

Coloco o celular em cima da bancada e diminuo o volume da música, deixando apenas uma suave melodia

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Coloco o celular em cima da bancada e diminuo o volume da música, deixando apenas uma suave melodia. Os sentidos são muito importantes para nos guiar, então, distrações não são muito bem-vindas se precisar de foco. Algo pode passar batido ou corremos o risco de nos acidentar.

Ane mandou mensagem agora há pouco avisando que vai se atrasar. Um cliente pediu para refazer a campanha em cima da hora e toda a agência foi acionada. Estou tão empolgada que abriu meu apetite. Não vou esperá-la para cozinhar, não. Eu mesma prepararei o jantar.

Minha mãe era uma excelente cozinheira, aprendi cedo a fazer alguns pratos. Desde que aceitei minha cegueira, comecei a praticar usar o fogão e os utensílios de novo.

O segredo é a persistência e a prática. Errei muito até me adaptar, como uma pessoa vidente também erra quando está apreendendo. É necessário treinar e não ter pressa. A paciência é uma virtude fundamental para quem tem alguma deficiência.

É mais demorado fazer tudo sozinha, no entanto, viável. Em casa, a maioria das vezes meu pai me auxiliava. Aqui, minha amiga ajuda.

De manhã, Ane deixou duas postas de salmão descongelando. Vou fazer um purê de mandioquinha para acompanhar o grelhado.

Abro a geladeira e pego o recipiente com o peixe. Em seguida, tateio as gavetas para encontrar os tubérculos. Cenoura, inhame, batata e o que preciso estão no primeiro compartimento do lado esquerdo. Apalpo e logo identifico, colocando-os em cima da pia.

Para facilitar, organizamos a cozinha com tudo mais perto possível. As panelas ficam embaixo da pia, os potes em um armário do lado direito e o fogão do lado esquerdo.

Procuro com os dedos uma panela média e encho de água. Para saber se o fogo acendeu, é só aproximar a mão e sentir a temperatura.

Enquanto a água ferve, apanho o descascador na gaveta e começo a preparar a mandioquinha. É fácil identificar se ficou casca: as texturas são diferentes. Basta notar.

É incrível como nosso corpo se adequa a nós. Nossas limitações nunca vencem, se não deixarmos que isso aconteça.

No começo, eu me rendi à cegueira, mas depois de um tempo, percebi que sou muito maior que ela. Muito mesmo!

Com uma faca na mão, corto os pedaços em tamanhos menores para facilitar o cozimento e coloco na água que já ouço borbulhando. Uma parte concluída com sucesso, hora do peixe.

O que eu mais errava no começo era o tempero. Ora ficava demais, ora de menos. Uma saída que encontrei é fazer uma espécie de molho em um recipiente e jogar ali o que preciso temperar, assim posso ter um pouco de controle. Já sei as medidas de cor para cada tipo de carne, então, só misturo e deixo reservado para pegar o gosto.

Faço isso com o salmão e confiro com um garfo se a mandioquinha amoleceu.

— Só mais um pouquinho! — falo sozinha, remexendo ao som da música baixa que sai do meu celular.

Veja | Sentidos 2  [DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora