Christian Grey

Capítulo 4

Por mais que tentasse convencer-se do contrário, o reencontro com Christian nessa maldita noite do desaparecimento de Jô deixou Anastasia profundamente abalada. Ele estava diferente, mudado, muito mais frio e introvertido do que o homem com quem se casara há quase seis anos. Mas, apesar de experimentar o auge do sucesso com sua firma, que agora invadia o lucrativo setor da informática, o racional e arrojado empresário havia exposto o único ponto vulnerável de sua forte personalidade: o amor que sentia pela filha. Seria ingenuidade duvidar da importância que aquela criança tinha na vida de Christian Grey.

As horas custavam a passar e Anastasia, nos extremos da aflição e da ansiedade, não parava de olhar para o relógio. Deus do céu, por onde andaria sua filha? Se ao menos Christian estivesse ali para confortá-la e dividir com ela aqueles momentos penosos. Mas não, isso era impossível. Como podia esperar uma atitude dessas de alguém de quem estivera afastada havia tantos anos?

Após o nascimento de Jô, Anastasia insistira em obter o divórcio o mais rápido possível. Christian tentou de todas as formas tirar essa idéia de sua cabeça, mas ela estava irredutível. Por que havia sido tão obstinada? Para que tanta teimosia? Bem, talvez fora a mudança emocional provocada pelo parto que a fizera reagir violentamente — o que não era de seu feitio — ao saber, que Christian tinha um relacionamento íntimo com outra mulher.

Além de sofrer uma surpreendente crise de ciúme, Anastasia se magoara com o fato de Christian ter omitido a existência de um compromisso sólido entre ele e Laura. A revelação feita por Camilla viera no pior momento, justamente quando Anastasia comecava a se envolver com Christian. rendendo-se ao charme daquele homem, chegando mesmo até a pensar num futuro ao lado dele.

O orgulho fez com que Christian Grey desistisse da tentativa de persuadir Anastasia a continuar casada com ele, e. antes que o divórcio fosse homologado, ela sequer permitia que Christian visitasse a filha. Depois, por decisão judicial, fora obrigada a deixá-lo ver a menina de quinze em quinze dias. Em troca. Christian concedia-lhe uma generosa pensão, mas Anastasia nunca chegou a tocar num só centavo desse dinheiro e, só após muita insistência, permitiu que ele arcasse com as despesas dos estudos de Jô.

O tempo escoava lentamente na angustiante espera por alguma notícia da filha, imobilizada entre aquelas quatro paredes, Anastasia viu-se forçada a encarar pela primeira vez as conseqüências da vida que escolhera levar. Por mais que se esforçasse para provar a si mesma exatamente o contrário, seu dia-a-dia era monótono e sem graça. Por mais que negasse, seus sentimentos para com Christian haviam se alterado nos meses em que permanecera no hospital. Tinha de admitir que ele não era o maníaco sexual que imaginara, mas sim um homem sensível, inteligente e extremamente atraente. Se ele tivesse lhe pedido, alguns dias, antes do comentário feito por Camilla, para viverem juntos como marido e mulher, ela não teria hesitado em aceitar, mas aquele maldito acidente e uma desconcertante nota sobre ele e Laura no jornal de domingo haviam posto tudo a perder.

Recostada nos travesseiros da cama que ocupava no luxuoso quarto da maternidade, com a filha a balançar suavemente no berço ao lado de seu leito, Anastasia ficara impassível, a olhar para o artigo sensacionalista de jornal durante intermináveis momentos de dúvida e decepção. Era mais uma dessas matérias imbecis sobre as grandes personalidades do mundo dos negócios. Desta vez os escolhidos eram Christian Grey e a mulher de sua vida, a secretária Laura Verney, uma bonita morena que posara ao lado dele para a tradicional fotografia que ilustrava o artigo. Pelo que diziam, não era apenas a privilegiada garota selecionada para mais um fim de semana de lazer do empresário, mas também uma moça de indiscutíveis atributos e qualificações físicas e profissionais para disputar os méritos daquela que daria apoio emocional, suporte e estabilidade ao famoso homem de negócios.