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Não sabia quanto tempo eu teria que permanecer de pé esperando pelo magistrado, só sabia que de mérito ele tinha pela demora dele. Fala sério!

Uma semana havia se passado e quase todos os dias o advogado, Antônio Carlos, conseguiu ir me ver, apesar de estar na solitária. Isso gerou um murmurinho entre as outras mulheres e no dia em que eu pude voltar para a minha cela, elas me agrediram violentamente. Só não morri por causa da guarda Alexandra Silva e sua parceira, Débora Fogaça, que faziam a troca de turno.

Elas me levaram para a enfermaria e ordenaram prender todas as envolvidas na solitária também. Para a minha sorte, aquela noite era a última e eu poderia dormir em paz, sabendo que meus inimigos estavam bem longe de mim.

Quando chegou a hora de ir para o meu julgamento, as mesmas guardas, que me salvaram daquele episódio, me acompanharam pelos corredores da prisão e conversavam entre si:

— Tchê, você é bem durona — Débora comenta primeiro para a sua parceira sobre mim, que apenas as observava no decorrer do caminho. Passamos por várias celas e as prisioneiras não trocam olhares amigáveis comigo. Eu estava no sul do país, mas ainda não entendia como sobreviveria aquelas gírias nas quais eu não estava familiarizada, sendo eu uma paulista adotada.

— Pois é! Mas você sabe quem era aquela guria? A nossa pior detenta, ela não aceita muito bem quando alguém rouba o trono dela na prisão — Alexandra responde bem mais animada do que a primeira. — Lembra daquela vez que ela conseguiu arrancar o olho de sua companheira de cela com um garfo? Foi assustador!

— Bah, ainda bem que está indo embora — ambas fofocavam como se eu estivesse interessada no assunto. — Aquela lá não gosta de submeter a ordens de outros.

— Conheço bem esse tipo de gente — resmungo. Já estávamos próximas da chegada, quando eu decido questionar uma coisa com elas. — Vocês conhecem Drew Schmidt?

Débora troca olhares com sua amiga e voltam a olhar para mim. Elas certamente sabiam de algo. Cruzo os braços esperando pelas respostas.

— Eu não o conheço pessoalmente, mas a Lê fez todo o curso para policial com ele, para a minha tristeza, que somente um ano depois fui fazer. Ele é um homem que você não esquece facilmente. A presença dele é bem marcante. Quando você vê-lo, saberá quem é — Débora se inclina para mim, como se aquilo fosse um segredo e precisasse ser guardado a sete chaves.

— Bah, larga a mão dessa ideia! O guri nem presta. Me diga que você não está trovando esse tipo de gente... — repreende Alexandra, fazendo uma careta de que não gostou nada ao ouvir sua amiga paquerando o outro guarda.

Débora faz uma expressão de quem foi pega em flagrante e isso provoca um revirar de olhos em sua companheira.

— Que barbaridade! Deixe de ser boca aberta. — Então ela se vira para mim, acrescentando: — Você sabe aquele personagem de livro, em que o mocinho é frio e misterioso por fora, mas por dentro, um chocolate derretido? Esqueça isso a respeito dele. Drew foi promovido a tenente alguns meses atrás, porém age como se fosse o próprio coronel. Pelos lugares em que andou, conheceu muita gente importante, e hoje se tornou um dos braços direitos do capitão. Desde a promoção, ele quem tem liderado as equipes, tanto de assaltos, contrabandos, tráfico de drogas... Eu li sobre o seu caso, Drew quem comandava, ele não ficou muito feliz por só ter conseguido você. Bah tchê, estou até surpresa por ele não ter passado para outro companheiro o seu caso! — exclama ela no final com um sorriso amigável.

Eu teria conseguido mais informações, contudo, já havia chegado na recepção para a minha transferência. O guarda jovem, que me levava para as visitas de meu advogado, estava na porta, esperando por mim.

O Alumiar do DestinoWhere stories live. Discover now