Capítulo 1

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Mais um dia, mais uma festa, mas algumas fotos, mais seguidores, mais status, mais storys, mais do mesmo.... Troco-me sem muito interesse, deixo a cargo de minha personal stalish a escolha do look da noite, pego uma combinação qualquer que ela deixou pronta e a coloco, uma minissaia rosa escura, quase fluorescente rendada, e uma blusa preta com pérolas, o salto preto que coloco tem oito centímetros de salto, enfeitados com pérolas, fico incrivelmente linda, como sempre. Deixo meus cabelos compridos e ruivos brilhantes soltos, esvoaçados, coloco acessórios e estou pronta. Olho para meu telefone distraída à espera da minha melhor amiga, Pricilla me mandar mensagem avisando que está chegando para me buscar. Odeio dirigir, só faço isso em estremo caso, até nos filmes que atuo evito ao máximo, o medo do volante provavelmente veio pelo que houve no passado comigo e com a minha irmã mais velha Amelly, até hoje ainda tenho pesadelos com o acidente que tirou minha irmã dos equipamentos de ginastica e de seu futuro brilhante nas olimpíadas. Afasto os pensamentos da mente e vejo que há uma mensagem da Pri, desanimada desço as escadas da casa dos meus pais e entro na Ferrari amarela de minha amiga. Quem sabe essa noite não seja diferente?

Mais uma festa como outras tantas que vou, afastamos paparazzis, desviamos do transito caótico e corremos dos fãs. Fingimos sorrisos a concorrentes e futuros concorrentes, tapinhas nos ombros de inimigos, e risos histéricos a amigos depois de todos bêbados. Uma festa qualquer, no final, ninguém mais sabe onde está ou quem é.

-Llanny, o Jonny está te procurando, já adianto que ele está gato! Temos bom gosto.-ela ri.

-Temos? Eu tenho, né amiga?-pergunto com ironia. Jonny é meu namorado, um ator gato de filmes de romance, já contracenei com eles diversas vezes, sempre nos demos bem, no final do terceiro ou quarto filme estávamos namorando e assim, em meu vigésimo quinto aniversário completamos nosso segundo ano de relacionamento, cheio de polémicas, manchetes sensacionalistas e falsas traições, tudo previsível, bem comum e entediante.

-Vamos?-Pri pergunta depois de dar de ombros desinteressada com minha ironia. Concordo e a sigo.

Encontro Jonny já passa dos limites aceitáveis de álcool, seu grupo de amigos não estão muito diferentes dele, nos juntamos ao grupo, um cara qualquer abraça minha amiga, meu namorado enlaça minha cintura em uma forma possessiva, sorrio, ele deve me amar. Minha carreira começou muito antes da dele, se já não fosse bastante minhas apresentações nas competições de patinação desde os dois anos e depois nas olimpíadas como ginasta, também fiz participações em alguns filmes logo na infância, ainda havia minha irmã brilhando na ginastica artística, meus pais com passados gloriosos nas olimpíadas e hoje ricos, muito ricos. Tudo isso e meu talento nato me levaram ao topo de Hollywood, me deram centenas de milhões de seguidores em minhas redes sociais, milhões de capas de revistas com meu perfeito rosto estampado em destaques, também me deram rios de dinheiros e muitas mais coisas.

-Você dirige Amor. –Jonny avisa jogando as chaves da Pri em minhas mãos.

-Não, chamamos um taxi.-rebato devolvendo as chaves.

-Meu carro não pode dormir na rua!- Pri reclama.

-Nada vai acontecer.-tento ser calma e controlar meu pânico pela direção.

-Dirige e pronto, to morto, quero ir para casa.-Jonny reclama se acomodando no banco traseiro.

-Vai um de vocês.-rebato.

-To podre de bêbado, não rola.-Jonny rebate fechando os olhos.

-Também, você bebeu menos.-Pricilla encera a discussão entrando no carro do lado do passageiro. Suspiro quando vejo que perdi a batalha.

Ligo o carro e faço exercícios de respiração que aprendi com meu terapeuta, respiro e inspiro, mudo a marcha do carro, ele parece pesado e rápido. Respiro fundo, controlo o medo e faço uma curva, o carro vai rápido, desliza na pista de forma assustadora, seguro um grito, calma Mellanny, ''você está sendo medrosa'', me alerto. Respiro mais um pouco, bebi pouco, isso não afeta minha respiração, apenas o medo, o longo e constante medo, quando estou como passageira consigo me controlar. Me distraio com alguma mensagem, leio ou converso, apenas não suporto a alta velocidade, um túnel, uma ponte ou passar perto de algum acidente, poucas pessoas sabem do meu medo. Continuo firme, deixo Jonny em sua casa e vou em direção a casa da Pri, ela parece artisticamente sonolenta, fala pouco e por segundos parece cochilar, bebeu demais, como sempre, reviro os olhos com o óbvio e tão comum dela.

-Chegamos.- informo tocando em seu ombro.

-Obrigada. Pode ir para sua casa. Obrigada.-ela responde se levantando e saltando do carro.

-Vou chamar um taxi.-respondo.

-Que nada! Amanhã eu busco o meu carro, aí a gente vai no shopping, preciso de um bronzeador. -ela conta distraída.

-Vamos, você me busca. Vou ligar para o carro.-concordo saindo do carro e mexendo no telefone.

-Vai fazer essa desfeita amiga? Usa meu carro e pronto, amanhã a gente se encontra e você devolve, sem pirar. –passamos minutos discutindo, Pricilla se mostrou acordada e sóbria o suficiente para isso. Por fim, concordo, o que pode acontecer de mais? Entro no carro e ligo o motor.

-Llanny, precisa arrumar o banco.-Pri me lembra.

-Não, está bom assim.-respondo.

-Tem que arrumar, calma ai, eu faço isso.-ela meche na trava nas minhas costas, depois arruma os retrovisores, meche na porta e por fim bate rindo na traseira do carro.

-Esta pronto! Boa viagem! –ela ri.

-Obrigada. Até amanhã.-respondo.

-Até, beijo! –ela manda beijinhos no ar, e eu volto a ligar o carro. Saio de sua rua com o carro em seu limite mínimo de velocidade.

Dirijo com cuidado, me convenço que sou forte e posso enfrentar esse medo, Amelly, minha irmã, conseguiu voltar a dirigir mesmo depois do acidente, ela seguiu com a vida dela mesmo depois de tudo, não somos muito próximas, a odeio por sempre ser tão perfeitinha, caridosa, viagens filantrópicas, marido, casa e filhos, tem como ser mais patético? Se minha irmãzinha mais velha conseguiu mesmo sendo fraca, amável e nunca lutando, eu vou conseguir. Me convenço.

Percebo que o carro faz barulhos estranhos, me assusto e tiro o pé do freio, espero que o carro pare, mas isso não ocorre, o que acontece é que ele continua, luto desesperado com o volante, mas nada acontece, minha luta é em vão. Um carro se aproxima, já estou na faixa errada, espero o pior, e ele acontece. Quando menos espero há luzes ao meu redor, há sirenes e ambulâncias, policias gritam ordens de lá para cá, palavras entram em meus ouvidos, mas não as decifro, ela apenas estão lá, coisas acontece, mas não percebo o que, minha mente volta para 10 anos atrás, quando eu ainda era uma adolescente, quando por minha birra minha irmã perdeu o controle do carro, e aqui estou hoje, tanto tempo depois em outro acidente, por minha culpa. Me perco em memorias e fatos, e fico ali, presa em um redemoinho sem volta... presa em mais uma das minhas inúmeras crises de pânicos desde o fatídico dia.

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Salvando um destinoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora