Capítulo 38: Objetos

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      Acordei com Mika abrindo as cortinas.
De verdade, será que ela não conseguia me acordar de um jeito mais sutil?
Me levantei rápido demais e vi pontos pretos cobrindo minha vista.
Me deitei novamente, bufando. Mika se virou.
- Bom dia!
Senti minha vista se clarear e esperei uns cinco minutos antes de me levantar.
- De verdade, você pode me acordar como uma pessoa normal?
Ela deu de ombros.
- Eu não sou uma pessoa normal, e você também não é. Agora, você pode se arrumar logo para que nós possamos tomar nosso café da manhã?
- Que horas são?- eu perguntei, abrindo minha mala para escolher uma roupa.
        - Sete e meia. Você deveria estar feliz por eu não ter te acordado às sete.
       - Mika, a competição só começa uma da tarde!
         - Mas o café da manhã começa as sete! Sem contar que normalmente quanto mais cedo nós chegarmos, menos pessoas vão ter lá, e eu não estou afim de ficar perto de pessoas por mais tempo que o necessário.
         Percebi, que Mika tinha deixado a mala dela em cima da mesa, o que eu achei muito mais prático do que eu estava fazendo, que era deixar a minha ao lado da minha cama, então assim que escolhi minhas roupas coloquei a minha mala ao lado da dela.
      - Eu fico pronta em dez minutos- eu disse, enquanto entrava no banheiro.

      ***

     Quando chegamos no andar de baixo, vi Adrien sentado com Natalie em uma das mesas. Eu olhei para ele e acenei, logo depois percebendo que Mika estava indo para o lado oposto.
      Puxei-a pelo braço.
      - Mika, vamos sentar com eles!
      Ela fingiu surpresa, o que não foi nem um pouco convincente.
      - Nossa, eu nem os vi!
      Me virei para ela e franzi a testa.
      - Qual é seu problema com ele?
     Ela cruzou os braços.
     - Nenhum! Eu só não confio nele.
     - Mika, você não confia em praticamente ninguém! As vezes eu acho que você não confia nem em mim.
    - Claro que confio!- ela disse, sorrindo e colocando as mãos nos meus ombros- Se você quiser sentar com ele, eu vou com você, mas vamos, a gente está parada no meio da passagem e aqui não é o lugar nem a hora para discutir suas escolhas de amizade. Mas o problema aqui é ele, não você.
- Vamos sentar lá então- eu disse, acenando na direção deles, que acenaram de volta.
***
- Então- eu perguntei, dando mais uma garfada no meu ovo mexido- quais são os planos para hoje?
- Fora ganhar de você?- Adrien fingiu pensar um pouco- não sei.
Revirei os olhos, rindo.
- Ler até a hora da competição- Mika disse, dando de ombros- assistir a competição, voltar a ler..
Soltei meu garfo, o que fez um pequeno barulho.
     - Você vai ver a competição?
     Ela deu de ombros.
     - Claro! Eu já estou aqui mesmo...
     Mika, apesar de ter permitido que eu surfasse, odiava que eu estava aumentando as nossas chances de sermos descobertas e nunca tinha ido a nenhuma das minhas competições, nem mesmo o torneio que eu competi com Adrien, o maior evento de surf que eu sonhava em ir à anos.
Eu sorri e, não sei o por quê, mas eu acho que vi um traço de arrependimento no seu olhar assim que ela sorriu de volta para mim.
      - Então- Adrien disse quebrando o silêncio- Amelia, você quer ir para a praia daqui a pouco? Treinar um pouco antes da competição.
Sorri.
- Claro.

***

Quando voltamos ao quarto, a primeira coisa que eu fiz foi ir até minha mala e abri-la em busca da minha roupa de surf.
     Olhei para a mala e reparei que o chapéu de Mika estava nela.
      - Mika- eu disse tirando o chapéu- eu acho que isso...
       Perdi a fala quando vi o que tinha embaixo do chapéu: um pequeno punhal dourado.
Deixei o chapéu cair no chão.
- Essa não é a minha mala- murmurei com o punhal em mãos.
Ela fez uma expressão arrependida e se aproximou.
- Liz, não é o que você está pensando....
- Você trouxe um punhal! Mesmo eu te dizendo para confiar em mim!
- Eu posso explicar.
- Mika, qual o intuito disso? Você estava planejando assassinar alguém em plena terra?
- Não, eu posso explicar...
      - Meu deus, Mika, eu te disse que não teria nada com o que se preocupar!
      - E eu te disse que não tinha como você prometer isso! Agora se você me deixar falar...
      Eu arregalei meus olhos.
      - Você não estava realmente planejando matar os adversários para eliminar a concorrência, não é?
     - Não! É claro que não! Só... se sente.
      Eu estava brava, mas não ia nega-la uma chance de se explicar. Fui meio hesitante até minha cama e me sentei na sua beirada, até porque ela estava com uma lâmina na mão e não seria muito sábio da minha parte desobedecê-la.
    Ela se manteve distante.
     - Você se lembra da história que eu te contei, não é? Do homem e da sereia e de como ele transformou o ouro dos nossos colares em cinco punhais e de como eu disse que as sereias já tinham tomado conta daquilo?
      Confirmei com a cabeça.
      - Então- ela continuou- nós não tomamos total conta daquilo.
      - O quê?
       - Nós só achamos quatro dos cinco punhais. Eu não sei com quem estava o outro, eu não tenho como saber. Então eu levo um deles comigo, para onde quer que eu for. Para caso a pessoa que tenha o quinto descubra quem nós somos e decida usá-lo contra nós.
      Eu parei para pensar um pouco. Ela não levava o punhal para todo lugar, pelo menos não que eu percebesse. Se ela tinha levado para aquela viajem, tinha um motivo.
       - Espere.... Você acha que Adrien tem o quinto punhal?
       Ela franziu a testa e depois começou a rir.
      - O quê? Claro que não, que ideia mais idiota!
      - Isso explicaria muita coisa! Por que você é tão fria quando está perto dele...
      Ela começou a rir mais alto.
      -  Não, eu sou fria porque eu não gosto dele! Ele pode acabar com o que nós conseguimos: passar mais de cem anos sem sermos descobertas, mas eu jamais pensei que ele seria inteligente o bastante para conseguir aquela arma, muito menos para saber o valor que ela tem.
     - Você está subestimando ele! Ele é muito inteligente, sabia?
     Ela levantou uma sobrancelha.
     - Você quer mesmo me convencer que ele é capaz ser nosso inimigo?
      Pensei um pouco, Mika já odiava ele, quanto menos razões ela tivesse para isso, melhor.
      - Ele jamais faria isso. Eu tenho certeza!
      - Eu concordo. Mas eu não sei quem está com o punhal então eu preciso estar preparada para qualquer ataque.
     - E por que você nunca nos avisou?
     - Eu não queria que você se preocupasse. Esse é meu dever, não de vocês.
     Me levantei.
     - Mika, essa é a minha vida também. Eu quero saber o que está acontecendo! Você precisa me contar!
      Eu me aproximei.
      - Eu preciso ter certeza: você consegue prometer que não estava planejando usar aquele punhal no Adrien?- perguntei.
      - Eu prometo.
      Eu sorri.
      - Você deveria dar uma chance à ele. Eu tenho certeza que vocês dois seriam ótimos amigos.
      Ela arregalou os olhos.
      - Há uma grande diferença entre não querer matar e querer ser amiga de alguém.
       - Só tente. Você não vai se arrepender.
       Ela me deu uma cotovelada de leve.
     - Vou pensar no seu caso...

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