Um primeiro dia constrangedor

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O ensino médio é um reinado medieval. Não digo isso para ser maldosa ou superestimada. Basta você observar bem como há sempre as pessoas da realeza (populares) liderados por uma rainha má e esnobe que se acha melhor do que todo o mundo quando na verdade, mal ela sabe que todos a odeiam e que pelas suas costas alguma dama de companhia insatisfeita está transando com o rei, que é na melhor das hipóteses um idiota com muito músculo e pouco cérebro.  Todos querem pertencer a um grupo, a maioria especificamente ao grupo da realeza e isso significa tramar e fazer o que for preciso para se encaixar. Alguns outros apenas querem ser deixados em paz com suas vidas.

Agora, sobre a faculdade... eu não sei bem o que esperava, mas com certeza não era nada parecido com o que me deparo assim que abro a porta do meu dormitório. Confiro novamente o guia para me certificar de que não cometi nenhum equívoco, porém ao que parece a massa de cabelos ruivos caindo pelas costas da garota que cavalga no estranho ainda não identificado como se o mundo fosse acabar no minuto seguinte pertence a minha colega de quarto. 

— Você gosta disso? é assim que você gosta, safada? — a voz masculina ruge rouca pelo esforço enquanto enrola os cabelos vermelhos em um punhado e agarra o quadril delicado projetando o seu próprio em estocadas rápidas e barulhentas.

— Oh, sim, sim... eu adoro isso! — ela geme de um jeito constrangedor, totalmente entregue.

Saio do meu estado de torpor quando ele a gira para ficar por cima, completamente alheio a minha figura paralisada na porta. Antes de sair não deixo de perceber a forma como suas costas másculas se contraem a cada estocada ou em como suas pernas são  bem torneadas e o traseiro firme no tamanho ideal para ser agarrado. Minha colega deve ter pensado a mesma coisa que eu, pois no minuto seguinte, ela desliza as unhas pelas costas dele e agarra sua bunda pedindo que vá mais forte, como se isso fosse possível. Saio do cômodo completamente aturdida.

— Está tudo bem, Elle? — tio Frank pergunta quando me encontra parada na escada que dá acesso aos quartos. Ele trás uma caixa com as minhas coisas.

— Si... sim — gaguejo. Como diabos vou dizer para ele que não podemos ir colocar minhas coisas no quarto porque minha colega de dormitório está trepando como uma gatinha no cio?

— Seu rosto está parecendo um estrato de tomate e eu posso jurar pela sua expressão que viu algo tão imoral quanto Sebastian recebendo um boquete — ele brinca.

— Grrr, dá pra não mencionar meu irmão e boquete na mesma sentença? é nojento. E sim, digamos que eu vi uma cena um tanto, hã... inesperada. 

— Ah, é? vai me contar ou o seu tio aqui vai ter que conferir se este lugar é mesmo adequado para a sua sobrinha?

Explico para ele o que vi exagerando ao máximo nos eufemismos  e ao invés de ficar chocado ou ao menos indignado, tio Frank apenas gargalha colocando a caixa num canto para se sentar ao meu lado.

— Trouxe as camisinhas que te dei? você pode oferecer alguma para a sua nova colega de dormitório como uma forma de estreitar os laços.  Além disso, na faculdade há sempre a possibilidade de uma transa casual inesperada, então é bom que esteja preparada porque não quero ter que atropelar nenhum universitário idiota.

— Primeiro, ninguém estreita os laços com camisinha, a menos que seja com a pessoa que vai usar com você. Segundo, você sabe que eu não... — deixo a frase morrer porque não quero ter que dizer em voz alta que ainda sou virgem.

Santa? não. Inocente? definitivamente não. Já fiz algumas coisas, mas nada que culminasse em um pênis deflorando minha vagina ainda intacta. Isso soou péssimo, eu sei, mas é a verdade.

Tio Frank passa os próximos vinte minutos jogando conversa fora, me fazendo rir com suas histórias. Ele é o mais perto que eu tenho de um pai desde que meus pais morreram em um deslizamento de neve no Alasca quando eu tinha cinco anos. Ele e Bash são toda a família que me resta. Apesar de adorar a companhia dele, com o passar dos minutos desisto de esperar que o casal termine sua safadeza  e acabo despachando tio Frank, ele tem mais coisas para resolver ao invés de ficar aqui, esperando que a colega de quarto de sua sobrinha termine o que está fazendo e permita que ela se instale.

— Tem certeza que não quer que eu espere mais um pouco? — ele insiste.

— Sim tio. Vou ficar bem, dê um abraço em Bash por mim, eu sei que ele está chateado porque não pode vir.

— Tudo bem. Mas, se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, apenas me ligue e estarei aqui o mais rápido que poder.

— Ok. Obrigada, você é o melhor.

Me despeço dele com um forte abraço e respiro fundo decidida a acabar com o rale e rola no final do corredor. Pego minha caixa e caminho decidida. Ainda do lado de fora escuto vozes vindas de dentro do quarto e pelo tom, parece que eles finalmente acabaram. Agradeço mentalmente por não ter que interrompê-los, mas hoje realmente não deve ser o meu dia de sorte, pois antes que eu possa ter a chance de segurar a maçaneta da porta ela  é aberta de forma abrupta me fazendo desequilibrar e cair desordenadamente no chão.

— Merda! — uma voz de barítono xinga e corre para me ajudar.

Mãos fortes e suaves seguram meu braço para me ajudar a levantar. Quando finalmente consigo me equilibrar sobre minhas próprias pernas crio coragem para encarar a figura masculina diante de mim e a imagem dele me faz engolir qualquer comentário espertinho que eu possa ter. A lembrança de minutos atrás não faz justiça a sua verdadeira beleza, posso dizer sem medo de ser leviana que não é uma beleza banal ou que possa ser ignorada. Se eu achei o corpo dele impossivelmente atraente com apenas um vislumbre, a figura total e em foco é ainda melhor, mesmo que esteja vestido.

A pele branquinha tem um tom levemente avermelhado devido ao esforço de alguns instantes. A mão dele tem um toque macio como veludo, mas ainda assim preciso. Contudo, o que mais me chama atenção é o seu rosto, nada poderia me preparar para aquilo. Mesmo o mais distraído dos observadores ficaria atraído por ele. Os traços são artisticamente simétricos, a boca vermelha como morango faz convites indecentes e o lábio inferior é levemente mais cheio que o superior. Ele é tão lindo que chega a ser ridículo. Ainda assim, são seus olhos que me mantém cativa devido ao verde intenso. Ele me encara quase surpreso, como se me reconhecesse, como se soubesse quem sou e... me julgasse?

— Você está bem? — ele finalmente corta o silêncio que se arrastou por tempo demais para não ser constrangedor. O tom de sua voz faz os pelos da minha nuca se arrepiarem.

— Sim, estou. Foi apenas um tombo — respondo sem deixar de encará-lo. Parece que ele é o sol e meus olhos dois planetas que se recusam a desviar de sua órbita.

— Você deve ser a Elleanor, certo? — a garota atrás dele finalmente se manifesta. Aceno positivamente e ela sorri como um gato que pegou o canário. 

— Eu sou Penélope, mas todo mundo me chama de Poppy. Pensei que você só chegaria amanhã. Faz tempo que está aí?

— Hã, já faz alguns minutos que cheguei. Decidi antecipar a vinda para ter mais tempo de organizar minhas coisas antes das aulas começarem.

Deixo de fora o fato de que a flagrei transando com o deus grego, que até agora não se apresentou, assim como Poppy também não se deu ao trabalho de apresentá-lo para mim, namorada possessiva talvez?

— Eu vou indo, a gente se fala depois — o garoto diz apontando por cima dos ombros. 

— Beleza e não se preocupe, vai dar tudo certo, Hazz.

Poppy se aproxima para abraçá-lo ficando de costas para mim. Ele a retribui de um maneira quase indiferente sem deixar de me encarar. Seus olhos verdes me dizem coisas que eu não consigo desvendar. Quando finalmente se separam, ele me dá um leve cumprimento de cabeça como despedida e sai nos deixando a sós.

— Vem, vou te ajudar com as suas coisas. Tenho certeza de que vamos ser grandes amigas — ela fala com animação excessiva enquanto pega minha caixa no chão.

Ainda é cedo para dizer, mas algo me diz que ainda vou ver aquele cara, Hazz, como Poppy o chamou, muitas vezes e a sensação que tenho é de que a faculdade vai me surpreender de um forma como nunca imaginei.

VendenttaWhere stories live. Discover now