V

10.5K 1K 382
                                    

"Acho que o motivo pelo qual eu tenha me apegado tanto a essas pequenas memórias é porque elas não mudam, mesmo que nós talvez tenhamos."

— Conde de Plimont, sessenta e nove dias após a partida.

Francesca passou boa parte da tarde no silêncio de seu quarto. Estava ansiosa para a noite. Os convidados terminariam de chegar pouco antes do anoitecer e as festividades seriam de fato iniciadas.

Era inquietante, a expectativa a perturbava.

Não era tão segura de si quanto gostaria e não fazia ideia de como concretizar os planos que tinha feito para aquela semana.

Ainda precisava decidir se iria em frente com a ideia de ser arruinada em um escândalo de proporções tão grandes a ponto de o noivo optar por desfazer o contrato e encerrar os efeitos legais que obrigariam os Amendale a pagarem uma indenização, que era o que o pai de Francesca dissera que ocorreria caso o pedido de dissolução partisse deles. E, se caso decidisse mesmo ir em frente, precisava arranjar um cavalheiro disposto a realizar tal façanha, o que provavelmente não seria uma tarefa fácil.

Dispensara Anne mais cedo, desejando ficar sozinha com os próprios pensamentos e se arrependeu amargamente.

Coisas demais, problemas demais.

Talvez tudo que precisasse era justamente não pensar. Ignorar tudo e apenas viver intensamente cada segundo, sem se importar com o que aconteceria quando a semana enfim acabasse.

Mas isso era impossível.

A ideia de ficar presa a um casamento sem amor lhe era tortuosa e a perspectiva de simplesmente desistir a fazia se sentir ridiculamente fraca.

Temia que, caso aceitasse completamente seu destino, a chama que crepitava em seu coração fosse gradativamente apagada e ela virasse apenas um corpo à deriva.

Não queria se perder no meio daquele mundo no qual seria obrigada a ingressar. Um mundo do qual sempre fizera parte, mas nunca o sentiu vividamente como teria que fazer quando se casasse.

E essa nem era a pior parte.

Francesca não temia ser uma duquesa tanto quanto temia a crueldade ou indiferença de seu futuro marido.

Queria um casamento como o dos pais, que se amaram durante a vida inteira, ou um amor como os que lera nos livros. Queria algo que fizesse qualquer coisa valer a pena, que trouxesse uma felicidade real e completa.

Não precisava de riquezas ou títulos. Nem os queria, para ser honesta. Precisava apenas de alguém que a fizesse ser uma versão melhor de si mesma.

Mas onde encontraria isso se estava fadada a uma existência prolixa?

Como encontraria?

Francesca havia imaginado que aquela semana traria um fio de alegria no qual ela poderia se agarrar durante a vida inteira, mas agora estava começando a achar que a única coisa que encontraria ali eram os fantasmas do futuro que se estendia de maneira cruel diante de seus olhos.

Ela acabou adormecendo e foi tomada por um sono calmo. Quando acordou o sol já estava se pondo e não demorou muito para que Anne regressasse ao quarto.

Foram necessárias duas horas inteiras para que a criada conseguisse deixar Francesca, como a mesma denominara, perfeita.

Ela trajava um lindo vestido azul costurado com fios de prata e adornado com pequenas pedras que imitavam diamantes. Seus cabelos foram enrolados e presos em um coque frouxo, que deixava seu rosto redondo de um jeito gracioso.

Os segredos do conde de Plimont (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora