"Acho que o motivo pelo qual eu tenha me apegado tanto a essas pequenas memórias é porque elas não mudam, mesmo que nós talvez tenhamos."
— Conde de Plimont, sessenta e nove dias após a partida.
Francesca passou boa parte da tarde no silêncio de seu quarto. Estava ansiosa para a noite. Os convidados terminariam de chegar pouco antes do anoitecer e as festividades seriam de fato iniciadas.
Era inquietante, a expectativa a perturbava.
Não era tão segura de si quanto gostaria e não fazia ideia de como concretizar os planos que tinha feito para aquela semana.
Ainda precisava decidir se iria em frente com a ideia de ser arruinada em um escândalo de proporções tão grandes a ponto de o noivo optar por desfazer o contrato e encerrar os efeitos legais que obrigariam os Amendale a pagarem uma indenização, que era o que o pai de Francesca dissera que ocorreria caso o pedido de dissolução partisse deles. E, se caso decidisse mesmo ir em frente, precisava arranjar um cavalheiro disposto a realizar tal façanha, o que provavelmente não seria uma tarefa fácil.
Dispensara Anne mais cedo, desejando ficar sozinha com os próprios pensamentos e se arrependeu amargamente.
Coisas demais, problemas demais.
Talvez tudo que precisasse era justamente não pensar. Ignorar tudo e apenas viver intensamente cada segundo, sem se importar com o que aconteceria quando a semana enfim acabasse.
Mas isso era impossível.
A ideia de ficar presa a um casamento sem amor lhe era tortuosa e a perspectiva de simplesmente desistir a fazia se sentir ridiculamente fraca.
Temia que, caso aceitasse completamente seu destino, a chama que crepitava em seu coração fosse gradativamente apagada e ela virasse apenas um corpo à deriva.
Não queria se perder no meio daquele mundo no qual seria obrigada a ingressar. Um mundo do qual sempre fizera parte, mas nunca o sentiu vividamente como teria que fazer quando se casasse.
E essa nem era a pior parte.
Francesca não temia ser uma duquesa tanto quanto temia a crueldade ou indiferença de seu futuro marido.
Queria um casamento como o dos pais, que se amaram durante a vida inteira, ou um amor como os que lera nos livros. Queria algo que fizesse qualquer coisa valer a pena, que trouxesse uma felicidade real e completa.
Não precisava de riquezas ou títulos. Nem os queria, para ser honesta. Precisava apenas de alguém que a fizesse ser uma versão melhor de si mesma.
Mas onde encontraria isso se estava fadada a uma existência prolixa?
Como encontraria?
Francesca havia imaginado que aquela semana traria um fio de alegria no qual ela poderia se agarrar durante a vida inteira, mas agora estava começando a achar que a única coisa que encontraria ali eram os fantasmas do futuro que se estendia de maneira cruel diante de seus olhos.
Ela acabou adormecendo e foi tomada por um sono calmo. Quando acordou o sol já estava se pondo e não demorou muito para que Anne regressasse ao quarto.
Foram necessárias duas horas inteiras para que a criada conseguisse deixar Francesca, como a mesma denominara, perfeita.
Ela trajava um lindo vestido azul costurado com fios de prata e adornado com pequenas pedras que imitavam diamantes. Seus cabelos foram enrolados e presos em um coque frouxo, que deixava seu rosto redondo de um jeito gracioso.
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Os segredos do conde de Plimont (degustação)
Romance[VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2020] O destino de Lady Francesca foi traçado desde o seu nascimento. Filha de um conde, sua vida, que deveria ser uma sequência de bailes suntuosos e cortejos de lordes encantadores, é levada a um diferente - e desesperad...