IV

9.8K 1K 364
                                    

"O tempo não tem passado mais devagar e eu me sinto cada vez mais distante de você. Acho que sentiria saudades suas até se não tivesse te conhecido."

— Conde de Plimont, um mês e dez dias após a partida.

Francesca acordou cedo no dia seguinte.

Os acontecimentos da tarde anterior perturbaram seu sono, impedindo que ela tivesse o descanso que acreditava merecer.

Assim que chegou ao seu quarto Henrietta mandara-lhe o aviso de que, como só a família e poucos amigos íntimos estavam presentes naquela noite e a viagem tinha sido cansativa, não haveria problema se ela desejasse jantar no quarto.

Considerando o fato de que aparentemente, assim como ela, o homem com quem havia esbarrado no jardim entrava na classificação de amigos íntimos, Francesca achou que um jantar na paz silenciosa de seu quarto cairia muito bem. Não ter se encontrado com ele durante o jantar, entretanto, não aplacou a aflição que o embate recente e confuso causara a seu sono e pouco antes do sol nascer ela já estava de pé, esperando impacientemente por sua criada. Queria andar pela propriedade, explorar os jardins e as plantações de maçãs, que naquela época do ano já estavam bem perto de darem frutos.

Devido a sua criação no campo, Francesca havia desenvolvido um carinho especial pela natureza e valorizava muito suas caminhadas matinais, com o som dos pássaros ressoando em seus ouvidos e a grama úmida devido à neblina da noite que se fora a pouco amaciando o caminho.

Eram nesses poucos momentos que ela conseguia se conectar consigo mesma, onde seus pensamentos se perdiam em possibilidades impossíveis e ela se agraciava com a pura e genuína felicidade trazida pelos doces sonhos de um futuro pacífico.

A impossibilidade não parecia tão cruel e o destino ganhava tons de liberdade.

Era como se talvez, apenas talvez, ela pudesse, em um momento de coragem insana, entregar-se às vontades de seu coração e seguir um caminho diferente do que lhe tinha sido dado pouco depois de seu nascimento.

Queria que realmente houvesse coragem em sua rebeldia e ela conseguisse deixar de se sentir secretamente obrigada a honrar com aquilo.

Escutara tanto durante o passar dos anos que era seu dever, que sairia mais ganhando do que perdendo e que todos ficariam arruinados caso declinasse, embora jamais tivesse lhe sido oferecida tal opção, que sua mente acabou acreditando um pouco, embora seu coração teimasse em discordar.

Francesca se sentia como um espírito livre em um corpo cheio de amarras, uma prisioneira que possuía a chave da própria sela, mas nunca seria realmente capaz de abri-la.

Em toda sua resignação, ela aceitou se contentar com aquela semana de liberdade e uma parte aflita de si estava inquieta para explorar todas as possibilidades que se estendiam à sua frente. Uma caminhada por aquela gigantesca propriedade poderia ser um bom começo para isso.

Nunca se sabe o que pode ser encontrado entre as árvores e relevos, e ela estava ávida para desbravar cada pedacinho dali.

Anne chegou pouco tempo depois das sete da manhã e pareceu bem-humorada o suficiente para ignorar todos os resmungos e reclamações que Francesca fizera durante sua arrumação.

Ela não gostou das fitas colocadas no coque alto e então achou que a trança parecia um pouco trançada demais. Depois decidiu que talvez seu rosto ficasse menos redondo se estivesse envolto em cachos, até Anne decretar que aquele seria o último penteado que iria fazer e Francesca se obrigar a ficar bastante satisfeita com o resultado.

Os segredos do conde de Plimont (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora