10 || O Café

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Há alguns dias que sei que a minha mãe não está bem. Eu sei que exagerei e que despejei o balde de água fria em cima dela de uma vez só vez...

Talvez me devesse sentir culpada, mas sinceramente não sinto. Disse tudo o que me ia no coração, quer dizer, nem tudo.

Depois de a ter confrontado, ela não disse uma única palavra e saiu de casa. O estado dela começa a preocupar-me mesmo a sério. Não tem aberto a boca já há vários dias e acho que está a frequentar um psicólogo diariamente.

Não sei quem o recomendou, mas sei que a minha mãe só se dá com pessoas da alta sociedade que são inteligentes e percebem destas coisas. Espero que ela não tenha nada de especial, mas honestamente não lhe tenciono perguntar. Não é que eu goste desta tenção entre nós, mas acho que vem bem a propósito. A última coisa que quero agora é tê-la a gritar comigo.

Não sei como é que a minha mãe tem aguentado dentro desta casa, porque se bem a conheço, por esta altura, já teria ido viver para a casa de uma amiga ou ter-me-ia mandado para uma escola interna.

Pela primeira vez em três dias, saí de casa e fui ao café que há à frente da minha casa.

Atravessei a rua e abri a porta. Aquele espaço estava completamente igual há dez anos atrás. Nunca pensei vir aqui depois do que aconteceu em 2004, quando eu era muito pequena. Lembro-me desse dia como se tivesse sido ontem.

- Olá, Diana! Estás tão grande! Há algum tempo que não vinhas cá... - fui cumprimentada pela empregada, chamada Rose.

Após a sua saudação, todas as pessoas que estavam no estabelecimento olharam para nós. Escondi uma parte da cara na roupa que trazia vestida (uma sweat azul esverdeada e umas calças pretas de cintura subida) e sorri um pouco à volta: não posso parecer mal-educada, depois de tudo o que passei neste café, e muito menos pelo que aconteceu neste lugar. Sinto-me em dívida para com ele agora e sempre sentirei.

- Pois... Há dez anos exatamente... - respondi, um pouco envergonhada.

Rose ficou a olhar para os meus olhos durante vários segundos, abraçou-me e sussurrou ao meu ouvido palavras que não percebi bem, mas que pensei que fossem "O que aconteceu ao brilho dos olhos, querida?".

Fiquei sem palavras. Esta mulher conhece-me tão bem, às vezes melhor que eu mesma.

Hoje sinto-me extremamente fraca pelo que se tem passado nos últimos dias. Ser ignorada pela minha mãe não é tão agradável como parece. Ando a aguentar as lágrimas há vários dias, mais exatamente há 3 dias.

- Vem comigo para a sala dos empregados.

Atravesso o café, guiada pela sua mão. Vejo várias pessoas, que entretanto voltaram a concentrar-se nos seus jornais.

- O que aconteceu, minha filha?

Hesito em responder. Será que posso confiar nesta Rose, que só deveria querer vingança minha? Bem... Pensando bem, acho que sim, porque ela é como uma avó para mim, é uma força familiar que tinha morrido há uma década e que voltou, como se se tivesse ressuscitado...

Abro a boca, mas antes que as palavras possam sair, começo a chorar.

Ela abraça-me e sussurra palavras ao meu ouvido que não ouço bem, mas que penso que são reconfortamentos, do género do "vai ficar tudo bem" ou "não penses mais nisso".

Pelos meus olhos saem muitas lágrimas que parecem levar a dor que sinto para fora do meu corpo. Esta sensação até é boa: ter alguém que se preocupa connosco, alguém que quer saber de nós, dos nossos sentimentos.

Começo a falar e não consigo parar até ela me tapar a boca com uma mão, na esperança de me calar.

Choro mais e mais compulsivamente.

- Querida... O que é que se passa, meu amor? Não estou a perceber nada...

As palavras de Rose aparecem na minha mente como facas que se espetam dentro de mim, só porque vou ter de falar dos meus problemas em voz alta.

Mantenho-me calada e a chorar.

- Não digas nada. A mim... Não me digas nada a mim. Diz-lhe a ele.

Estas palavras ficam a pairar na minha cabeça, tentando encontrar um sentido para elas e antes que me aperceba, os meus olhos estão conectados com os cor de caramelo, mais uma vez.

Diana MarsWhere stories live. Discover now