Capitulo 6.

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(Niall Horan’s POV)

O pôr-do-sol banhava com gentileza a faixa de asfalto em meio à grama, uma fria brisa de fim de tarde encontrando seu caminho por entre os galhos das árvores e fazendo as folhas silvarem timidamente. 

Respirei fundo, absorvendo a paisagem solitária. O vento atingia meu rosto em golpes macios, entrando pela janela do carro como se tivesse medo de que eu o repelisse com minha indiferença. Meu coração batia forte, meu olhar perdido no horizonte deserto. Em poucas horas, eu estaria de volta à vida real, de volta a todos os problemas dos quais tentei escapar pelas últimas duas semanas. 

Eu não sabia se estava pronto para voltar. A cada vez que piscava, olhos azuis cheios de dúvida me encaravam no auge de sua inocência, mil perguntas colidindo em suas grandes íris. 

A palavra pai parecia estrangeira, nem um pouco familiar para ambos, por mais contraditório que isso soasse. O abraço, apesar de apertado, não fora íntimo; o sorriso, por sua vez, compensara a falta de um dente com a perfeita materialização de um sonho realizado, expandindo seus horizontes como nada antes fizera. 

O leve estrangulamento intensificou-se ao redor de meu pescoço, ainda que mal representasse ameaça à sólida sensação de tomar a atitude certa reinando em meu peito. Ali estava mais uma pessoa – ou um pequeno ser humano que mal podia esperar para que eu o ajudasse a se tornar uma – que esperava algo de mim. 

Pelos resquícios de integridade ainda presentes em mim, pedi para que aquele olhar esperançoso não fosse mais um dos muitos outros que manchei com decepção. 

Eu não sabia se estava pronto para voltar. Mas eu precisava voltar. 

Engoli em seco, apertando o volante e tentando me focar na estrada. Difícil. Minha mente divagava à medida em que me aproximava de minha última parada, minha última relação com o surreal, com o inexistente. Com o passado. 

Me perguntei se ainda doeria. Fazia tantos anos... Por mais que o tempo já tivesse cumprido seu dever e se encarregado de amenizar a dor, a cicatriz emocional sempre existiria, impedindo-me de esquecê-la, mesmo que já desbotada. 

Parei o carro rente à grama, levando comigo a singela rosa em meus dedos trêmulos ao caminhar por sobre o verde. Não olhei ao meu redor; eu já sabia que caminho seguir sem precisar me orientar. 

Meus pés desaceleraram ao me aproximar do granito antigo. O nó em meu peito, que a anatomia chamava de coração, apertou-se; tudo estava acontecendo exatamente como sempre. Quis rir de mim mesmo por pensar que algo mudaria. 

Ajoelhei-me de frente à lápide, meus dedos abandonando a rosa diante dela e percorrendo a fria superfície onde letras em dourado resistiam ao tempo, persistentes em sua função de representar a dor ali enterrada. 

Lucy Davies 

(17/02/1978-10/09/1991) 

Amada filha

Minha garganta se fechou ao fitar a foto sobre os dizeres. Não ousei encará-la por mais que dez segundos, as lembranças fluindo livremente por todo o meu corpo e me causando arrepios. 

Muito do que eu era podia ser explicado por elas. Eu me recordava de tudo, com tamanha intensidade que relembrá-las era como voltar no tempo. A culpa se enroscava ao redor de meu estômago como uma serpente, aniquilando-o em seu aperto e provocando náuseas. Em meio à tortura silenciosa sob a qual minha mente submetia meu corpo, fui capaz de pedir, mais uma vez, desejando mais do que tudo ouvir alguma resposta. 

Biology IIWhere stories live. Discover now