— Isso é alguma brincadeira de mau gosto?

— Não. É a verdade.

— Me deixe ver suas costas. — Ele se aproxima rapidamente de mim.

Engulo em seco, e fico parada por um momento até ver a incredulidade em seus olhos. Viro de costas para ele, e subo a regata até a nuca. Sinto sua aproximação com o canto dos olhos, e vejo que sua mão está em minhas costas, mas não a sinto.

— Não pode ser... — Sussurra.

Sinto seus dedos pressionarem novamente a marca da cicatriz, e me afasto instintivamente.

— Desculpe. — Diz, ainda encarando o espaço onde antes estavam as minhas costas.

— Acredita agora?

— De alguma maneira sim, mas... Porque você não sente quando eu te toco?

— Porque nós não temos sentidos, nem sentimentos que vocês têm.

— Inacreditável. Como isso é possível? E como você sabia que eu estava com o coração partido?

— Eu senti.

— Como sentiu?

— É o meu instinto. Da minha espécie. Eu captei o que se passava no seu coração, e percebi que estava partido.

Ele me encara por segundos que parecem infinitos. Depois de mais um tempo nos encarando, ele volta a falar.

— E porque eu sinto algo tão forte no peito, por você, agora?

Abro a boca levemente. Não, não, não. Ele não pode. Eu não posso. Não se sabia o que relação entre anjos caídos e mundanos se resultaria, mas tínhamos teorias de que poderia ser o fim das duas espécies, ou de apenas uma. Não era nada concreto, mas não queria ser eu a tirar a prova viva.

— Eu não sei. Apenas te atingi com a flecha, para curar o seu coração, e uma lágrima escorreu pelo seu rosto no momento em que te atingi. E isso não poderia ter acontecido.

— E porque não? E o que aconteceu?

— O meu líder me informou que quando a flecha atingir o alvo, o mundano não poderia estar chorando, se não o efeito se voltaria para mim. E parece que isso aconteceu. — Desvio o olhar — E o que você está sentindo?

— Para ser sincero? — As mãos que antes estavam nos seus cabelos, tombam nas laterais de seu corpo. — Algo muito forte. Até demais. Eu não sei explicar, mas seja qual for o poder dessa flecha, acho que teve o efeito certo, porque eu não consigo olhar pra você e não querer te proteger. E eu não te conheço, e não sei no que acreditar, mas é a única coisa que meu coração consegue sentir agora.

Volto meus olhos imediatamente para o seu rosto.

— Me proteger? Mas como? — Nada faz sentido na minha cabeça, e tenho certeza que na dele também não.

— Sim, além da vontade de beijar você agora. E merda, o que está acontecendo comigo, Selina? — Meu nome saindo de sua boca provoca algo dentro de mim que não sei explicar.

— Eu realmente gostaria de entender. — digo. Puxo o lábio inferior entre os dentes, e encaro qualquer coisa que não seja o seu rosto.

— Merda. — Ele se move, e quando olho para ele, suas mãos já estão no meu rosto, e minha boca na sua.

Arregalo os olhos, e coloco as mãos nos seus ombros, mas não o empurro. Apenas sinto uma pressão onde seus lábios me tocam, mas não os sinto de fato, e isso me quebra um pouco por dentro.

SELINAWhere stories live. Discover now