Beijo de carnaval

Capítulo 2

— Ela não teria feito isso se soubesse que você é a namorada do deputado Zé Renato, mas você com essa besteira de que ele precisa ser um homem livre até o final da eleição da Câmara, tomou no cu com isso.

— Juliaaaa! — olhei para os lados para ver se ninguém das mesas adjacentes tinham escutado aquilo.

— É isso mesmo que ouviu. E outra coisa, você é linda, que mulher não queria ter esse corpão que você tem? Cheio de gostosura e não seco como o da Linna Dias.

— Isso não importa, o que importa é que ele está nesse momento almoçando com ela, se duvidar estão transando em algum lugar.

— Eu sinceramente não acredito que o Zé seja capaz disso.

— Ele é capaz de tudo para ser o Presidente da Câmara, até comer uma vadia peituda daquelas — mordi meu burrito.

— Você me arrastou para o seu restaurante mexicano preferido mesmo sabendo que eu odeio comida mexicana para ficar bancando a adolescente ciumenta? É isso mesmo? — disse Julia questionando-me.

— Não sou adolescente, mais sou ciumenta sim o que tem isso? Além do mais, você pode ir embora, Julia, vai babar o ovo do seu Senador.

Ela gargalhou respondendo-me:

— Você acha mesmo que o Senador Lopes está em Brasília? Fala sério Helô.

— Eu estou muita puta com o Zé, ele havia me prometido que passaríamos o carnaval em Angra, pois eu odeio carnaval. Aí do nada muda de ideia e diz que vai ao baile de máscaras da Linna.

— Helô isso é tudo política, e sabemos que nesse meio vale tudo.

— Ele não perde as eleições apenas se não tiver o voto daquela leviana — respondi furiosa.

— Acontece minha querida, que sabemos que atrás do voto dela vem outros tantos, visto que ela é o carro chefe do partido dela.

— E por isso preciso assistir meu namorado comer aquela mulher?

— Ele te disse que faria isso?

— Não, não disse maaas...

— Mas o que Helô? Você tem que assumir de vez o namoro de vocês, e o mais importante, aprender a confiar nele. Você me disse que ele quer que você vá com ele nesse baile, não é?

— Sim!

— Então amiga! Isso é prova de que ele não tem nenhuma intenção de trair você.

— Terminei com ele antes de vir aqui e plantei a semente da desconfiança no coração dele.

— Mais uma vez foi bem infantil, coisa que não condiz com uma mulher inteligente feito você.

— Eu estava louca de ódio dele e daquela mulher abusada.

— Helô, você melhor que ninguém sabe o seu valor, é tão valiosa nesse meio político que o Zé foi atrás de você no velório do Antunes.

Sorri dizendo:

— Aquilo foi cômico.

— Foi sim amiga — nós duas caímos na gargalhada.

O Zé por medo da concorrência foi me convidar para ser sua assessora no velório do meu antigo patrão o deputado Antunes Melo. O coitado ainda estava sendo velado e o Zé já estava me oferecendo um emprego.

— Não dê o seu homem de graça para aquela mulher usar, vai atrás dele e conversem acertando as coisas, não o deixe pensando que te perdeu porque ele pode simplesmente se sentir tentado a ganhar o voto daquela mulher.

Fiquei pensando em tudo que Julia havia dito naquele almoço, mas mesmo assim não voltei atrás e nem o Zé voltou a falar comigo naquela tarde. Durante à noite ele apareceu batendo na minha porta, todo enciumado, querendo saber quem era o deputado com quem eu havia almoçado. Tivemos uma discussão e terminamos aos beijos dentro do meu apartamento, mas ele ficou furioso, pois eu disse que ele só voltaria a tocar em mim quando recusasse ir ao tal baile, mas como ele insistiu que deveríamos ir, acabou sendo colocado para fora da minha casa de pau duro e ouvindo a seguinte frase:

— Só vai voltar a me tocar quando der um basta naquela mulher.

— Porra, Helô, abre a merda dessa porta! Caralho estou explodindo de tesão.

— Não vou abrir, vai embora!

— Está bem! Estou indo, mas só volto a falar com você quando vir até a mim e se desculpar.

A porta ficou um silêncio agourento, e quando eu a abri para me certificar se ele estava lá quietinho, simplesmente cai do cavalo, ele havia mesmo ido embora.