– Quem diria! Stuart Kashyap, o garoto modelo e suprassumo da caretice, um fumante. – Disse Dora aos risos, já voltando a tragar o próprio cigarro. Stuart não a acompanhou na brincadeira, apenas tragando em silêncio e ficando com o rosto sério, uma certa mágoa estampando suas feições. Não necessariamente pelo que a garota havia dito, mas por sentir-se mal consigo mesmo. – Pensei que fosse começar algum sermão sobre câncer de pulmão e os milhares de malefícios da nicotina , etc...

– Bem, não deixa de ser verdade. – Stuart disse dando de ombros. A convivência entre eles desde o caso do carro vandalizado havia se estreitado de maneira considerável, não da forma como Dora realmente almejava, mas gostava das conversas e devaneios que tinham pelos corredores, pois nunca antes imaginou que teria tanto assunto com alguém como Stuart. – Estou pensando em parar a tempos, mas sempre volto uma hora ou outra quando me sinto mal com alguma coisa.

– Foi assim que ganhou o vício? – Dora questionou. Não era algo característico de alguém como ele, mesmo que um mau hábito não o fizesse deixar de ser o garoto sério de sempre. Porém, ainda assim ficava intrigada com esse lado desconhecido do outro.

Stuart se retesou, parecendo hesitar em respondê-la, mas acabando por se sentar ao lado dela e suspirando como se estivesse tirando um peso das costas.

– De certa forma sim, foi o motivo por eu ter continuado... Mas comecei jovem demais sabe, e não foi por me sentir nervoso com babacas feito Acey, nem com minhas notas, por simplesmente me sentir mal comigo mesmo, ou... Não ter coragem de falar com a garota que eu gosto. – Ele tragou mais da droga, soltando a fumaça lentamente enquanto olhava para a estrada de forma reflexiva como Dora, encolhendo mais os ombros de maneira acanhada. Dora sentiu o coração se acelerar com a última frase, pensando quem poderia ser a garota, e se havia alguma mínima chance de ser ela. – Foi meu pai quem me ofereceu o primeiro, disse que era pra "eu parecer um pouco mais macho". E eu aceitei besta como era, pensando que ia agradá-lo assim. Tinha medo de nunca parecer o suficiente pra ninguém, sempre fui fraco...

Ambos permaneceram em silêncio por um momento, com Dora analisando as palavras de Stuart, olhando para seu rosto que conhecia pelo sorriso cativante agora tomado por uma sobriedade que parecia não se encaixar com sua figura calma e adorável. Se Stuart havia a conhecido primeiramente pelo seu lado ruim, sua irresponsabilidade, o humor explosivo e rebeldia, ela havia o conhecido pelo jeito doce, simpático e tímido. Quando seus laços haviam se estreitado, ele havia passado a conhecer também sua personalidade solidária e repleta de bravura. Agora, talvez fosse a vez de Eudora conhecer outra face do garoto que tanto havia lhe despertado interesse.

– Acho que te entendo de certa forma. – Dora comentou, apagando o resto da bituca na mesa e juntando as mãos. – Nunca convivi muito com meu pai, e desde que ele foi preso quase nem o vi mais. Mas quanto a minha mãe, é mais complicado, a gente briga bastante, por qualquer coisa estúpida, principalmente quando ela bebe e eu estou irritada. Não acho que ela é uma pessoa ruim, só não sabe como agir feito mãe, nem eu como filha. Acredito que ninguém é perfeito sabe, o problema é insistir no erro eu acho... E meus pais parecem insistir bastante, mas eu pretendo mudar isso, e espero que eu consiga um dia.

– Com certeza você vai Dora, eu acredito em você. – Stuart disse com um singelo sorriso no rosto, olhando agora para a garota que sentia um riso de júbilo involuntário lhe preencher o peito.

– Valeu, não teria conseguido sem sua ajuda no grupo de reforço. Você é um garoto incrível Stuart, e não é nada que seu pai ou qualquer um desses babacas da escola dizem. – Dora deu um leve empurrão no ombro de Stuart como um gesto companheirismo, adorando ver seu sorriso acanhado de quando ficava sem jeito a qualquer elogio.

– Dá pra se dizer que a gente não é grande coisa, mas ao menos não somos nenhum caso perdido. – Stuart disse, ambos rindo da constatação enquanto sentiam os ombros se chocarem pela proximidade.

– Deve ser por isso que a gente se dá tão bem. – Dora falou olhando nos olhos escuros de Stuart que se via vidrado no olhar marcante da garota. As mãos próximas, uniram-se a princípio de forma tímida, mas logo os dedos se entrelaçaram firmemente enquanto os olhares não se deixavam e os dois corações batiam rápido em sincronia.

– Sim, mas não só por isso. – Stuart não soube de onde havia tirado coragem para dizer tal coisa, mas antes que pudesse pensar mais sentiu os lábios de Eudora contra os seus.

Abraçaram-se de forma desajeitada a princípio, assim como o beijo lento que explorava com cuidado a textura um do outro, inebriando-se no gosto de cigarro e de algo doce no fundo. Stuart agarrou os cabelos cheios de Dora enquanto ela o envolvia com os braços e tocava suas costas o pressionando para mais perto, intensificando o beijo que tornara-se voraz e tomado pela paixão afoita do jovem casal.

Pararam quando o ar já não se fazia o bastante, encarando-se ainda próximos para sentirem a respiração descompassada um do outro, as pupilas cheias e tomadas por aquele momento mágico entre eles.

– Mas por muito mais. – Eudora declarou antes de se abraçarem de maneira afável e encontrarem nos braços um do outro a força que compartilhavam.

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Calmaria RebeldeWhere stories live. Discover now