Capítulo 13 - APARENTEMENTE O CRONOGRAMA NUNCA MENTE

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Os NERDS ficaram irados quando eu contei o motivo da minha ida até a diretoria. Até Eduardo ficou indignado e disse que poderia pedir que o seu pai viesse a escola brigar ou fazer uma reportagem sobre bullying — o pai dele é um dos donos do principal canal de televisão de Minas Gerais, fiquei muito chocado quando Denis me contou isso.

Obviamente eu neguei essa ajuda. Fazer qualquer coisa implicaria em minha mãe ser chamada a escola e eu não queria que ela se preocupasse com isso.

Só que depois disso, foi difícil me forçar a ficar bem. Eu nunca, em toda a minha vida, eu fui alvo de bullying; e teve algumas vezes que junto que Júlia e Antônio, eu fiz algumas piadinhas sobre algumas pessoas, mas nunca na frente delas para atacá-las — não que isso melhore as coisas, julgamento é sempre ruim —, mas fora isso, nunca estive envolvido com situações de bullying e exposição. É estranho que isso aconteça logo agora, quando estou tentando ter uma vida nova.

— Você está bem? — Pedro pergunta se aproximando do caixa depois que atendo um cliente. — Você tá todo cabisbaixo hoje.

— Aconteceu uma coisa chata na escola hoje, só isso.

— Prova surpresa? — Ele brinca e consegue me fazer sorrir. — Falando sério, o que aconteceu?

Respiro fundo e decido contar, porque, sinceramente, isso está me incomodando mais do que eu pensaria que seria possível.

— O ser humano é naturalmente um pé no saco! — Ele diz quando termino de falar. — Aposto que o que está te incomodando nem é o que fizeram.

— Sim. — Digo porque é verdade, o que me incomoda é que alguém tenha coragem de fazer qualquer coisa que possa ferir outra pessoa. — É estranho.

— Quando eu entrei na escola particular, alguns garotos faziam bullying comigo. — Ele começa a contar. — Um garoto negro, com o rosto estourando de espinhas, aquilo era um prato cheio para quererem zoar com a minha cara.

— Oh, eu não sabia Pedro, sinto muito.

— Não sinta, você nunca fez nada comigo, diferentemente do seu amigo o Antônio. De qualquer forma, eu me senti culpado por um tempo, afinal eles faziam aquilo apenas comigo, tinha que ter algum problema comigo. E com esse pensamento eu pedi meus pais para me tirarem da escola. Foi quando meu pai me mostrou que existe mais problema se incomodar com as diferenças dos outros, do que ser diferente. E a coisa piora quando se é negro.

Ele usa um tom de brincadeira, mas sei que fala sério.

— Então — ele continua. — Em palavras curtas, não se importe com o que não vale a pena.

— Tudo bem. Muito obrigado, Pedro!

— Por nada, pode confiar no seu chefe! — Diz, e sai andando sorrindo.

[+]

Já está de noite quando entro na Toca e encontro os NERDS, cada um deles sentado em um pufe, me esperando para começarmos a ler os quadrinhos e depois conversarmos sobre.

Puxo um pufe azul e me sento ao lado de Samuel.

— Ei, como você está? — Ele pergunta, e todos os garotos me encaram.

— Melhor. — E é verdade, a conversa com Pedro me ajudou um pouco (conversas motivacionais sempre demoram um tempo para se fixarem na mente), mas o fato deles se preocuparem tanto comigo também faz com que as coisas ruins pareçam bem mais distantes.

— Se falta algo para que você fique completamente bem, nós sabemos o que é! — Denis comenta, animado. — Depois de ler os quadrinhos nós vamos organizar nossa visita ao vovô Geraldo!

— Visita?

— Está no cronograma. — Eduardo diz, sério.

— O cronograma nunca mente! — Rafaela diz. — E adiantando as coisas, você vai amar o vovô Geraldo!

Assinto com a cabeça.

Leio uma HQ dos X-Men chamada Superdotados que conta a história de uma médica que busca a "cura" para os mutantes — essa história tem uma forte mensagem contra a tal da "cura gay" — e no fim, durante a conversa, dou cinco estrelas e os NERDS parecem satisfeitos comigo.

Quando vou embora estou 90% melhor.

José e os NERDS Contra o MundoWhere stories live. Discover now