Dois

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Eu não conseguia ver muito bem a feição daquele moço, por causa da escuridão e pelo sangue que escorria pelo seu rosto

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Eu não conseguia ver muito bem a feição daquele moço, por causa da escuridão e pelo sangue que escorria pelo seu rosto.

Ajudei-o a entrar em casa junto com meu pai. Ele não falava nada e não conseguia andar bem a não ser que estivesse apoiado em alguém ou em algo. Minha mãe pegou um ralo colchão e o arrumou para que o rapaz deitasse. Fizemos, e ele gemeu de dor. Fui até o meu quarto e peguei um travesseiro novo para que ele ficasse com sua cabeça apoiada. Meu pai trouxe água quente e falou que limpássemos o seu rosto.

Comecei a limpá-lo e um sangue espesso saia no pano. Várias vezes eu tive que tirar o excesso e limpar mais. Quando terminei, olhei para o rosto do rapaz que estava de olhos fechados. Que rosto formoso! Nunca tinha visto homem tão belo! Eu dei um sorriso tímido e quando eu estava prestes a levantar para buscar algumas ervas medicinais para cuidar dos ferimentos, ele alcançou minha mão, segurou firme contra o seu peito e disse com seus olhos miúdos:

- Muito obrigado.

Assustei-me com o que ele fez e perguntei atônita:

- Pelo que?

- Por interceder por mim... Para que eu ficasse aqui... Você não ficará sem sua recompensa.

Em seguida ele deu um pequeno gemido de dor. Arrumei-o no travesseiro e disse preocupada:

- Para começar a me recompensar quero que descanse e não se esforce. Assim você se recuperará mais rápido.

Ele sorriu e retribui o sorriso.

Minha mãe logo chegou com os ervas e unguentos preparados.

- Pensei que você buscaria – ela disse se ajoelhando ao meu lado.

- Desculpe mamãe – falei olhando para o chão.

Ela passou a mão na minha cabeça e disse:

- Cuidemos desse menino.

Começamos assim os procedimentos. Onde havia ferimento em seu corpo passamos as ervas para não infeccionar e os unguentos para não ter mau cheiro.

Fiquei preocupada, pois eram muitas escoriações e hematomas pelo corpo. Eu ficava mais preocupada, pois ele gemia muito de dor quando mexíamos. Minha mãe apenas dizia com sua voz suave:

- Ficará tudo bem.

Enquanto cuidávamos dele, indagava-me acerca de como tinha se ferido daquela maneira.

♕♕♕

O dia nem havia clareado bem. Levantei-me e fui lavar meu rosto, e levei um susto ao ver aquele jovem que eu nem sabia o nome contemplando algo pela janela. Aproximei-me dele e perguntei:

- Como se sente?

- Estou bem melhor – respondeu voltando o olhar para mim – aquelas ervas que sua mãe passou nas minhas feridas me fizeram dormir bem.

Em seguida ele voltou o olhar para a janela e continuou a contemplar a paisagem, aliás, tão simples e rotineira para mim. Mas, para um visitante era uma visão impressionante.

Comecei a pegar um pouco de água para fazer um chá para mim. Eu estava curiosa para saber o nome dele, mas não sabia como perguntar. Não sei explicar, mas ele me deixava sem jeito principalmente quando olhava para mim. Tomei coragem enquanto esquentava a água e perguntei:

- Qual é o seu nome?

Ele demorou em responder, me fazendo pensar que eu tinha cometido um erro ao fazer essa pergunta. Pude o ouvir dar um suspiro cansado antes de responder.

- Pode me chamar de Jin.

Eu sorri escondido de cabeça baixa. Nisso percebi que a água era o suficiente para fazer um chá para ele também e acabei fazendo. Ao oferecer para ele falei:

- Sou Hui Ying.

Jin tomou um gole do chá e me perguntou o motivo de eu acordar cedo.

- Meu pai é pastor de cabras e eu o ajudo nessa tarefa.

- Difícil encontrar mulheres que façam tal serviço.

Conversamos um bom tempo, mas eu falava mais. Sempre que perguntava sobre ele, suas origens ou família evitava o assunto e pulava para outro. Falou que era um viajante e que fora assaltado no meio do caminho e essa foi a primeira casa que encontrou. De fato a casa onde eu e minha família morávamos ficava logo na entrada do vilarejo.

Meu pai acordou logo e me apressou para trabalharmos.

- Não se preocupe – disse meu pai – sua mãe cuidará dele enquanto se recupera. Depois ele seguirá viagem.

Não sabia o motivo, mas quando meu pai falou isso senti um aperto no meu coração. Estranho que de uma hora para outra eu me sentia bem com sua companhia, eu mal conhecia aquele rapaz que já cativara o meu coração.

Obedeci meu pai e fui com ele.

O tempo foi passando e fomos nos afeiçoando ao Jin. Ele evitava sair de casa e acabava por ajudar minha mãe nos afazeres domésticos. À noite ficávamos no alpendre olhando as estrelas e conversando sobre assuntos aleatórios.

A cada dia que passava um sentimento inexplicável crescia em meu peito, mas era algo bom com relação a Jin. Eu sentia saudades dele, enquanto pastoreava o rebanho, mas quando eu chegava em casa meu coração pulava só em vê-lo.

Numa noite, depois que nos recolhemos, pude ouvir meus pais conversando. Não era hábito meu fazer isso, mas sentia que eu deveria ouvi-los.

- Já fazem três meses que esse rapaz está em nossa casa – disse meu pai – e por coincidência também fazem três meses que o príncipe de Wei está desaparecido.

- Será ele o príncipe? – perguntou mamãe com um tom assustado na voz.

- Teremos que colocá-lo contra a parede e arrancar dele toda a verdade. – disse meu pai.

Afastei-me e fiquei sentada no chão pensando sobre isso. Um medo passou sobre mim por cogitar essa hipótese: Eu tinha me apaixonado por um príncipe.

Fui até onde ele estava e para a minha surpresa ele estava deitado com os olhos abertos olhando para o teto.

- Jin – o chamei – precisamos conversar!

Ele virou a cabeça para mim, deu um suspiro e disse:

- Sim, precisamos.

O Milagre De Wei (Conto)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora