Capítulo 2

34K 1.4K 128
                                    

Alicia

— Querida, você se lembra de alguma coisa? — meu pai pergunta, se aproximando da cama.

— Papai, me lembro de conversar com a mamãe no celular, de entrar no ônibus, conversar com o Caio, e depois de ouvir um barulho... o caminhão. — Nessa hora começo a chorar, pois não consigo aguentar. — Papai, um caminhão veio em direção do ônibus, e depois tudo começou a girar. — Minha cabeça começa a doer, sinto uma pontada muito forte, parece que ela vai explodir.

— Acho melhor vocês terem essa conversa depois, ela está ficando muito nervosa. — O Dr. Rogério se aproxima, tentando impedir o meu pai de continuar.

— Não, eu quero saber. Papai, o que aconteceu?

— Querida, o motorista do caminhão perdeu o controle e invadiu a pista na contramão; o motorista do ônibus tentou desviar, mas perdeu o controle e acabou caindo em uma ribanceira e capotou algumas vezes. Um rapaz, que estava no carro logo atrás, viu o acidente e chamou o resgate. Você foi levada para um hospital onde recebeu os primeiros cuidados e depois te transferimos para cá — meu pai termina de falar com lágrimas nos olhos.

— Nós ficamos com muito medo de te perder, princesa — Marcelo fala, se aproximando, enquanto olho para a Elisa e me lembro.

— Quanto tempo faz que isso aconteceu?

— Você ficou em coma por seis meses, querida — minha mãe responde.

— Seis meses?

Não, era impossível! Isso não pode estar acontecendo, tento me levantar e não consigo porque minhas pernas não respondem.

— Por que não consigo mexer as minhas pernas? — pergunto olhando para o Dr. Rogério, que, através do olhar, pede permissão aos meus pais.

— Alícia, você sofreu uma fratura de uma vértebra da coluna espinhal. Vou tentar explicar de uma forma mais fácil para que você possa entender, querida. — Ele se senta na cadeira ao lado da minha cama e tenta me explicar. — O corpo humano possui duas medulas: a óssea e a espinhal. A medula espinhal nada mais é do que o prolongamento ou a continuação do cérebro, e está localizada dentro da coluna e tem a largura de um dedo mínimo. Ela é o elo entre o cérebro e o restante do corpo. É como se o cérebro fosse um aparelho telefônico e a medula fosse o fio. Para o bom funcionamento do telefone, o fio precisa estar em perfeitas condições. No seu caso, você teve muita sorte, pois ele permanece intacto; o que você fraturou foram as vértebras T1 e T2, porém as vértebras L1 e L2 estão comprimindo a medula, por isso a ligação entre o cérebro e o corpo não está sendo eficaz.

Percebo que todos estão me olhando esperando uma reação, mas a única coisa que consigo pensar é se serei capaz de andar novamente.

— Foi necessário colocarmos pinos metálicos para a sustentação da sua coluna e fazermos um enxerto em uma das vértebras da coluna por meio de uma raspagem em seu quadril.

— E o meu joelho?

— Realizamos uma cirurgia para a reconstrução do ligamento cruzado anterior, que vem a ser o ligamento mais importante do joelho, e tentamos devolver as funções do seu joelho mais próxima do normal possível, devido também ao tempo que você ficou em coma, porque as suas pernas se atrofiaram um pouco — ele respondeu com aquela voz calma de médico; não sei pra vocês, mas para mim ele falou grego.

— Eu vou voltar a andar? — pergunto segurando as lágrimas.

— Nós tentamos fazer todo o possível...

— Eu vou conseguir ANDAR? — grito desesperada.

— Não podemos saber ainda, porque você não está sentindo nada da cintura para baixo. Será necessário fazer mais alguns exames, mas, infelizmente, mesmo que você volte a andar, talvez nunca volte a dançar.

Dançar é a minha vida, é a única coisa que sei fazer, não posso perder a dança, simplesmente não posso. A dança e o Caio são os meus grandes amores.

Caio, é isso! Eu sei que se o Caio estiver comigo eu vou conseguir, eu vou provar para o Dr. Rogério e para a minha família que eu posso andar e dançar de novo.

— Mãe, eu preciso do Caio. Chama ele para mim, por favor.

— Querida, não sei como vou falar isso. — Minha mãe senta do meu lado e me abraça, ela dá um suspiro alto e, segurando a mão do meu pai, responde: — O Caio, infelizmente, não resistiu ao acidente; ele sofreu muitos ferimentos, e morreu antes mesmo de ser socorrido.

Meu mundo para, percebo que a minha mãe continua a falar alguma coisa, vejo todos no quarto me olhando, mas não consigo escutar nada, porque o que acabei de escutar fica se repetindo na minha cabeça: “O Caio, infelizmente, não resistiu ao acidente”. Ele morreu? Não, ele não pode ter morrido!

— Mamãe, o Caio não morreu, ele não morreu. Nós íamos nos casar, ele me pediu em casamento no ônibus vindo para cá. Ele não morreu, ele não pode ter me deixado.

Me desespero. Andar? Dançar? Nada disso importa, principalmente quando eu não tenho o Caio ao meu lado. A dor de cabeça, o fato de não mexer as pernas, aliás, nenhuma dor no mundo se compara com a dor que sinto no peito ao saber que o amor da minha vida morreu.

Nos Passos do Amor (Capítulos para degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora