Prólogo

55.8K 1.7K 132
                                    

PRÓLOGO

— Oi, mamãe. A apresentação foi linda, o público adorou. Fiquei tão animada, porque eu senti que foi a minha melhor apresentação. Agora nós estamos aqui esperando o ônibus sair. Não vejo a hora de chegar em casa, estou morrendo de saudade da senhora, do papai e dos meninos — falo praticamente sem respirar, não dando chance para a minha mãe responder.

Dona Carla, a minha mãe, além de ser a rainha da nossa casa, é elegante e educada. Apesar da idade, continua sendo uma mulher linda. Meu pai a conheceu em uma festa; assim que a viu, sentiu seu coração disparar e teve certeza de que ela seria a mulher da sua vida. Eles estão juntos há 40 anos e tiveram quatro filhos. Depois de tanto tempo, o amor entre eles é tão verdadeiro que ainda se parecem um casal de namorados.

— Oi para você também, querida. — Minha mãe dá risada, pois ela sabe o quanto eu fico animada com as minhas apresentações de balé, porque me incentivou desde pequena. Eu tinha apenas quatro anos quando ela me levou para assistir a uma apresentação; fiquei encantada e foi a única coisa que eu falei durante semanas até que ela me matriculou em uma escola. Hoje, com 23 anos, já sou formada em balé clássico. Deixei de ser a menininha miudinha, e meus irmãos não gostam nem um pouco disso porque me tornei uma morena de cabelos longos que chama a atenção. — Que bom que a apresentação foi linda. Todo mundo aqui está morrendo de saudades de você também.

— Oi, sogrinha querida! — Caio grita do meu lado. Ele é o meu amigo de infância, nos conhecemos no meu primeiro dia de aula. Dona Luiza, sua mãe, é a dona da escola onde faço balé. Nos tornamos amigos logo de cara, tempos depois nos apaixonamos e estamos juntos oficialmente há quase quatro anos. Ele e minha mãe se adoram.

— Manda um beijo para o meu genro querido, diz que estou fazendo o meu bolo de cenoura com chocolate, especialmente para ele.

Não falei que ela adora o Caio?!

— Mamãe, você sabe que eu não posso comer bolo de cenoura com chocolate por causa da minha dieta.

A pior parte em ser bailarina é essa dieta controlada que eu preciso fazer. Veja bem, eu sei que eu sou magra. Mesmo com o Caio me falando que, se eu ficar gordinha, ele ainda vai conseguir me levantar, eu prefiro não me arriscar.

— Querida, não vai ser um bolo de cenoura que vai te engordar.

Ai, ai, vai começar... O único momento que eu brigo com a minha mãe é sobre a dieta que eu faço. Ela insiste que não precisa, mas eu tenho que manter o meu peso, o que faz com que eu não coma coisas como: chocolate, tortas, sorvete, cachorro-quente... Então, eu nunca dei uma mordida sequer, porque eu controlo tudo o que como desde pequena.

— Mãezinha, já conversamos sobre isso, não posso abusar...

— Abusar como, Alícia? Você não come nada, ou pensa que eu não vejo você enrolando nas festas com um pedaço de bolo para comer? — minha mãe me interrompe.

Não disse que esse é o único motivo que nós discordamos.

— Alícia, temos que ir — chama Murilo, o meu professor de balé, na porta do ônibus.

— Mamãe, o Murilo está me chamando, porque o ônibus já vai sair. Daqui a pouco estou em casa, a senhora vai me buscar na escola, né? — pergunto, já correndo para o ônibus.

— Vou sim, querida. Não se preocupe que eu vou te buscar. Beijos, meu amor, eu te amo.

— Eu também te amo, mãezinha. Manda um beijo para todos em casa — respondo, já sentada no banco ao lado do Caio.

— Por que essa cara, baixinha? — Eu reviro os olhos.

Caio me chama assim desde que eu tinha 12 anos. Enquanto eu tinha 1,45m, ele já estava com 1,70m aos 15 anos. Ele sabe que eu não gosto desse apelido, por isso insiste. Hoje, eu tenho 1,60m e não mudei muita coisa, já ele está com 1,85m. Até gosto do apelido, pois quando estou em seus braços me sinto protegida, mas por nada nesse mundo falo para ele que eu gosto, porque isso o deixaria convencido.

— Porque minha mãe está implicando de novo com a minha dieta — respondo sem olhar para ele, já que ele concorda com ela.

— Concordo com ela.

Não disse?

— Você não precisa se privar de comer as coisas só para manter o peso, pois tenho certeza de que se você comesse um bolo inteiro, não iria engordar uma grama sequer; e se isso acontecer eu vou continuar te amando do mesmo jeito.

Gente, tem como não amar esse rapaz? O Caio é tudo o que eu poderia pedir em um namorado: alto, loiro, de olhos azuis... Tá bom, não briguem comigo, não amo o Caio só por isso, ele também é muito carinhoso e romântico. No final de semana passada, estávamos passeando e fomos abordados por duas crianças de rua pedindo dinheiro para comer, o Caio me surpreendeu quando levou as duas no McDonald’s que era ali perto e comprou um lanche com tudo o que tinha direito para cada uma, elas choraram de alegria e disseram que nunca comeram no McDonald’s, e que era o sonho delas. Naquela hora eu me apaixonei ainda mais por ele, e não tive mais dúvidas de que é com ele que eu quero passar todos os dias da minha vida. Se eu perdesse o Caio hoje, provavelmente eu não suportaria.

— Você é suspeito para falar, Caio. Aposto que se eu estivesse toda descabelada, remelenta, com duzentos quilos e com bafo, você continuaria me amando — respondo, dando risada.

— Não exagera, baixinha. Descabelada, remelenta e com duzentos quilos até vai; agora com bafo, ninguém merece — responde, gargalhando.

— Bobo. — Dou um soco no braço dele, rindo. Não adianta, não tem como ficar com raiva dele.

— Agora, falando sério, tem uma coisa que eu estou querendo falar com você. — Percebo que o Caio fala nervoso enquanto olha para fora da janela.

— O que foi? Você está me deixando preocupada. — Nunca o vi tão inseguro assim.

— Baixinha — Caio vira no banco para me olhar. —, você sabe o quanto é importante para mim, você é a minha melhor amiga, meu ombro, meu porto seguro e a mulher que eu amo.

Você está chorando ouvindo isso? Eu estou.

— Eu não consigo imaginar um dia sequer da minha vida sem você, mesmo que você esteja com um bafo de rato morto. — Ele ri.

 — Eu te amo até as estrelas e voltando, por isso eu quero saber se você aceita se casar comigo.

Gente, nessa hora eu já estava me acabando em lágrimas, só o Caio para ser tão fofo assim.

— É claro que eu aceito me casar com você, meu amor — respondo, me jogando em cima dele.

— Ufa, ainda bem! Achei que não ia aceitar, estava me preparando para tentar te convencer. — Ele ri.

— Ah é, e posso saber como você ia tentar me convencer — respondo sem conseguir parar de sorrir.

— Te dando muitos beijos, minha baixinha — responde, me beijando.

E é no meio desse beijo que eu me lembro que tem alguma coisa faltando.

— Caio, eu não vou ganhar nenhuma aliança? — pergunto fazendo bico.

— É claro, linda! — diz, tirando uma caixinha da mochila.

E enquanto ele está colocando a aliança na minha mão, eu escuto um barulho horrível de frenagem. Quando eu olho para frente, vejo um caminhão vindo na direção do ônibus, e tudo fica em câmera lenta. Sinto o Caio me abraçando e tentando me segurar; e sinto o ônibus girar, mas a última coisa que eu vejo antes de entrar na escuridão são aqueles olhos azuis que eu tanto amo.

Nos Passos do Amor (Capítulos para degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora