Mas porque ela confiou em mim, porque ela conversava e deixava eu continuar vendo a mulher linda que ela era. Eu deixei passar que... eu comecei a gostar dela e eu não sabia como que isso podia ter acontecido.

— Fugindo de alguma funcionária? — Iara perguntou, os braços cruzados na frente do seu corpo.

Limpando a garganta ajeitei meu cabelo e tentei tirar as gotículas por causa do calor que estava parando. Com uma risada, lembrei do motivo que eu estava ali, escorado em uma das prateleiras para que ninguém me chamasse para atender, para que não sentisse a falta de banho, o fedor de suor que ainda tinha cheiro de bebida e que eu sabia.

— Fugindo de ti, na verdade. — Falei, dando uma risada mais longa e cruzando meus braços como ela e, olhando meu relógio no processo, fingi surpresa. — E olha só, preciso ir embora.

Durante a minha fala, meu corpo foi um pouco para frente, um jeito que eu tinha de tentar aumentar a minha ironia e mostrar que eu realmente não queria participar daquela conversa. Mas dessa vez eu me arrependi, me sentindo um pouco tonto e no final não conseguindo virar no automático para continuar caminhando, o olhar de Iara fazendo eu ficar no lugar.

— Tu não trouxe ela naquele domingo. — falou, dando um passo para frente, — Zeus disse que tu parou de responder as mensagens dele, também. — colocou a cabeça para um lado e largou os braços, deixando eles caírem ao lado do seu corpo. — O que aconteceu?

Eu olhei pra ela com sobrancelhas cerradas, raiva, e sem a noção de esconder o meu estado. Dei um passo para frente, como ela, deixei meus braços caírem, exatamente igual. Perto o suficiente para que ela visse meus olhos e visse que tinha passado dos limites.

— Tu acha que eu fiz alguma coisa com ela? — Perguntei.

— Não, Aquiles. Mas alguma coisa aconteceu. 

— Eu não fiz nada com ela. — Falei, minha voz aumentando, descontrolada. — Eu não fiz nada e esse é o problema. Eu só consegui fazer merda, tá?!

— Aquiles, — Iara falou, trazendo a minha mente de volta e fazendo eu perceber que eu estava chorando. — O quanto tu bebeu? 

Suas sobrancelhas não estavam cerradas, o rosto estava indiferente, mas a voz dela mostrava preocupação. Passando a mão no meu rosto e no meu cabelo, senti como eu estava oleoso e me detestei. Senti nojo e dei razão a todos que se sentiam assim em relação a mim. 

— Nada desde ontem. — Olhando pra ela, me encostei de volta na prateleira, — e eu não posso beber. E eu não posso voltar pra casa. 

— Fique aqui. — Iara disse, a ordem nos movimentos das suas mãos. 

Eu estava me sentindo louco. Cada coisa que acontecia e eu escutava parecia me mostrar que a hora e todos os fatos dos meus dias a dias eram uma mentira e sentia como se o que me ajudaria a me acalmar era uma das únicas coisas que eu tinha noção de ser de verdade. 

Lívia era de verdade. O que eu e ela conversávamos era de verdade. Eu sentia que sim. 

— Aquiles. — Abri meus olhos quando escutei a voz do meu irmão, procurei por Aimée mas só achei Iara de novo. 

— Cadê minha cunhada? — Ri, limpando meu rosto. — Milagre vocês estarem separados. 

— Ela tá no apartamento cuidando da Maia. — Falou, e eu deixei o choro sair um pouco mais. Aimée tinha entrado em trabalho de parto e eu nem me lembrava quando. — Vamos lá, cara, tu precisa de um banho. 

Sentindo a mão dele no meu ombro, Apolo me guiou até a saída e Iara continuou do lado dele. Palavras foram trocadas, o nome de Zeus foi dito mais uma vez, e eu continuei ignorando o que eles estavam falando, tentando achar equilíbrio dentro da minha mente e falhando. 

Boa noite, Aquiles ✓Where stories live. Discover now