Tento pintar e começo a traçar na tela, mas nada me agrada. Descarto e tento outra vez.

A campainha soa e eu largo tudo para ir atender a porta. Minha mãe está com Luan e Luana. Era ela quem os trazia para casa. Ela normalmente ficava um pouco para tomar café da tarde e depois ia embora pouco antes de Gabriel chegar.

— Mãe um "miminho" brigou na aula, e queria pegar minha Peppa.

Luana entrou despejando um monte de informações desconexas, estava eufórica com a primeira semana de aula.

— Ah é? — Tento parecer surpresa. — E você contou pra prof?

— Ela contou e chorou, aí o Tales chorou também.

— Luan eu ia contar. — Ela xinga o irmão. — Chato!

— Calma meus amores, não precisam brigar por isso, os dois podem me contar tudo na hora do café, agora lavem as mãos e guardem as mochilas lá no quarto.

Eles saem correndo e gritando.

— Ganha quem chegar primeiro. — Luan a desafia quando já está a uma certa distância.

— Deixa eu nem queria correr. Para Luaaaan eu nem brincando.

As vozes se distanciam e suspiro feliz ao ter os dois de volta em casa.

— Oi mãe, entra, vou passar um café.

— Hoje não minha filha. Vou indo porque quero passar no mercado e comprar umas coisas ainda.

— Amanhã cedo vou fazer pão sovado. Aquele que você adora.

— Não mãe. A senhora tem que parar de ficar me trazendo essas coisas, desse jeito eu não consigo fazer dieta.

— Que dieta Maria Eduarda?! quase vendo seus ossos. — Ela exagera. — Tão magrinha que parece que já vai quebrar.

Se ela visse Bianca aí sim saberia o que é magreza. O fato de lembrar da garota querendo tocar Gabriel naquela noite me irritou.

Ai mãe... — Suspirei — Traz o pão se isso vai te fazer mais feliz, mas não traz todo, só um pedaço.

Satisfeita eu me despeço dela e vou até o quarto das crianças. Pego roupas no armário e dou banho em Luana primeiro e depois em Luan. Na hora do lanche Luana mastiga o bolo de cenoura e fala pelos cotovelos contando das flores que ajudaram a professora a plantar, as letras que tinham glitter, esmiuçando a aula inteira em uma longa conversa onde só ela falava.

— E você gostou da aula de hoje? — Perguntei a Luan que não tinha dito nada ainda.

— Legal.

Gêmeos. Ambos tinham os cabelos escuros e lisos, a pele clara como a minha, os olhos negros como os de Gabriel e rostinhos redondos e angelicais. Se fosse para colocar no papel o relato de Luana, daria uma redação de cinco folhas, já o do seu irmão era direto e se resumia a uma palavra de apenas duas sílabas "le-gal".

—Querem assistir Detona Ralph comigo? Estou precisando ficar coladinha em vocês para matar a saudade.

Os dois acenam com a cabeça e terminam de comer ansiosos pelo único filme que assistiam sem disputa.

Assim que terminaram foram para a sala e eu guardei o bolo no micro-ondas e os frios de volta a geladeira. Lavei a pouca louça e fui para a sala.

Na primeira meia hora de filme eles já estavam dormindo, exaustos da aula.

— Coisa linda vocês assim agarrados.

O elogio de Gabriel me surpreendeu. Já tinha passado um pouco do horário. Olhei as horas no receptor da televisão.

VIP : Liberdade Que Vicia (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora